MOBILIDADE URBANA

Duas cidades da RMC despontam no ranking de carros eletrificados

Campinas é segundo município com maior frota e Indaiatuba está na sexta posição

Edimarcio A. Monteiro/ Correio Popular
06/04/2022 às 17:53.
Atualizado em 06/04/2022 às 17:53
A empresária Ida Helena Mantelatto Poltronieri está ‘feliz e satisfeita’ com a aquisição de seu novo carro, com tecnologia híbrida, que funciona com motor elétrico ou a combustão (Ricardo Lima)

A empresária Ida Helena Mantelatto Poltronieri está ‘feliz e satisfeita’ com a aquisição de seu novo carro, com tecnologia híbrida, que funciona com motor elétrico ou a combustão (Ricardo Lima)

Campinas é a segunda cidade com maior frota de veículos eletrificados, dentre os 645 municípios de todo o Estado de São Paulo. Pelas ruas da metrópole, circulam 427 carros 100% elétricos ou híbridos (que associam motores de combustão interna e elétrico). Na Região Metropolitana de Campinas (RMC), Indaiatuba também está entre os municípios líderes em veículos eletrificados, ocupando a sexta posição no ranking estadual, com 145 unidades. A liderança é da cidade de São Paulo, com 5.122 veículos. O balanço foi divulgado pelo Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP).

A frota de híbridos ou elétricos de Campinas ainda é tímida diante dos emplacamentos no município, pois representa 0,051% do total de 839.671 veículos existentes, mas é um número que só tende a crescer. “Não há mais dúvida: o futuro da indústria automotiva, dos novos carros, será a eletricidade”, afirma a coordenadora do Laboratório de Estudos do Veículo Elétrico (Leve) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Flávia Consoni.

A especialista acompanha o setor automotivo há 25 anos, dos quais nove voltados à mobilidade elétrica. Ela avalia a expansão desse segmento em virtude dos acordos internacionais para conter as mudanças climáticas, que têm como meta a redução de emissão de poluentes. O setor de transporte é responsável, em média, por 24% das emissões de gás carbônico (CO2), um dos principais causadores do efeito estufa.

Mudança

A nutricionista e empresária Ida Helena Mantelatto Poltronieri trocou, há seis meses, um SUV a gasolina por outro híbrido e está feliz e satisfeita com a nova tecnologia. “Estou adorando, é supereconômico. No modo elétrico, é silencioso”, afirma. O novo modelo faz entre 18 e 20 quilômetros por litro de gasolina no uso misto em cidade e estrada, dependendo das condições da estrada, enquanto o modelo anterior não passava dos 14 km/l.

O utilitário esportivo funciona por meio de motor elétrico ou a combustão individualmente ou por ambos ao mesmo tempo. O modelo é um híbrido flex, dando a opção ainda de rodar com etanol ou gasolina. A bateria que alimenta o motor elétrico do SUV é recarregada por meio de freio regenerativo. A energia gerada na frenagem é convertida em eletricidade para recarregar a bateria.

Ida explica que não optou por um híbrido plug-in – a bateria pode ser recarregada em uma tomada externa – por causa do pequeno número de pontos de recarga existentes em Campinas. “O prédio onde moro não tem e há poucos pontos na cidade”, afirma. Atualmente, o município tem 21 eletropostos em funcionamento. Como eles estão ainda em fase de testes, a recarga é gratuita, mantida pelo programa de desenvolvimento da operação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Empresas

A Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) tem como meta transformar metade da frota do transporte coletivo em ônibus elétricos em quatro anos. Seriam 309 veículos com essa tecnologia e 306 movidos a diesel. O uso da tecnologia foi anunciado no final do ano passado, quando a empresa informou que serão realizadas audiências públicas este ano para definir as bases do edital para a nova concessão do serviço.

A Emdec prevê o uso de 85 ônibus elétricos já no primeiro ano de concessão - provavelmente em 2023 —, com aumento gradual com o passar dos anos. A proposta prevê a instalação de uma estação central de recarga e de uma unidade de geração elétrica solar, além do incentivo à adoção de combustível limpo.

Pesquisas

A Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) Energia investiu, desde 2007, R$ 17 milhões em projetos e pesquisas na área de mobilidade elétrica visando a redução da emissão de poluentes. Os recursos foram destinados à instalação de postos de recarga, plataformas de eletromobilidade, segunda vida de baterias dos veículos e eletrificação da frota operacional.

No ano passado, a empresa anunciou mais R$ 20 milhões na criação do Laboratório de Mobilidade Elétrica em Indaiatuba, com o objetivo de compreender o impacto e o potencial da tecnologia nos espaços urbanos. Para isso, a frota de 14 veículos a gasolina e diesel na cidade será substituída por 22 totalmente elétricos, de scooter até um caminhão de 11 toneladas. “Indaiatuba foi escolhida principalmente pelo viés e a ênfase em tecnologia e inovação que ela tem”, explica o coordenador de Projetos e Renovação de Frota da empresa, Maison Businari.

“A ideia da CPFL é fazer uma aplicação completa, ser pioneira no Brasil em atingir 100% do portfólio profissional 100% elétrico”, acrescenta. A distribuidora de energia tem hoje uma frota de 4,5 mil veículos, sendo 34 elétricos usados em Campinas, Indaiatuba, São Leopoldo, Sorocaba, Ribeirão Preto e Santos.

Futuro

As apostas no futuro da mobilidade elétrica são grandes. Uma fabricante de veículos premium iniciou, em maio passado, a venda apenas de veículos elétricos ou híbridos no mercado brasileiro, seguindo sua política global de extinguir a comercialização de modelos a gasolina ou a diesel. De acordo com o executivo da marca em Campinas, Guilherme Mangili, inicialmente os clientes se mostraram preocupados com o baixo número de eletropostos existentes, mas se tranquilizaram com a expansão dos pontos de recarga.

Para ele, a mobilidade elétrica “é um caminho sem volta”. Um dos empecilhos iniciais dos veículos com essa tecnologia era a baixa autonomia, algo em torno de 125 km. Hoje, passa dos 400 km. “O cliente recarrega a bateria e vai a São Paulo e volta tranquilamente”, diz.

Mangili aponta como vantagem dos veículos elétricos o baixo custo de manutenção. “A primeira manutenção é feita em três anos ou 30 mil quilômetros”, afirma, Em geral, a revisão do carro zero a gasolina ou flex é feita a cada 10 mil km ou um ano, o que ocorrer antes.

Diferença nas despesas

A coordenadora do Leve da Unicamp aponta a economia para rodar como outra vantagem do carro elétrico, pois as despesas correspondem entre 15% e 20% de um carro a gasolina. Uma marca premium aponta que, para rodar 20 mil km com seu SUV elétrico, o cliente gastará cerca de R$ 4 mil com eletricidade para recarregar a bateria. Se for um modelo a gasolina do mesmo porte, que faz 7,8 km/l, a despesa saltará para R$ 17.700. Nesse caso, a economia é de R$ 13.700.

Para Flávia Consoni, o principal entrave para o aumento das vendas dos carros elétricos está no alto preço da bateria, que equivale a 30% do valor total do veículo. Porém, ela acredita que esse custo tende a diminuir com o avanço da tecnologia. Seria algo semelhante ao que ocorreu com a telefonia celular.

A especialista acredita que no Brasil o futuro da mobilidade elétrica estará nos modelos híbridos, com a associação de motores a combustíveis renováveis, como o etanol, e os elétricos. Ela cita como um indicador a procura pelo curso de extensão sobre mobilidade elétrica que lançou há um ano. Em maio, será iniciada a terceira turma, com a participação de engenheiros de montadoras, donos de startups e funcionários de órgãos públicos de trânsito de todo o País. “Eu me surpreendi com o interesse”, disse Flávia. O curso a distância tem uma carga de 50 horas de aulas teóricas e 10 horas de aulas práticas em que são abordados tecnologia, mercado e outros assuntos.

O potencial do mercado brasileiro também pode ser medido pelo interesse das fabricantes. Uma marca chinesa iniciou este mês a venda de seu primeiro veículo elétrico no País, começando a operação com três concessionárias. A previsão é que atinja 100 revendas em 2023. A maior fabricante chinesa anunciou, recentemente, um investimento de R$ 10 bilhões em Iracemápolis para fabricar modelos híbridos e elétricos, com capacidade produtiva de 100 mil veículos ao ano.

A unidade vai gerar 2 mil empregos e entrará em operação no primeiro trimestre do próximo ano. Além de atender o mercado brasileiro, a fábrica exportará para a América Latina. Será a quarta planta da marca fora da China, que opera também na Tailândia, Rússia e Índia.

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