entrevista

Doria aposta no 'Estado mínimo'

Ele pretende conceder ao setor privado todas as rodovias, inclusive as vicinais, parques florestais e novos hospitais. Quer também recriar a Secretaria do Interior

Maria Teresa Costa
22/04/2018 às 09:26.
Atualizado em 28/04/2022 às 06:27
Doria nega ser o 'plano B' de seu partido no caso da candidatura de Geraldo Alckmin para a Presidência da República não decolar: "Sou pré-candidato ao governo do Estado" (Leandro Ferreira)

Doria nega ser o 'plano B' de seu partido no caso da candidatura de Geraldo Alckmin para a Presidência da República não decolar: "Sou pré-candidato ao governo do Estado" (Leandro Ferreira)

O pré-candidato do PSDB ao governo do Estado, João Doria, disse ontem em Campinas que, se eleito, sua gestão será baseada na presença do “Estado mínimo”, com atuação forte em privatizações, concessões e parcerias público-privadas. Ele pretende conceder ao setor privado todas as rodovias, inclusive as vicinais, parques florestais e novos hospitais. Quer também recriar a Secretaria do Interior, que atuará como uma espécie de curadoria das demandas dos prefeitos e dará agilidade ao atendimento desses pleitos. Após participar de encontro com cerca de mil lideranças políticas do arco de alianças partidárias à sua candidatura (PSDB, PSD e PTC), Doria falou ao Correio sobre a campanha eleitoral e negou que seja o “plano B” do PSDB caso a campanha à Presidência do ex-governador Geraldo Alckmin não decole. Correio Popular - A investigação aberta pelo Ministério Público para investigar suspeita de improbidade administrativa do ex-governador Geraldo Alckmin vai interferir na sua campanha e na dele? João Doria - Não creio em uma interferência negativa. É apenas uma referência de uma investigação, que aliás atende a expectativa do próprio governador Geraldo Alckmin, que falou várias vezes que é bom que se investigue, que é bom que se verifique, para depois de apurados os fatos, se cobrar de quem de direito. Não creio que haja qualquer prejuízo, mas a apuração deve ser feita. Mas isso não deverá ser bastante explorado na campanha eleitoral? Vai, mas a resposta é muito simples. Investigar, investigar e investigar. Não esconder e nem fugir das investigações. Está se falando bastante da sintonia existente entre o senhor e Flávio Rocha (PRB) em uma estratégia em que Rocha tentaria assegura um espaço para o senhor na corrida presidencial. Existe essa sintonia? O Flávio é meu amigo há muitos anos. Reconheço o valor de sua candidatura e a sua legitimidade. Mas eu sou PSDB, estou no PSDB e apoiando o candidato do PSDB, que é Geraldo Alckmin. Quanto a mim, sou pré-candidato do partido ao governo do Estado. That is it. Então são só especulações? São. Mas isso não tira o valor de uma candidatura do Flávio, que é um liberal e sempre foi um defensor de teses liberais importantes, muitas das quais eu comungo. Vejo legitimidade na candidatura dele, mas volto a repetir: meu candidato à presidente da República é Alckmin. E se a candidatura do pré-candidato Geraldo Alckmin ficar inviável, por questões de voto, ou pela investigação, o senhor é o “plano B” do PSDB à Presidência? Eu confio na candidatura do governador Geraldo Alckmin, na sua destreza e capacidade de crescimento nos próximos meses, especialmente porque fazemos uma campanha conjunta em São Paulo e é em São Paulo que será decidida a eleição. Portanto, nós teremos aqui toda a oportunidade de fazer uma grande eleição no maior colégio eleitoral do País. São 33 milhões de eleitores, e com isso podemos dar uma distância expressiva a ele, para permitir que possa ir ao segundo turno. Sigo confiante e otimista em relação a candidatura. O senhor ouviu o áudio divulgado na sexta-feira em que um assessor do deputado Abelardo Camarinha (PSB) afirma que o governador Márcio França (PSB) teria retido recursos destinados ao município de Ocauçu, após a prefeita Alessandra Colombo Marana (PSDB), ter se reunido com o senhor? Isso tem que ser investigado. Há um sentimento de que começou um verdadeiro loteamento do governo de São Paulo, com objetivo eleitoral. É preciso investigar e chamar a atenção do Ministério Público e do Tribunal Regional Eleitoral para evitar que isso possa acontecer. É uma prática condenável, além de crime eleitoral, a utilização de recursos públicos para campanha, espaços públicos, bens públicos, servidores públicos, além da oferta de cargos. É crime eleitoral e pode ser punido com o impedimento de uma candidatura e cassação. Portanto é preciso ter atenção e espero que essa não venha a ser a prática do atual governador Márcio França. O governador Márcio França será seu principal adversário na campanha? Todos são adversários, e nesse momento eu tenho que respeitar todos. Os adversários que poderão disputar essa eleição mais fortemente são o Paulo Skaf (MDB) e o Márcio França pelo PSB. Mas respeito os demais, ainda que tenham uma pontuação baixa nas pesquisas. É preciso ter humildade e trabalho. Como o senhor vai enfrentar a máquina pública que o governador tem nas mãos nessa eleição? Depende do olhar. O olhar do copo meio cheio é de vantagem, o de meio vazio é de desvantagem, porque qualquer movimento que ele fizer agora pode fatalizar sua candidatura. A desvantagem é que você não pode fazer nenhum movimento que possa ser interpretado como um gesto de natureza eleitoral. O senhor está confiante na sua campanha? Muito. Primeiro porque sou otimista, depois já percebi que adoro uma eleição e sou guerreiro, sou muito competitivo. A vida inteira sempre fui assim. Eleição é uma competição, é uma corrida. Gosto do debate, da disputa e me empenho com uma dedicação e com uma energia enorme. Sou o tipo de candidato que eu mesmo não gostaria de enfrentar. Seu programa de governo já está pronto? Estamos elaborando. Montamos grupos de trabalho. O melhor plano é o que você faz com capilaridade e com conjunto de inteligências e contribuições. Não é o programa do candidato, mas da coalização. Estamos montando programas de saúde, esporte, cultura, assistência social - todas as áreas terão grupo de trabalho para formular propostas de governo. Não são propostas partidárias, e não há exigência de que os participantes sejam do partido. Como está a discussão para um nome a vice-governador, uma vez que o ministro de Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab (PSD), não se desincompatibilizou do cargo? Temos uma aliança com o PSD e o ministro Kassab tem direito a fazer uma indicação. Nós dois estamos tendo a prudência necessária para fazer isso na hora correta. E essa hora será no próximo mês de junho. Quais partidos estão vindo para sua candidatura? Estamos com o PSD e o PTC. O PTB não virá mesmo e vai anunciar isso nessa semana, com o apoio declarado a Márcio França. O PTB não vem e está com essa decisão ilusória. O senhor avalia que haverá uma grande renovação esse ano, uma vez que quase todos os partidos têm políticos envolvidos em denúncias de corrupção? Acredito que haverá alguma renovação sim, mas não muito grande. Ela será parcial, talvez a maior das últimas quatro eleições. Que mudanças o senhor pretende fazer na gestão do governo do Estado, se eleito? Vamos criar a Secretaria do Interior, que já existiu no passado e foi extinta. Vamos colocar à frente dela um gestor, que não será um político. Com isso vamos conseguir dar velocidade aos pleitos dos prefeitos, dar acompanhamento e o desenho técnico a esses pleitos. A secretaria terá um pouco o papel de filtro nas propostas inviáveis ou mirabolantes, e às quais não faria sentido dar trâmite. Ela vai funcionar como uma curadoria de demandas, dando orientação aos prefeitos e destinação das demandas às respectivas secretarias. Que outras mudanças devem ocorrer? Vamos apoiar determinadamente programas de desestatização em três vertentes: privatizações, concessões e PPPs. Tudo o que puder ser concedido ao setor privado, será. Todas as rodovias, inclusive as vicinais, todas as hidrovias, ferrovias, aeroportos regionais, parques estaduais. Será, então um, governo de 'Estado mínimo'? Estado mínimo e eficiente. Essa é uma convicção que vamos colocar em prática no âmbito estadual e que já iniciamos no plano municipal. Se possível, quermos fazer com que todos os novos hospitais sejam administrados por hospitais privados. E isso seria por meio de organizações sociais? Eu apoio as OS. Vamos estimular o trabalho delas.

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