Para os economistas, a crise política interna e a guerra no Leste europeu são as causas principais para a frustração na retomada da economia (Gustavo Tilio)
A esperada retomada econômica no pós-pandemia não se consolidou em Campinas e região neste primeiro trimestre do ano. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram muita instabilidade, inclusive com reflexos no salário de admissão, que continua em queda. Apesar do saldo de vagas no mês de março deste ano ter apresentado um melhor desempenho em relação a março de 2021, o quadro geral ainda é desanimador: a situação piorou mais um pouco em relação a fevereiro. O mesmo se verifica na análise entre os três primeiros meses deste ano, com o mesmo período do ano passado. Especialistas culpam a alta da inflação e a Guerra da Ucrânia como fatores que impactam a atividade econômica.
Em Campinas foram registradas 18.955 contratações e 17.328 demissões em março, segundo o Caged. Isso representa um saldo positivo de 1.627 postos de trabalho, um desempenho quase 26% maior em comparação ao mesmo período do ano passado, quando o saldo entre admissões e demissões ficou em 1.044. O destaque positivo ficou por conta do setor de serviços, que criou 1.468 postos de trabalho este ano. A indústria gerou 204 vagas, comércio, 168, construção civil, 138, e segmento agropecuário, 15.
Apesar da melhora na comparação entre março deste ano e 2021, a notícia não é para ser comemorada, porque a situação piorou em relação a fevereiro, quando o resultado foi superior, ficando em 2.454 vagas de saldo positivo. O desempenho no primeiro trimestre também não reflete a esperada retomada da economia. A geração de novos postos de trabalho em Campinas, incluindo todos os setores, ficou abaixo do registrado em 2021. Entre janeiro e março deste ano foi registrado um saldo positivo de 5.332 vagas, diante de um saldo de 7.190 postos de trabalho apurado no mesmo período do ano passado.
RMC
Quando observado o desempenho do saldo do emprego na Região Metropolitana de Campinas (RMC), o mês de março apresenta variação negativa em comparação com o mesmo período do ano passado. Somados os setores de serviços, construção civil, comércio, indústria e agropecuária, o saldo foi de 5.106 empregos de carteiras assinadas gerados este ano. Em março de 2021, o saldo foi de 5.379 novas vagas. Os dados do Caged mostraram também queda no saldo do emprego no mês de março deste ano na RMC em relação ao mês anterior. Em fevereiro de 2022, o saldo de novas vagas na RMC foi de 8.521. A agropecuária e o setor de serviços expandiram, enquanto a indústria, comércio e construção civil regrediram frente a março de 2021.
Segundo o economista e diretor da Associação Comercial e Industrial de Campinas, Laerte Martins, fatores como a inflação, baixa qualificação e os efeitos da tensão no Leste europeu são apontados como os principais impactos no desempenho do saldo do emprego registrado na cidade no mês de março. O economista destaca, ainda, que o salário médio de admissão apresentou uma redução de 2,03% no período, sobre o salário de fevereiro de 2022 (R$ 1.782,57 contra R$ 1.821,29). "A qualificação do emprego também permanece abaixo das especificações e necessidades da mão de obra procurada pelas empresas", disse.
Segundo o economista, a perda no poder de compra do consumidor é uma das explicações para esse desempenho abaixo do esperado. "Era esperado uma expansão positiva para o trimestre, mas isso não aconteceu. O crescimento está em queda. Quanto menos pessoas consumindo, todos os setores acabam sendo impactados", disse. Para os próximos meses, o cenário quanto a uma eventual expansão da mão de obra é de indefinições, ressalta o especialista. "Não sabemos como vai se comportar ainda a guerra entre Rússia e Ucrânia, que já mostra um impacto negativo no crescimento de mais postos de trabalho, na nossa região e no país", analisa Martins.
O professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), José Cândido Ferreira, admite que a guerra é um problema que atinge a economia mundial. Entretanto, ele pondera que esse não é o único fator. Além do conflito, o economista aponta a crise política interna, que, na sua visão, é um sério obstáculo à retomada do crescimento. "O comportamento do governo torna tudo muito instável, inviabilizando os investimentos e, por consequência, o crescimento econômico", disse.
O professor avalia ainda que, apesar do contexto político, uma vez que a pandemia seja totalmente superada, o que ainda não é uma realidade concreta, a expectativa é de crescimento econômico robusto. "Mesmo porque, houve recessão em 2020 e 2021 e o crescimento não foi o suficiente para recuperar aquilo que o país perdeu desde 2015", conclui.