Estudo da Feac feito em Campinas revela também que, desse grupo, 60% deixaram os estudos
“Meu filho foi inesperado. De repente, me vi responsável por ele e por minha namorada, que só tem 17 anos. Hoje, ele está em primeiro lugar na minha vida. Tenho alguém que depende completamente de mim. Ele tem um ano e quatro meses e consome quase totalmente minha renda, tudo é para ele.” A frase é de Alexandre César Corrêa dos Santos, auxiliar de rampa do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, que mora na periferia e ganha pouco mais de dois salários mínimos por mês. O caso de Santos é apenas um de um grupo de 27 mil jovens campineiros, na faixa de 18 a 24 anos de idade, que já viraram chefes de família. O número representa 23% dos 135 mil jovens desse grupo etário. Além disso, 60% dos campineiros nesse grupo, ou seja, 81 mil, não estudam. Os dados foram apresentados ontem no evento “Trocando ideias sobre ideias trocadas: educação sob o olhar dos jovens”, que fez parte da 4 Semana da Educação de Campinas, iniciativa da Fundação Feac no âmbito do Compromisso Campinas pela Educação. O encontro ocorreu no Sesi-Amoreiras, com a participação de 300 jovens e adolescentes de todas as regiões do município.O estudo sobre a situação do jovem de Campinas foi organizado por Maria Helena Guimarães de Castro, diretora-executiva da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). O objetivo do levantamento foi indicar correlações entre a situação educacional do jovem de Campinas com o mundo do trabalho e eventuais causas de sua exclusão do contexto escolar. Os dados foram extraídos de fontes como o Censo do IBGE e o Censo Escolar do Inep.De acordo com a pesquisa, 15% da população de Campinas, ou mais de 170 mil pessoas, são jovens de 15 a 24 anos. A análise mostrou que 86% das pessoas de 15 a 17 anos ainda moram com os pais ou outros responsáveis. Cerca de 4% já são responsáveis por seus domicílios e, entre os jovens de 18 a 24 anos, 23% já são responsáveis por seus domicílios.Em termos de situação salarial, 20% dos jovens de 15 a 17 anos vivem em famílias pobres (até meio salário mínimo per capita) e 60% vivem em famílias com renda per capita entre meio e dois salários mínimos. 16% dos jovens de 18 a 24 anos vivem em famílias pobres (até meio salário mínimo per capita), e 53% vivem em famílias com renda per capita entre meio e dois salários mínimos.Nesse contexto de vulnerabilidade social e de precoce responsabilidade pela família, 60% dos incluídos na faixa de 18 a 24 anos não estudam e, desses, apenas metade concluiu o Ensino Médio. Segundo Maria Helena, apesar de ainda não estarem dentro do esperado, os números de Campinas não são assustadores quando comparados ao Estado e ao País todo. “O percentual de chefes de família que têm entre 18 e 24 anos está dentro da média estadual, de 23,5%, e um pouco abaixo da nacional, que é de 27%. Já os jovens nessa faixa que não estudam no Estado chegam a 70% e no Brasil, 82%”, explicou. O último Censo do IBGE, de 2010, também apontou que 15% dos jovens de Campinas de 15 a 17 anos não estuda. O levantamento também apontou que, de cada cem alunos do sexto ao nono ano do Ensino Fundamental, 12 estão com atraso escolar, ou seja, com distorção entre idade e série. No ensino médio, a distorção entre idade e série já atinge 17% dos alunos, ou seja, de cada cem, 17 estavam com atraso escolar de dois ou mais anos.