SE VIRA NOS TRINTA!

‘Efeito PIX’ dificulta o troco em dinheiro vivo aos clientes

Para contornar a situação, comerciantes apelam a vizinhos para obter moedas

Bianca Velloso/ [email protected]
09/07/2023 às 10:12.
Atualizado em 09/07/2023 às 10:12
Garçom entrega nota de R$ 20 de cliente ao caixa, que encontra dificuldade para voltar troco em moeda, devido à falta de dinheiro em espécie, após o advento das novas tecnologias de meios de pagamento, como o PIX (Alessandro Torres)

Garçom entrega nota de R$ 20 de cliente ao caixa, que encontra dificuldade para voltar troco em moeda, devido à falta de dinheiro em espécie, após o advento das novas tecnologias de meios de pagamento, como o PIX (Alessandro Torres)

O uso dos meios de pagamento digitais está em constante expansão, o que tem reduzido significativamente a circulação de dinheiro em espécie nos caixas das lojas. Isso tem gerado problemas na hora de dar troco aos clientes que ainda preferem essa forma de pagamento. Em Campinas, as tradicionais balinhas já ficaram para trás. Os comerciantes estão se esforçando para encontrar moedas em estabelecimentos vizinhos e até mesmo oferecendo troco por meio do PIX, que vem ganhando espaço desde sua criação em 2020. 

O coordenador do curso de Economia das Faculdades de Campinas (Facamp), professor José Augusto Gaspar Ruas, explica que o PIX reúne as vantagens dos métodos de pagamento anteriores, como cartão e até mesmo cheque, pois resolve o problema de precisar carregar grandes quantias de dinheiro para fazer transações. Além disso, o PIX não tem custos para os comerciantes, já que não há taxas administrativas ou juros a serem pagos.

Em 2020, ano de criação do PIX, havia cerca de 36,396 milhões de cédulas e moedas em circulação. Em 2021, apenas um ano após o lançamento do PIX, esse número diminuiu para 36,294 milhões. Já em 2022, houve um aumento para 37,158 milhões de cédulas e moedas. Esses dados foram divulgados pelo Banco Central do Brasil e elaborados pelo Departamento de Economia da Associação Comercial de Campinas (Acic).

Apesar de considerar o PIX como uma forma de pagamento importante, devido à sua participação significativa nas vendas, o professor Ruas acredita que ele não vai substituir completamente as outras formas de pagamento. "O cartão de crédito ainda continuará existindo, pois oferece crédito. Embora seja possível associar o PIX ao crédito em uma conta corrente, em geral, ele possui juros menores que o cartão. Acredito que o cartão terá mais sobrevida do que outras formas, como o cartão de débito. No entanto, é um mercado pressionado, que pode ser ocupado pelo PIX ou por uma combinação de métodos. Portanto, as operadoras de cartão perderão receita a médio ou longo prazo. Quem ganha receita são as operadoras de internet", observou o especialista, destacando que o acesso à internet é necessário para realizar transações via PIX, o que pode ser um problema, uma vez que nem todas as pessoas possuem celular ou acesso móvel à internet.

"Na minha opinião, a tendência é que haja uma segregação do mercado. Em mercados onde há pessoas com menos conhecimento, o dinheiro físico continuará circulando. Nos mercados onde a segurança é mais importante e urbanizados, o PIX vai ganhando espaço gradualmente e o dinheiro físico vai perdendo terreno. O dinheiro não desaparecerá a curto prazo, mas é possível que isso aconteça a longo prazo", concluiu o professor.

A gerente de vendas de uma loja de roupas, Thaina Cintra, 35 anos, afirmou que tem a impressão de que o dinheiro está desaparecendo cada vez mais. "O PIX está sendo muito mais utilizado, principalmente em comparação com o cartão, para fazer pagamentos. Parece que o dinheiro está sendo abolido nos dias de hoje. Ele não está circulando tanto. A maioria das pessoas não quer usar dinheiro, elas preferem o PIX, principalmente pela comodidade e facilidade. Atualmente, em média, 80% das nossas vendas são feitas por PIX e cartão." Thaina acredita que a maioria das pessoas tem medo de carregar dinheiro em espécie devido a assaltos.

Proprietária de uma loja de sobremesas, Cathiely Cristina de Souza, 26 anos, prefere que os clientes paguem por PIX em vez de cartão. "Quando não tenho troco, peço a chave PIX do cliente para finalizar a venda. Faço o troco por meio do PIX mesmo."

Angelina de Oliveira, 65 anos, caixa de uma padaria, confessou que não oferece doces como troco para os clientes. "Eu só uso dinheiro para dar troco, não utilizo outras formas de pagamento. Não ofereço balas." Angelina afirmou que é um desafio ter moedas e notas de menor valor, pois a maioria dos pagamentos é feita por PIX e cartões, seja de crédito, débito ou vale-alimentação.

Natália Rodrigues Camargo, 26 anos, caixa de uma loja de acessórios para celulares, afirmou que a maioria dos pagamentos é feita por PIX e cartão. "Não temos muitas cédulas. Quando um cliente paga em dinheiro, temos dificuldade em encontrar troco. Pedimos ajuda às bancas e lojas vizinhas. Às vezes, oferecemos outros produtos para ajudar no troco, mas nem todos aceitam. Nesses casos, temos que procurar o troco."

Para contornar essa dificuldade, Camila Aparecida Cardoso de Sá, 33 anos, tenta convencer o cliente a comprar outro produto. Quando não consegue, ela conta com a ajuda de lojistas vizinhos. "Se não temos troco, pedimos ajuda a outros comerciantes para ver se têm troco para ajudar a gente. Não oferecemos balas como troco."

Camila, que trabalha há sete anos como caixa, disse que essa dificuldade é recorrente. "Ultimamente, as pessoas estão usando mais PIX ou cartão de crédito. Acabo ficando com menos dinheiro no caixa. Às vezes, quando as pessoas pagam com notas, ficamos sem troco. Ou então elas pagam com notas de valor alto, o que dificulta dar troco."

Andrea Vargas, 40 anos, assessora de imprensa, revelou que faz muito tempo que não utiliza dinheiro em espécie. "Já faz muito tempo que uso outras formas de pagamento, como cartão de crédito, pagamentos por aplicativos e, recentemente, o PIX. Normalmente, utilizo o PIX quando há desconto para essa forma de pagamento. Fora isso, prefiro pagar com cartão, pois acho que expõe menos meus dados pessoais."

Andrea disse que já utilizou o PIX quando o estabelecimento não tinha troco. "A dificuldade de troco no comércio sempre existiu. Lembro de trabalhar em um shopping e precisarmos pedir troco em outras lojas. Mas com certeza hoje em dia a situação está pior. Até mesmo doações em semáforos ou caixinhas para guardadores de carros são feitas por meio do PIX", observou a assessora de imprensa.

Isabela Nicomedes, estudante de 20 anos, utiliza dinheiro em espécie apenas para carregar seu passe de ônibus universitário. "Nesse caso, preciso entrar em contato com terceiros para conseguir dinheiro físico." Para as demais atividades, Isabela opta por outras formas de pagamento. "No meu dia a dia, não uso dinheiro físico por causa da praticidade das outras opções. Prefiro sempre utilizar cartões bancários pela facilidade de pagamento e segurança. Nas compras rotineiras, prefiro usar cartão ou PIX quando possível, devido à proteção contra roubo e fraudes. As transações financeiras são mais seguras devido às medidas burocráticas", comentou a estudante, que também é estagiária.

Por outro lado, Caio Tavares, estudante de 20 anos, evita usar dinheiro em espécie. Tavares prefere utilizar cartão e PIX por medo de os comerciantes não terem troco, além do receio de perder o dinheiro físico. "Também não gosto de carregar várias notas. Seria necessário ter mais bolsos e divisórias." Tavares utiliza o PIX para pagar amigos, taxas relacionadas ao time de basquete universitário do qual faz parte, cartão da faculdade e compras online. "Para as demais compras, especialmente mercado e transporte, utilizo cartão." 

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por