Avaliação é a mais negativa desde 1993; 50% consideram o desempenho da atual legislatura ruim ou péssimo, e somente 9% avaliam o desempenho como ótimo ou bom
Manifestantes protestam em frente do Congresso Nacional: projetos como o da terceirização desagradam ( Agência Brasil )
A avaliação do Congresso Nacional menos de dois meses após a posse dos 511 deputados e 81 senadores é muito negativa, segundo pesquisa feita pelo Instituto Datafolha e divulgada no final de março: 50% consideram o desempenho dos deputados e senadores da atual legislatura ruim ou péssimo, e somente 9% avaliam o desempenho como ótimo ou bom. Para 36%, o trabalho dos congressistas é regular, e 5% não opinaram sobre o assunto. Na série histórica do Datafolha sobre o desempenho de deputados e senadores, o índice de reprovação atual só é comparável aos registrados em novembro de 1993 (56%) e dezembro do mesmo ano (55%), época em que denúncias contra congressistas deram origem ao episódio que ficou conhecido como “escândalo dos anões do orçamento”.Uma enquete similar feita pela reportagem do Correio nas ruas de Campinas também mostra a insatisfação de muitas pessoas quanto ao trabalho desempenhado pelos nossos deputados e senadores. A quantidade de pessoas que avaliaram o trabalho dos congressistas negativamente até superou o número revelado pela pesquisa do Datafolha. Na última semana, a reportagem entrevistou 100 pessoas, a maior parte na região central da cidade, e 72% avaliaram o desempenho dos parlamentares como ruim ou péssimo (50% deles acham péssimo). Apenas uma pessoa avaliou o trabalho no Congresso como ótimo e outras duas como bom. A enquete realizada pelo Correio não segue metodologia científica e foi feita de forma aleatória.Estudo do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), feito logo após a eleição de outubro do ano passado, mostra que o Congresso atual é pulverizado partidariamente, liberal economicamente, conservador socialmente, atrasado do ponto de vista dos direitos humanos e temerário em questões ambientais. Ainda segundo o estudo, apesar de ter havido uma renovação de 46,78% da Câmara dos Deputados e de 81,48% em relação às vagas em disputa no Senado, o que ocorreu foi uma circulação ou mudança de postos no poder, com a chegada ao Congresso de agentes públicos que já exerceram cargos em outras esferas, seja no Poder Executivo, como ex-governadores, ex-prefeitos, ex-secretários, seja no Legislativo, como ex-deputados estaduais, ex-senadores e ex-vereadores. Além disso, os parlamentares que nunca exerceram mandato ou cargo público limitam-se majoritariamente aos milionários ou endinheirados, aos religiosos, especialmente evangélicos, aos policiais e apresentadores de programas do chamado “mundo cão”, às celebridades e aos parentes, que contam com maior visibilidade na mídia, de acordo com o levantamento.PerfilA maior parte dos entrevistados pela enquete do Correio era formada por mulheres (60%), com idades entre 16 e 35 anos. Do total de pessoas que responderam a enquete, 44% eram eleitores do candidato a presidência e atual senador Aécio Neves. A maioria cursou até o ensino médio (49%) e outros 37% tem ensino fundamental completo.A indignação com sucessivos escândalos de corrupção e a falta de um trabalho mais focado e atuante em benefício dos brasileiros foram apontados pela maioria para justificar a baixa avaliação. Muitos enfatizaram que os políticos costumam prometer melhorias em diversos setores em épocas de eleição, mas quando conseguem se eleger acabam aprovando normas para benefício próprio ou para o próprio partido ou de aliados.Uma das ações mais lembradas e condenadas pelos participantes durante a enquete foi a aprovação, em fevereiro, do aumento das despesas para os parlamentares, incluindo verba de gabinete — usada para pagar funcionários —, auxílio-moradia e cota parlamentar, que inclui gastos com passagens aéreas e conta telefônica. Além do reajuste dos benefícios, eles aprovaram o direito de suas esposas utilizarem cota de passagens aéreas. A ação, da cota para esposas acabou cancelada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, após a indignação de milhares de pessoas, principalmente, por meio das redes sociais.“Foi uma vergonha. O País passando por um período extremamente preocupante na economia, pessoas perdendo emprego, preços de tudo mais caro e eles aumentando os valores de seus recebimentos, é uma falta de bom senso geral”, afirmou a professora Eduarda Reis, de 38 anos.“Em um ano onde todos nos estamos cortando gastos, a Câmara aprovar passagens para cônjuge, parece piada pronta e só mostra o quanto eles não se preocupam com as necessidades das pessoas que vivem neste País”, afirmou o analista sênior, Clayton Ferreira, de 28 anos.A universitária Maria Clara Pimentel, de 21 anos, ressaltou a falta de comprometimento dos congressistas. “Quando assumem suas cadeiras parece que se transportam para um mundo a parte. Não parece que vivem no mesmo País que nós, o povo”, afirmou.Pensamento superficialA indignação é geral, segundo o cientista político e professor da PUC-Campinas Pedro Rocha Lemos. Para ele, o momento pode ser explicado pela desconfiança histórica no Brasil com os políticos. Ele explicou que quando se fala em política, imediatamente se faz uma analogia de um ambiente de aproveitamento pessoal. “Isso é recorrente no Brasil há muito tempo. As pessoas captam de uma maneira muito forte informações, porém, sem se aprofundar no assunto. Até por certo comodismo. Tudo o que eles veem na mídia, principalmente o que for negativo, assimilam de maneira mais fácil”, explicou o cientista político. Para ele, o País está passando por uma forte crise política.Lemos afirma que existem vários projetos em debate no Congresso e que levam a resultados positivos, mas que acabam sendo encobertos pela divulgação dos escândalos políticos, que constantemente ganham mais atenção da mídia. “Porém existe também uma crise de representação muito forte, além de uma crise de partidos políticos. As pessoas já não se identificam mais com os partidos atuantes. Não existe mais uma conexão entre indivíduo e partido.”“Mas, não podemos esquecer que quem elege os parlamentares são as mesmas pessoas que agora julgam de forma severa o trabalho de seus candidatos. Temos infelizmente um Congresso com eleitos que não representam as pessoas ou ideais. Estão lá por possuírem nomes fortes ou por serem pessoas conhecidas. Porém, pouco fazem de relevante. Os brasileiros ainda não votam conscientemente. Na urna, eles lembram de tal pessoa e votam, por puro comodismo de buscar informações sobre atuação. O Congresso é o espelho da nossa própria população”, afirmou.O especialista acredita, que os congressistas também acabam gerando o descrédito na população. “Entender política não é fácil. Existe um problema que também está na população. É preciso de muita educação no sentido de cidadania, mas isso não invalida a pesquisa que captou a angústia e o descrédito com a comunidade política que deveria dar exemplos. Não pode fazer, em momentos de crise projetos corporativistas, que ajudem a si próprio. Eles são os que têm mais responsabilidade. O bom exemplo tem que ser dado”, enfatizou. O especialista ainda chamou atenção a mais um fato corporativista dos congressistas. “Há um projeto de construção de um novo prédio anexo à Câmara dos Deputados equipado com um shopping para dar mais conforto a parlamentares e servidores. Esse não é momento de fazer uma coisa dessas”, alertou.O novo prédio anexo é uma das promessas de campanha do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ele será construído na área H da Praça dos Três Poderes e tem área estimada em 36 mil m². Segundo informações da Câmara, o projeto de arquitetura já está pronto e este ano serão gastos pelo menos R$ 5 milhões para a contratação de projetos complementares, como os de fundação, instalações gerais e engenharia.No total, entretanto, a previsão é de que sejam gastos até R$ 1 bilhão com a construção do Anexo V e na ampliação projetada para o Anexo IV, outra grande obra prevista pelo Legislativo. Tudo deve ficar pronto em 2017.ENQUETE SEXOHomens: 41Mulheres: 63IDADE 15 a 25 anos: 31 26 a 35 anos: 3036 a 45 anos: 1646 a 55 anos: 12 acima de 56 anos: 14 AVALIAÇÃOÓtimo: 01 Bom: 02Regular: 26 Ruim: 23 Péssimo: 52 ESCOLARIDADEFundamental: 14 Médio: 51 Superior: 39CANDIDATO 2º TURNO DAS ELEIÇÕES 2014Dilma: 31 Aécio: 46 Justificou: 7 Nulo: 20