Túnel que liga ruas Lidgerwood e Antônio Manuel e a Travessa Manoel Freire estão degradados
Piso quebrado, paredes pichadas e iluminação cheia de falhas: túnel é o retrato do descaso com a história (Leandro Ferreira/AAN)
Dois importantes patrimônios culturais de Campinas, ligados à história do transporte ferroviário estão completando cem anos. Mas sem motivos para comemorar. O túnel de pedestres que liga as ruas Lidgerwood e Antônio Manuel e a Travessa Manoel Freire, ambos inaugurados em 1918, são hoje espaços em completa decadência, a ponto de a cidade correr o risco de perder dois autênticos símbolos de uma época decisiva para sua expansão econômica. O túnel, passagem diária de centenas de pessoas que circulam entre o Centro e a Vila Industrial, tem um cenário deplorável. Lâmpadas queimadas, fios e bocais soltos, piso desnivelado e arrebentado em diversos pontos, manchas de umidade. O espaço, há não muito tempo, foi bastante usado para a exposição periódicas de quadros, painéis e gravuras. Hoje, está tomado por garranchos pichados e frases de conotação sexual — com uma ou outra declaração de amor no meio desse festival de bobagens. O visual decadente, no entanto, não incomoda os usuários. O problema maior para as pessoas que atravessam o túnel é a falta de segurança, já que é preciso caminhar trechos no escuro. Não existe vigilância ininterrupta de guardas municipais em nenhum dos dois acessos. Do lado de fora, na Rua Lidgerwood, bem abaixo da charmosa inscrição em números romanos que indica o ano de inauguração do túnel, moradores de ruas e pessoas que, entorpecidas por álcool ou drogas se esparramam pelo chão. Vila Operária A Travessa Manoel Freire, apesar de tombada, literalmente ruiu diante do descaso. Diversas casas foram demolidas com o tempo, e muitas das que restaram foram invadidas. O proprietário dos imóveis moveu ações de reintegração de posse. Quem invadiu entrou com recursos, e a briga na Justiça não tem fim. Enquanto isso, os moradores fizeram reformas não autorizadas, modificaram as casas, construíram “puxadinhos” e edículas sem relação nenhuma com o estilo arquitetônico original. Quem passa pela Rua Alferes Raimundo, diante do antigo portal da vila operária, se depara com um cenário devastado. Muitos projetos foram apresentados para a recuperação do local, mas nenhum foi adiante. Falou-se até na criação de um centro cultural. A proposta de revitalização previa a recuperação do arruamento interno, das instalações elétricas e hidráulicas e de águas pluviais, restauração de fachadas e telhados, remoção das edículas e anexos indevidamente incorporados. Mas o projeto nunca saiu do papel.