OPINIÃO

Eles não me representam

Há cerca de duas semanas um grupo de aproximadamente 200 pessoas, autoproclamadas estudantes da Unicamp, mas que escondem suas identidades, (...) invadiu, depredou (...) a reitoria

Fabiano Lucchese*
correiopontocom@rac.com.br
24/10/2013 às 15:17.
Atualizado em 26/04/2022 às 07:09

Há cerca de duas semanas um grupo de aproximadamente 200 pessoas, autoproclamadas estudantes da Unicamp, mas que escondem suas identidades, não sendo possível verificar oficialmente esta condição, arrombou uma porta lateral, invadiu, depredou e “ocupou” as instalações onde funcionam a reitoria e alguns órgãos da administração superior da universidade. A inciativa foi, segundo eles próprios, decidida em uma “assembleia de estudantes” realizada na noite anterior da qual participaram aproximadamente 400 pessoas.Na tarde do dia 16/10, numa nova assembleia com quórum semelhante, decidiu-se, após inúmeras reuniões de “negociação” com a reitoria, pela desocupação do prédio. As partes envolvidas comemoram o resultado, bradando ser esta uma vitória da democracia.Para que um indivíduo seja considerado estudante da Unicamp, deve manter, no presente semestre, um vínculo acadêmico a algum de seus programas de graduação ou pós-graduação. Nesta condição, no segundo semestre do ano de 2012, encontravam-se cerca de 40.199 pessoas, sendo 18.026 no nível de graduação, 11.229 com vínculo regular à pós-graduação e 10.940 estudantes especiais.Assumamos inicialmente que os 400 participantes desta assembleia inicial sejam de fato alunos da Unicamp. Se considerarmos apenas o contingente de estudantes regulares, este grupo não representa sequer 1,4% do total. O grupo que de fato invadiu o prédio da reitoria constitui menos de 1% deste contingente, mesmo em suas versões mais generosas, pois os números noticiados de invasores oscilam entre 50 e 200.Não é apenas nesses ínfimos números que se reflete a falta de representatividade desta iniciativa. As premissas sobre as quais se apoiam suas reivindicações não foram discutidas com a comunidade estudantil e não há nenhum indício de que a maioria dos estudantes de fato discorda da presença policial nos campi.Em antecipação aos argumentos que certamente serão apresentados para confrontar estes números, nota-se que este pequeno grupo tem se valido de “moções” de apoio oriundas de entidades externas à Unicamp, e que, portanto, não possuem qualquer caráter representativo, para supostamente validar sua legitimidade como movimento. Além disso, apropriaram-se de decisões isoladas de algumas Faculdades e Institutos de paralisarem suas atividades por alguns dias como “provas” da aderência à sua agenda de reivindicações, quando não houve na verdade nenhuma decisão neste sentido.As assembleias realizadas após a ocupação não reuniram mais do que algumas centenas de indivíduos e nenhuma delas foi registrada ou publicada para que se pudesse verificar o teor do que foi discutido e decidido. Tampouco foram as longas reuniões de negociação com a reitoria, como se exigiria de qualquer reunião de caráter deliberativo.Por tudo isso, venho por meio desta expressar, na condição de aluno, o meu desacordo com essa iniciativa, suas reivindicações e seus meios. Esse pequeno grupo não me representa e nunca me representou em nenhum de seus atos. Mais ainda, não sou contra a presença de força policial nos campi, tal como acontece em qualquer espaço público de livre circulação, e acho que a Polícia Militar deve realizar rondas regulares até que eventuais soluções alternativas tenham sido transparentemente discutidas e aceitas pela maioria.Desde o começo deste ano sou integrante suplente do Conselho Universitário (Consu) da Unicamp, onde pude acompanhar algumas das discussões mais acaloradas deste ano. Depois de anos lutando contra o estigma de “encrenqueiro” a que frequentemente representantes discentes são tachados, fiquei chocado com a atuação dos demais representantes discentes no Consu, sobretudo daqueles ligados ao DCE. Seus apartes, que ao menos este ano nunca se apresentaram como propostas objetivas e por escrito, resumem-se frequentemente a acusações, sempre viciadas, ameaças e ofensas à reitoria ou ao próprio Conselho, por vezes classificado de “irresponsável”. Não obstante sua postura agressiva, este grupo se autodenomina “bancada discente”, como se se expressassem também em meu nome, a quem nunca consultaram.Dessa forma, para mim resta indiscutível que, não tendo sido utilizados a contento os canais oficiais de diálogo, quais sejam as cadeiras de representação discente no Conselho Universitário, e não tendo sido submetida ao Consu nenhuma proposta objetiva respaldada em fatos minimamente verificáveis, não se justifica em hipótese alguma a escolha por medidas drásticas que causem prejuízos ao patrimônio público e ao funcionamento da administração superior.Publiquei em minha página no Facebook (https://www.facebook.com/FabianoLucchese) a versão completa deste artigo.Fabiano Lucchese é estudante universitário e integrante suplente do Consu

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