CARRAPATO-ESTRELA

Donos de restaurantes tentam reverter prejuízo com maculosa

Até o momento não há conhecimento sobre infecções em estabelecimentos dos distritos

Ronnie Romanini/ ronnie.filho@rac.com.br
21/06/2023 às 09:02.
Atualizado em 21/06/2023 às 09:02

Comércio no distrito de Joaquim Egídio sente sensível queda no movimento, após surto de febre maculosa (Alessandro Torres)

O surto de febre maculosa na Fazenda Santa Margarida, no distrito de Joaquim Egídio, em Campinas, tem causado certa apreensão entre os proprietários de restaurantes e bares nas regiões de Sousas e Joaquim. Os dois distritos comportam parte dos atrativos turísticos de moradores de Campinas e de cidades vizinhas, com a possibilidade de fazer trilhas, andar de bike, mas a gastronomia permanece sendo um diferencial, com restaurantes muito cobiçados, especialmente no fim de semana.

A reportagem do Correio Popular conversou com alguns comerciantes. Houve quem admitisse uma queda de mais de 50% na movimentação no sábado e domingo passados. Nas redes sociais, um restaurante anunciou que restringiu os dias de funcionamento para apenas durante o fim de semana e com cardápio reduzido, diante da "drástica diminuição de público" na região. Alguns moradores também notaram uma queda na movimentação nos distritos no fim de semana.

O comerciante Jaime Marcelino Pissolato é proprietário de um tradicional bar em Joaquim Egídio. Ele também é o presidente da Associação de Bares e Restaurantes de Sousas e Joaquim Egídio (Adegas) e, representando os demais proprietários, disse que ainda é cedo para entender se a movimentação no fim de semana passado foi menor em alguns locais por conta da repercussão dos casos de febre maculosa na Fazenda Santa Margarida.

"Estamos conversando para entender, mas também sabemos que é um período em que há festas juninas e outros eventos grandes. Não dá para falar que houve mesmo uma queda porque normalmente em junho e julho concorremos com estes eventos. Talvez tenha sido sentida uma queda no movimento, mas não dá para falar que é por esse motivo."

Marcelino é taxativo e diz que para quem tem algum negócio ficou apreensivo com a repercussão nacional do tema. Até o momento, não há conhecimento sobre infecções em restaurantes dos distritos.

"A área da grande maioria dos restaurantes é pavimentada, além de existir uma constante preocupação com a limpeza, higiene. Tudo isso é compromisso do proprietário, do dono do restaurante. Felizmente não há casos em restaurantes. Precisa estar no mato. E você ainda pode andar no mato, precisa somente colocar uma proteção a mais para evitar o carrapato."

O comerciante deixou claro que não pode generalizar todo o distrito de Joaquim Egídio ou de Sousas por um fato que ocorreu em um local específico e destacou que desde pequeno lembra que os moradores da região sempre souberam da existência do carrapato-estrela, mas que apenas 1% deles estão infectados com a bactéria transmissora da febre maculosa.

Uma pessoa que administra um estabelecimento gastronômico em Joaquim Egídio que não quis ser identificada, apontou, assim como o próprio presidente da Adegas, que os restaurantes estão preparados. Para esta pessoa, a repercussão gerou um impacto negativo para todos, principalmente depois de uma retomada após os efeitos bastante negativos da pandemia de covid-19 para o ramo.

"Empreender já é difícil, mas empreender em Joaquim Egídio é vinte vezes mais por todas essas questões. É muito complexo, mas todos (os restaurantes) têm uma história e são considerados parte do circuito gastronômico de Campinas. Nós já superamos muita coisa e também vamos superar isso."

A cobertura da imprensa também foi alvo de críticas. Na visão de alguns proprietários, mesmo que diversas áreas de Campinas sejam consideradas de risco, houve uma estigmatização de Joaquim Egídio e Sousas por causa da proximidade com a Fazenda Santa Margarida. "Muitas famílias dependem dos restaurantes e podem ser prejudicadas. Em nenhum momento falam que os restaurantes estão seguros, que (os proprietários) estão se precavendo."

O subprefeito de Sousas, Pedro Oliveira, também empresário do ramo, contou que se reuniu na subprefeitura com alguns proprietários de estabelecimentos e trocou mensagens com outros. Ele enumerou algumas ações que estão sendo realizadas para conscientizar a população acerca das informações essenciais e disse que embora exista certa apreensão, os proprietários estão tranquilos por estarem bem informados sobre a doença.

"Fizemos treinamento com o pessoal da subprefeitura há cerca de 20 dias, são eles que estão mais na linha de frente. Estamos mantendo o mato cortado, algo que já fazemos aqui em Sousas, mas estamos fazendo ainda mais. Também sinalizamos os locais de riscos, que são mais afastados, não na área urbana. Penso que não há motivo para alarde. Mesmo que o restaurante esteja mais afastado, o próprio local em que as pessoas ficam, mesmo na área rural, é pavimentado, tem pedrinhas."

O subprefeito acrescentou que se uma pessoa entrar em uma área de mata, ela precisa tomar os cuidados que estão sendo pedidos pelas autoridades de saúde, mas ele não entende que os restaurantes ofereçam o risco alardeado.

"As pessoas estão bem informadas hoje em dia. Existe risco na região, mas é pequeno. E eu acredito que as pessoas irão frequentar os estabelecimentos normalmente, tomando os devidos cuidados. A Prefeitura está fazendo a parte dela na Santa Margarida, vendo outros pontos de risco, colocando placas, como sempre fazemos em todos os anos."

Na quarta-feira passada, a Prefeitura realizou uma reunião emergencial para tratar da febre maculosa. O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), foi questionado sobre ações para evitar prejuízos ao ramo turístico, gastronômico e de lazer dos distritos. Na ocasião, ele afirmou que a sinalização tem sido intensificada nas áreas de risco identificadas e que, com a população tendo a devida postura de cautela, é seguro participar de eventos ou ir a estes locais, uma vez que não há como eliminar a bactéria causadora da febre maculosa no município.

Importante reforçar que a febre maculosa é uma doença tratável, mas as chances de cura são muito maiores se o tratamento for iniciado em até 72 horas após o início dos sintomas, quando a pessoa não apresenta sinais graves tem maiores chances de se recuperar completamente. Todas as informações necessárias à população e aos gestores e profissionais de saúde podem ser encontradas no site criado pela Prefeitura, o portal.campinas.sp.gov.br/sites/febremaculosa/inicio.

ALTA

Após uma semana de internação, uma paciente com suspeita de febre maculosa recebeu alta do hospital em que esteve internada. Rosangela Davelli, de 40 anos, participou da 'Feijoada do Rosa' no dia 27 de maio, na Fazenda Santa Margarida, local em que ao menos cinco pessoas se infectaram com a febre maculosa, uma das confimadas foi no show do Seu Jorge. Quatro pessoas faleceram. Desde 2007, o ano com mais óbitos de febre maculosa em Campinas foi 2019. Naquele ano foram 15 casos e 10 mortes. No ano passado, sete pessoas faleceram em decorrência da doença em 11 casos confirmados.

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