Propriedade será desapropriada para a ampliação de Viracopos
Ana Amgarten, dona da fazenda Estiva 1, no entorno de Viracopos: "lugar onde meu pai nasceu, eu nasci e vivi" ( Leandro Ferreira/AAN)
Os proprietários da Fazenda Estiva 1, que está sendo desapropriada para a ampliação do Aeroporto Internacional de Viracopos, conseguiram na Justiça Federal mais tempo para deixar a fazenda adquirida pela segunda geração de suíços fundadores do bairro rural de Helvetia. Eles foram intimados, no início do mês, a deixar o local em 30 dias, recorreram e conseguiram, em liminar do Tribunal Regional Federal (TRF), concedida pelo desembargador Antônio Cedenho, suspender a emissão de posse para a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).Com a decisão — a Infraero informou que irá recorrer — os proprietários continuarão na fazenda até a realização de laudo independente de avaliação do valor da terra e do pagamento justo pela área. “Pelo menos é uma chance de termos um preço melhor pela terra do lugar onde meu pai nasceu, eu nasci e vivi”, disse Ana Cristina Amgarten, proprietária da fazenda. O valor da terra definido na emissão de posse pela Justiça se baseou em laudo da Infraero, que avaliou em R$ 13,61 o preço do metro quadrado, gerando assim uma indenização de R$ 823,6 mil pela área de 60,5 mil metros quadrados.O advogado Ventura Alonso Pires, sócio do Pires e Gonçalves Advogados, especializado em desapropriações e que representa outros proprietários rurais do entorno de Viracopos, disse que com a urgência de realizar a desapropriação, a Justiça Federal em Campinas pulou etapas do processo, como a citação das famílias e a realização da perícia que determina o real valor da propriedade para a indenização.O juiz, informou o advogado, remeteu o laudo ao Ministério Público Federal (MPF) que concordou com o valor apresentado pela Infraero e com o pedido de urgência na emissão de posse feito pela estatal e emitiu a posse. “O juiz teria que ter nomeado um perito para fazer uma avaliação independente, ter citado as famílias e só depois disso decidido pela emissão de posse”, disse.A Fazenda Estiva 1 foi desmembrada da Fazenda Estiva, adquirida pelas famílias Amgarten e Ming há mais de cem anos. Nela, segundo Ana Cristina, há 30 palmeiras imperiais de quase 30 anos que ela terá de deixar para trás e sem receber por elas. “Temos área arrendada para gado, tenho muitas flores. É muito triste perder o lugar onde passei toda a vida”, afirmou.A fazenda Estiva, que pertence há mais de cem anos à família Ming, também está sendo desapropriada. Leão Ming chegou da Suíça em 1887 e adquiriu a fazenda em 1894, então com 60 alqueires formados basicamente de café. Os Ming e os Amgarten são parte do núcleo inicial de suíços que fundou o bairro rural de Helvetia, na divisa com Indaiatuba. Nessa fazenda, Ming instalou lavoura de milho, feijão, arroz e com um único cavalo, passou a comercializar, com sua família, o excedente da produção na cidade. No curso do tempo e em meio às geadas (que em 1919 destruiu metade da colheita), crises econômicas (em particular, a de 1929) e dificuldades, os Ming conseguiram preservar cerca de 30 mil pés de café, bem como manter de forma contínua a produção de batatas, cereais e criação de gado. Hoje a família — em sua terceira geração — conta com 115 alqueires (sendo 20 de café) e produz uva de mesa (Niagara), milho, feijão, batata e gado.Pesquisa realizada pela Infraero para as ações de desapropriação, detectou no entorno do aeroporto a existência de 95 imóveis rurais, em sua maioria com uma casa principal e algumas outras destinadas aos trabalhadores rurais. Vivem na área 57 famílias, sendo 28 proprietárias.