A Prefeitura e a comunidade Jongo Dito Ribeiro, por enquanto, apontam a responsabilidade uma para outra.
Os atos de intolerância religiosa são conhecidos pelo brasileiro. Apesar da lei que os definem como crime, desde 1940, nos últimos anos as agressões e ofensas às crenças de raízes distintas das do cristianismo adquiriram amplitude que deveria preocupar as autoridades públicas.
Há duas semanas, a comunidade Jongo Dito Ribeiro encontrou depredado o patrimônio preservado na Casa de Cultura Fazenda Roseira. Ali, os bens de matriz africana, de elevado valor cultural e religioso, foram alvos do vilipêndio, do ódio alimentado pelo preconceito e pela adesão a ideologias incentivadas pelo fanatismo.
O fato reacendeu a discussão sobre quem deveria cuidar da proteção daquele patrimônio material e imaterial. A Prefeitura e a comunidade Jongo Dito Ribeiro, por enquanto, apontam a responsabilidade uma para outra.
Ao se solidarizar com a instituição frente ao vandalismo, a Secretaria Municipal de Cultura afirma a responsabilidade da Jongo Dito Ribeiro na “gestão e manutenção” do local. Ora, isso pode significar muita coisa, menos esclarecer como a Prefeitura e o Estado se relacionam com as entidades e organizações consideradas de interesse público no tocante à segurança. A Secretaria de Cultura informou que a ampla área cedida pelo Município para a comunidade é para ser explorada comercialmente e assim poder arcar com os gastos com a segurança. E a Secretaria de Cooperação nos Assuntos de Segurança Pública anunciou que irá intensificar as rondas naquela região.
Ou seja, verifica-se um hiato entre as declarações das duas secretarias. Ao responder que vai ampliar a atenção e a presença das viaturas na região da Fazenda Roseira, a Secretaria de Cooperação nos Assuntos de Segurança reconhece a fragilidade do local. Ao mesmo tempo, a Secretaria de Cultura diz que a responsabilidade desse ônus é da comunidade Jongo Dito Ribeiro.
Contudo, em 2017 e 2018, a Fazenda Roseira dispunha de segurança remunerada pela Prefeitura Municipal. Está na hora da Prefeitura reorganizar ações para responder a tais demandas, em especial na proteção da história e da cultura de matrizes africanas, cuja contribuição com a formação e o desenvolvimento de Campinas é inconteste.
O prefeito Dário Saadi inicia o governo com dedicada atenção aos projetos de desenvolvimento urbanístico e econômico da cidade. Não deve desprezar, portanto, a elaboração de planos para dar mais eficácia à defesa do patrimônio histórico e cultural do Município.