Esta é nova vez que a Igreja elege as questões ambientais como eixo central das ações
Segundo a Igreja Católica, o objetivo geral da campanha é promover, em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra (Rodrigo Zanotto)
A Campanha da Fraternidade (CF) deste ano traz uma reflexão sobre a "crise socioambiental" que atravessa a humanidade. Com o tema "Fraternidade e Ecologia Integral", a campanha foca as mudanças climáticas, suas consequências e pretende comover religiosos de todas as crenças para fazer com que todos mudem a partir de pequenas atitudes diárias, para alcançar uma transformação mundial que preserve as próximas gerações. A CF, organizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), será lançada na próxima quarta-feira de Cinzas, em Brasília, às 10h. Em Campinas, o lançamento ocorrerá no dia 5, em todas as paróquias da Igreja Católica, e no dia 10, às 17h, na Câmara Municipal.
O lema bíblico da campanha foi extraído do livro de Gênesis: "Deus viu que tudo era muito bom". Segundo o diácono permanente da Comissão da Campanha da Fraternidade na Arquidiocese de Campinas, Sebastião Roberto de Abreu, esta é a nona vez que a CNBB escolhe o tema ecologia para trabalhar durante o ano. Os temas definidos sempre têm elevada relevância. Segundo Abreu, a ecologia está ligada à fraternidade, que inclui a terra, a água e os biomas brasileiros. "Neste ano, a campanha tem uma dimensão de ecologia integral, que abrange o processo da criação, porque na primeira página da Bíblia, quando Deus criou o mundo, no sexto dia da criação, Ele criou os animais domésticos, animais selvagens, os peixes, os mares, as aves, o céu, e criou o ser humano, à sua imagem e semelhança. Deus criou homem e mulher e os colocou no paraíso, no jardim do Éden, para cultivar e guardar a terra. Cultivar e guardar toda a criação. Então, tinha uma dimensão do cuidado", explicou.
Entretanto, o que era para ser harmonioso acabou passando por transformações com a entrada do pecado no mundo e os homens começaram a sofrer dores, devido à desobediência. Ou seja, todas as atitudes dos homens sem reflexão e sem o temor podem levar a sérias consequências. "Com o avanço da industrialização, a partir do século 18, o cuidado com o meio ambiente foi sendo prejudicado. Atualmente, nós estamos percebendo uma crise climática muito grande. Veja o ano passado, em maio, uma enchente terrível no Sul. Depois, as queimadas, em grande parte do país. Agora, de novo, enchente no final do ano, um desequilíbrio total. Ultimamente, a gente percebeu que cada dia está mais quente, mais calor. Então, a fraternidade da ecologia integral é para ajudar a gente a se conscientizar que é preciso tomar uma atitude de cuidado com o meio ambiente, pois muitas espécies estão sendo extintas e até o ser humano começa a ter dificuldade para sobreviver num clima tão desequilibrado como está e isso não é o plano de Deus", enfatizou Abreu.
De acordo com o diácono, a campanha tem a missão de promover um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da terra. "A terra está clamando. A terra queima, inunda porque está tendo desequilíbrio no clima. E também o clamor dos pobres, porque são os que mais sofrem. Esse objetivo geral da campanha se define depois em 11 objetivos específicos que são propostas de ação para essa mudança climática", esclareceu.
Para Abreu, as atitudes para mudança podem começar de forma pessoal e isolada, como não descartar copos plásticos e outros objetos em qualquer local, indicar para representantes de bairro ou Poder Público áreas de degradação, com proposta de reflorestamento, não descartar móveis nas proximidades de rios, entre outros. "Já o Poder Público deve repensar em melhorar o transporte urbano para que as pessoas usem ônibus ao invés de carro. Muitas das vezes vemos uma pessoa sozinha em um carro indo trabalhar. Mas ela optou pelo carro para chegar mais rápido, pois vê o transporte público muito demorado. Com um transporte público bom, deixamos de ir de carro e contribuímos para melhorar o trânsito, redução da poluição, entre outros ganhos", observou.
Segundo Abreu, o trabalho de conscientização vai além das ações da Igreja com os fiéis. É um trabalho que envolve toda a sociedade. De acordo com ele, a campanha vem sendo trabalhada por ambientalistas e cientistas que informam sobre a questão climática e fazem alertas sobre o efeito estufa e o aquecimento global. "Teremos no Brasil, esse ano a COP30, que vai acontecer em Belém do Pará, de 10 a 21 de novembro, e vai reunir os líderes de todo o mundo para discutir e negociar ações relacionadas ao enfrentamento das mudanças climáticas. Então, a campanha quer ajudar a conscientizar a população, contribuindo nessa dimensão, criando uma cultura do cuidado com a terra, com o meio ambiente", enfatizou.
Serviço
Dia 5/3: A Catedral terá vários horários de missa durante o dia, mas a abertura da Campanha ocorrerá às 12h15. Nas demais paróquias, as missas serão à noite, em diferentes horários: 19h, 19h30 e 20h.
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