EDITORIAL

Editorial: 'O crematório municipal deve ser para todos'

A diferença está na forma como o poder público encara a morte: para alguns, a despedida digna é um direito; para outros, um negócio lucrativo

Correio Popular
08/03/2021 às 11:07.
Atualizado em 22/03/2022 às 03:02

Além de causar uma dor imensurável, a morte também implica altos gastos a quem fica. No caso de quem opta por cremar os seus entes queridos, em vez de enterrá-los, os preços podem atingir patamares proibitivos, sobretudo às famílias de baixa renda.

O leitor poderá acessar nesta edição do Correio Popular um levantamento feito por nossa reportagem que revela: morrer em Campinas pode ser uma experiência bem custosa, levando-se em conta a comparação com outras cidades da região.

No Crematório Municipal, localizado no Cemitério dos Amarais, o preço da cremação é de R$ 3.554. Uma diferença de mais de R$ 1 mil em relação a Piracicaba, onde o familiar do morto tem que desembolsar R$ 2.340 na hora do adeus.

A SETEC, autarquia responsável pelos procedimentos no município, reconheceu que o valor cobrado está bem acima da inflação e prometeu analisar a possibilidade de reduzir os custos da cremação em janeiro de 2022. Não há, porém, nenhuma garantia de que isso virá a ocorrer, mantendo a população refém de preços extorsivos.

A cidade de Salvador, na Bahia, oferece cremação gratuita à pessoas de todas as classes sociais. Em São Paulo pode-se cremar a preços simbólicos na Vila Alpina. Outras capitais brasileiras reservam uma porcentagem deste serviço às pessoas sem condições financeiras. O que há em comum nestes casos é a forma como o poder público encara a morte: para alguns, a despedida digna é um direito; para outros, um negócio lucrativo.

É natural que os municípios tenham orçamentos e demandas diferentes. Nem sempre, como gostaríamos, é possível que se ofereça serviços gratuitos desta natureza a todos os cidadãos. É imperante, no entanto, que a Prefeitura Municipal busque meios de democratizar o acesso ao seu crematório.

Se a questão humanitária não for o bastante, que se considere ainda a questão ambiental. Comprovadamente, o enterro tradicional pode contaminar solos e rios, especialmente quando os cuidados necessários com o sepultamento são negligenciados. Também por este motivo, a procura pela cremação tem crescido a cada ano, conforme o Sindicato dos Crematórios e Cemitérios Particulares do Brasil.

A revelação do sindicato privado aponta que há um mercado crescente — e, portanto, concorrência — o que corrobora a necessidade de um serviço público de cremação realmente acessível em Campinas.

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