O fato de Campinas seguir atraindo investidores em meio à crise econômica é bem revelador da pujança do município
No início deste mês, o prefeito de Campinas, Dário Saadi, em entrevista exclusiva ao Correio Popular, revelou-se “surpreso” com as propostas de investimento imobiliário na cidade. E isso na pior fase da pandemia, quando o impacto negativo sobre a economia pode ser sentido em quase todos os setores — o faturamento do comércio, por exemplo, registrou queda de 3,9% em janeiro de 2021 em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a Associação Comercial de Campinas (Acic).
Embora tenha admitido que a retomada econômica não será fácil, Dário se disse confiante diante das oportunidades que “serão geradas pelos grandes empreendimentos imobiliários” interessados em Campinas.
Nas palavras do prefeito, até R$ 550 milhões seriam investidos na cidade nos próximos quatro anos. Em uma perspectiva mais otimista, os investimentos somados poderiam chegar a R$ 1 bilhão.
Apesar de promissor, o anúncio traz um dado preocupante: enquanto estariam assegurados investimentos de grande porte voltados para as classes A e B, famílias que não possuem renda e que precisam do financiamento total do governo para morar, não seriam contempladas. A crise é a justificativa dada, ainda que estudos das próprias empresas mostram que Campinas tem potencial de acolher investimentos voltados para as classes C e D. Sem uma política habitacional que consiga reduzir o déficit de moradias populares na cidade, a retomada econômica será pela metade (dados atualizados da Cohab revelam que 41 mil pessoas aguardam na fila da Prefeitura para obter a sua casa).
Apesar dessa disparidade, o fato de Campinas seguir atraindo investidores em meio à crise econômica, é bem revelador da pujança do município — e este potencial não pode ser desperdiçado. É importante que a Prefeitura Municipal avance no controle da covid-19 por meio da vacinação em massa, evitando que o agravamento da pandemia afugente possíveis investidores. Qualquer chance de retomada passará necessariamente por essa questão de saúde pública.
É preciso dizer ainda que, sem a retomada no plano macroeconômico, ou seja, sem que o País resgate a sua capacidade de investimento e geração de empregos, os efeitos da crise seguirão sendo sentidos em terras campineiras, apesar da posição privilegiada que a cidade ocupa em relação à maioria dos municípios brasileiros. Cabe ao prefeito Dário buscar uma saída sob este entendimento.