Que a morte precoce de Ana Clara sirva de alerta aos gestores públicos quanto à necessidade de acelerar o ritmo da vacinação e repensar o retorno às aulas sob regras mais rígidas
Morreu ontem, vítima de covid-19, Ana Clara Macedo, aluna da Escola Estadual Rachel de Queiroz, em Campinas. Ela tinha apenas 13 anos. Para as frias estatísticas, sua morte representa um número a mais na soma dos 250 mil mortos confirmados no Brasil até o momento. Para seus pais e professores, no entanto, Ana Clara era alguém cujo valor não pode ser mensurado em palavras. Sua breve vida poderia ter sido poupada se a vacinação estivesse em estágio avançado em Campinas? Acreditamos que sim.
Desde o início da pandemia, o Correio Popular tem se posicionado de modo firme contra elucubrações negacionistas e contra a naturalização desta que já pode ser considerada a maior tragédia humana do século XXI. Compreendemos os efeitos nocivos sobre a educação das crianças e dos adolescentes causados pelo fechamento prolongado das escolas, mas o retorno às aulas não deveria ser aventado antes da vacinação de professores, funcionários e alunos da rede pública e particular.
Segundo o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), desde o início da pandemia já foram registrados quase 1 mil professores contaminados pelo novo coronavírus entre profissionais que lecionam em 523 escolas do Estado. O aumento de casos é atribuído ao retorno às aulas presenciais, decretado pelo governo estadual no dia 8 de fevereiro. Não à toa começam a surgir movimentos nacionais para assegurar a priorização da vacinação dos profissionais da Educação, inclusive no Congresso Nacional, com a iniciativa da Frente Parlamentar Mista da Educação, que lançou recentemente o movimento “Vacinação Já!”.
A jovem Ana Clara não estava indo à escola. O vírus que lhe ceifou a vida não foi adquirido em sala de aula. Isso não significa, porém, que a estudante não poderia ter adquirido e transmitido o vírus no ambiente escolar, ampliando a dimensão da tragédia, como tem acontecido em Campinas desde que o retorno às aulas foi autorizado.
Atualmente, o Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) monitora 37 escolas com casos confirmados ou suspeitos de covid-19. São 18 públicas e 19 privadas, sendo que um surto foi confirmado no Colégio Jaime Kratz, que teve 39 professores e oito alunos infectados. Que a morte precoce de Ana Clara sirva de alerta aos gestores públicos quanto à necessidade de acelerar o ritmo da vacinação e repensar o retorno às aulas sob regras mais rígidas.
Os desafios para a reabertura das escolas persistem. Ninguém quer que as aulas presenciais fiquem mais um ano suspensas, mas é preciso que o tema seja tratado como prioridade política.