ATOS ANTIDEMOCRÁTICOS

Duas ‘patriotas’ de Campinas integram lista de 400 presos

“Cris” e “Monica” estavam no acampamento em frente à Escola de Cadetes

Da Redação
11/01/2023 às 08:56.
Atualizado em 11/01/2023 às 08:56
Na segunda-feira era possível encontrar barracas com alguns manifestantes bolsonaristas próximo à Escola Preparatória de Cadetes do Exército (Kamá Ribeiro)

Na segunda-feira era possível encontrar barracas com alguns manifestantes bolsonaristas próximo à Escola Preparatória de Cadetes do Exército (Kamá Ribeiro)

A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape-DF) divulgou uma lista com o nome de mais de 400 pessoas que foram presas nos atos antidemocráticos de domingo, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Ao menos duas delas faziam parte do grupo que acampava em frente à Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), conhecidas como "Cris" e "Monica". O Correio Popular optou por preservar os nomes completos até que consiga contato com as famílias ou a defesa das duas.

Os golpistas que pregaram por mais de dois meses intervenção militar em frente à EsPCEx abandonaram totalmente o local apenas na manhã de terça-feira (10). As duas mulheres teriam atuado como cozinheiras do acampamento, não se sabe se contratadas ou voluntárias. Cris tem 28 anos e Monica 35. Eram 412 nomes confirmados até o fechamento desta matéria.

A divulgação ocorreu porque, devido ao alto número de prisões, "não é possível que a Gerências de Atendimento aos Internos - Geaits das unidades prisionais realizem comunicações individuais. Dessa forma, será mantida lista atualizada das pessoas transferidas para o Sistema Prisional, a fim de possibilitar o acesso de familiares e advogados a elas", informou a Seape-DF.

Ainda no domingo à noite, um dos líderes do acampamento de Campinas, que se identifica como "Symon Patriota", gravou uma última live antes de deletar vídeos que mostravam a presença dele nos dias anteriores e durante os atos antidemocráticos em Brasília e deixar privado o seu perfil. Nela, há várias ameaças, como CACs, etc, mas também um pedido próximo ao final da live: que advogados entrem em contato, pois ele teria informações de que a Polícia Federal estava atrás dele e revelou os nomes de "Mônica" e "Cris", dizendo que seriam cozinheiras do acampamento de Campinas.

Nomes fora da lista

Os nomes de lideranças conhecidas do acampamento que estavam à frente da EsPCEx não apareciam na lista até a última feita às 18h de terça-feira (10). Ainda não há informações sobre a situação dessas pessoas. O próprio 'Symon Patriota', por exemplo, fez o vídeo com as revelações no trajeto de volta para o QG de Brasília, após as forças de segurança afastarem os radicais de extrema direita da Praça dos Três Poderes. 

No mesmo vídeo, Symon criticou uma emissora que tratou os golpistas como "terroristas". Ele rebateu, afirmando que terrorista era o "STF". Ele reclamou das prisões e bombas enquanto eles estariam desarmados e completou: "Agora se quem quer voltar tem que ser os CACs, nós voltar e meter bala (sic)."

Um dos parceiros de Symon no acampamento de Campinas, Moyses Zaramella, foi citado ainda no domingo à noite pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, na decisão em que determinou a expedição de ofício para que empresas que administram redes sociais bloqueiem algumas contas, forneçam dados cadastrais à Suprema Corte e mantenham a integral preservação do conteúdo. Tanto o perfil de Symon quanto o de Zaramella não estão mais disponíveis em uma rede social em que eram bastante ativos divulgando o acampamento e a mobilização para ir à Brasília. Em outras redes, ainda é possível encontrar contas dos dois.

As transmissões ao vivo dos dois organizadores antes do domingo, durante a invasão aos prédios e depois na volta ao acampamento de Brasília são fortes indícios de que o grupo de Campinas estava premeditando a confusão. Em um discurso já em Brasília, antes do domingo, Symon fala em código. Ele se recusa a compartilhar as redes sociais dele ao microfone e fala em "churrasco" e preparação dos "patriotas". "Tudo isso aqui é para o churrasco, patriota. Nós vamos assar carne em cima disso aqui gente, vamos fazer um lanche. Então, patriotas, nós vamos ajudar a preparar vocês."

Em outro vídeo, ele deixa uma mensagem de convocação e, insinuando o que ocorreria, diz que o que será feito em Brasília, citando o sábado, não o domingo, data em que atos antidemocráticos destruíram os prédios dos Três Poderes, viraria notícia internacional. 

"Temos que parar de ficar chorando no sofá. Você vai aceitar que o comunismo lixo tome posse daquilo que é direito nosso? Não podemos aceitar. Agora é a hora e para quem entende, para quem está entendo essa mensagem, sabe que daqui alguns dias isso aqui vai virar notícia para todas as nações. Ou você vem agora ou você nunca mais vai ter a liberdade de fazer isso que estou fazendo na frente desse palácio. Então agora é o momento. É uma convocação, venha que ainda dá tempo, sete do um é o dia que vamos retomar e pegar aquilo que é nosso por direito."

Durante a invasão, Symon também fez uma transmissão dizendo que "quem não acreditou que Brasília ia ser tomado vai ter que ver com os seus próprios olhos (sic)." Dirigindo-se aos "patriotas", ele afirma que aquele é um dia histórico e dá a ordem: "Vamos entrar e acampar. Vamos tomar aquilo que é direito nosso". A fala de Symon indica que uma das possibilidades para os golpistas seria levar o acampamento que está em frente aos quartéis para dentro dos prédios.

Morte e fake news

Na segunda-feira à noite, diversas contas associadas ao bolsonarismo, entre militantes e políticos, repercutiram uma mentira sobre a morte de uma idosa que teria sido presa após os atos de selvageria. A Polícia Federal desmentiu a informação ainda na mesma noite. "É falsa a informação de que uma mulher idosa teria morrido na data de hoje (09/11) nas dependências da Academia Nacional de Polícia".

Algumas das contas que ajudaram a viralizar a notícia mentirosa usaram uma imagem de uma idosa de Vinhedo que faleceu há três meses: Deolinda Tempesta Ferracini. A família de Deolinda foi surpreendida terça-feira (10) de manhã com uma enxurrada de mensagens avisando que a imagem da falecida estava sendo utilizada para disseminar fake news. A imagem estava disponível em um banco de imagens gratuito do marido de Juliana Cuchi Oliveira, neta da mulher.

"Eu me senti impotente, a internet tem uma força absurda tanto para o bem quanto para o mal. Estamos tentando ao máximo avisar as pessoas, mas muitas desacreditam e ainda pedem para provar, isso dói muito e só vai saber quem estiver na pele um dia. Que isso acabe logo", lamentou a neta, que também lembrou que a informação chegou exatamente três meses após a morte de Deolinda.

O marido, Eduardo de Carvalho Oliveira, contou que houve até uma pessoa que entrou em contato com a família e não sabia do falecimento de Deolinda, cogitando que poderia ser ela. 

"Ela era muito conhecida em Vinhedo, então a galera mais próxima mandou para a gente. Esse pessoal que mandou entende que a pessoa da foto não é a do suposto caso que aconteceu em Brasília e que já foi desmentido, mas as pessoas de fora, que não conhecem, associam à pessoa da imagem. Foi bem chocante, até porque hoje completam três meses do falecimento dela e a família ficou bem triste de fazerem uma coisa dessas, associar uma imagem dela com uma fake news. Eu carreguei o caixão dela no enterro, chorei a morte dela. Então foi bem impactante", desabafou o fotógrafo.

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