INFRAESTRUTURA

Duplicação da Miguel Melhado avança e muda cenário local

De acordo com o DER, 12% do projeto já foram executados e cronograma dos trabalhados está sendo cumprido

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
16/08/2023 às 08:49.
Atualizado em 16/08/2023 às 08:49
Reivindicadas há décadas pelos moradores dos bairros próximos, as obras de duplicação e modernização da Rodovia Miguel Melhado estão dentro do cronograma estabelecido, informa o DER (Rodrigo Zanotto)

Reivindicadas há décadas pelos moradores dos bairros próximos, as obras de duplicação e modernização da Rodovia Miguel Melhado estão dentro do cronograma estabelecido, informa o DER (Rodrigo Zanotto)

As obras de duplicação da Rodovia Engenheiro Miguel Melhado Campos (SP-324) avançam e mu-dam o cenário dos bairros atingidos, como os jardins Campo Belo, São Domingos e Marisa. Inicia-dos há dez meses, os trabalhos estão sendo executados em várias frentes, em estágios diferentes, como asfaltamento das vias marginais, montagem do "esqueleto" do viaduto das pistas elevadas, definição de desvios e realização de serviços terraplanagem, entre outros.

De acordo com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), responsável pela obra, 12% dos projeto foram executados, "conforme o cronograma estabelecido, que leva em conta as dificuldades técnicas existentes". O órgão informou que mantém a previsão de conclusão da duplicação no se-gundo semestre de 2024. O empreendimento teve início do final de setembro passado, com a dupli-cação sendo executada em um trecho de 3,8 quilômetros de extensão entre o Anel Viário José Roberto Magalhães Teixeira e a Rodovia Santos Dumont, nas proximidades do Aeroporto Internacio-nal de Viracopos.

A obra do governo estadual tem custo estimado em R$ 100,5 milhões e é uma antiga reivindicação dos moradores da região do Campo Belo, onde residem aproximadamente de 42 mil pessoas, por causa dos vários acidentes registrados na rodovia, que foi chamada por muitos anos como "estrada da morte". O trecho a ser duplicado tem quase a função de uma avenida, com tráfego intenso e mé-dia de circulação de 17 mil veículos/dia.

Entre janeiro e julho deste ano, dois motociclistas morreram e sete sofreram ferimentos, leves ou graves, em acidentes na Miguel Melhado. O episódio mais recente ocorreu em 9 de julho passado, quando um motociclista invadiu a contramão, colidiu com um automóvel e morreu. A vítima, que não usava capacete de proteção, foi jogada contra a defensa metálica da rodovia. No ano passado, foram cinco vítimas fatais, enquanto 2020, três.

A realização das obras exige cuidado redobrado dos motoristas que circulam pelo local. Uma viatura e policiais rodoviários permaneceram na terça-feira (15) de manhã na altura do Jardim Marisa para evitar abusos dos usuários da rodovia, que recebe um fluxo intenso de automóveis, motocicletas, caminhões, ônibus, ciclistas e pedestres. 

INTRANQUILIDADE

Embora desejada pela maioria da população da região, a duplicação da rodovia Miguel Melhado tem tirado a tranquilidade de um grupo de moradores e comerciantes. Eles ocupam a faixa de 40 metros às margens da pista. A maioria se instalou no local há cerca de quatro décadas, a partir de uma ocupação. Agora, essas pessoas terão de deixar a área. O presidente da Associação dos Moradores do Jardim Campituba, José Aparecido dos Santos, conhecido como Zezinho do Campituba, estima que a retirada envolve em torno de 1 mil pessoas entre quem reside e tem pequenos negócios. "São pelo menos 150 empresas, com três, quatro funcionários, em média, cada uma", disse ele. "As pessoas estão aflitas com esse projeto. Não há uma conversa transparente sobre quem será afetado", criticou.

O comerciante Ananias Cardoso Veras, que tem um atacadista de doces e bebidas no Jardim Marisa, afirmou que não sabe qual será o seu futuro. Ele está no bairro há 30 anos e inicialmente pensou que a microempresa não seria afetada por estar fora da faixa de 25m às margens da rodovia. Entretanto, o microempresário contou que recebeu posteriormente a informação que o espaço foi ampliado para 40m por causa da ciclovia que será instalada. "Mesmo que o aumento não ocorra, disseram que será instalado um guardrail na marginal, tirando o acesso para o meu comércio. Como vou sobreviver?", questionou Veras. "Ninguém nunca apareceu aqui e disse que é dono, mostrou a escritura de posse", acrescentou.

O funileiro e mecânico Lourival José de Almeida, que tem sua oficina e casa há 37 anos às margens da Miguel Melhado, tem interesse em deixar o local e voltar para Taquaral, em Alagoas, mas antes cobra uma definição para sua situação. "Eles não podem simplesmente vir aqui e tirar todo mundo. Por que, então, deixaram instalar redes de luz, água e esgoto aqui?", indagou.

Almeida afirmou que a duplicação da rodovia já provocou prejuízo por causa da queda no movi-mento, com os clientes praticamente desaparecendo. "Na semana passada, entrou apenas R$ 120 de um socorro que fiz no domingo. Não dá para viver assim", queixou-se. O encarregado de obras e músico Geraldo Gomes Lacerda pagou, há oito anos, R$ 80 mil pelo sobrado onde hoje moram três famílias, a dele e de outras duas filhas, totalizando oito pessoas.

"Estou com 63 anos, não tenho mais idade para começar de novo do zero. Os R$ 605 que a Prefei-tura prometeu como auxílio aluguel não pagam nem a luz e água", afirmou. "Vou ficar na rua com a minha família", previu. O presidente da Associação dos Moradores do Campituba também terá o imóvel onde funciona uma adega e a sua casa atingidos pela obra. Ele mostra na parede a marca com as letras "FD" (faixa de domínio) feitas pelo DER, que indica que a duplicação cortará a fachada do imóvel.

Porém, se a retirada atingir a extensão de 40m, ele perderá todo o bem. "Em 2006, falaram que a ligação com Viracopos seria uma continuação da Magalhães Teixeira [ANEL VIÁRIO]até o aeroporto. Aqui seria uma avenida. A partir de 2020 é que começaram a falar em duplicação da Miguel Melhado, mas ninguém mostra como é o projeto. Ninguém diz exatamente o que vai acontecer com quem está aqui", insistiu Zezinho do Campituba.

Segundo ele, seis famílias que já foram retiradas receberam uma notificação, mas mesmo assim com pouco prazo para deixarem os imóveis. Em nota, o Departamento de Estradas de Rodagem divulgou que "esclarece que não é realizada desapropriação, visto que a obra está sendo executada inteiramente dentro da Faixa de Domínio do DER e não existe usucapião em área pública". O órgão estadual não respondeu quantas pessoas devem ser removidas das áreas laterais da Miguel Melhado.

A Prefeitura de Campinas está auxiliando as famílias da região contemplada pelas obras de duplica-ção da Rodovia Miguel Melhado Campos. O município garante o auxílio-moradia de R$ 605 por família aos moradores que precisam sair das casas por conta das obras e se dispôs a intermediar a discussão com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) do Governo do Estado de São Pau-lo. Uma comissão dos moradores já foi recebida pela Prefeitura de Campinas e, há cerca de um mês, representantes do DER estiveram na cidade e se comprometeram em marcar uma reunião entre a Administração Municipal e os moradores. Nesse momento, a Prefeitura aguarda o agendamento desta reunião por parte do Estado para dar sequência à mediação.

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