Crescimento do montante devido do primeiro para o segundo mês do ano foi de 5,10%, atingindo o maior valor já registrado
De acordo com a Serasa, 28% da inadimplência é referente ao segmento de cartão de crédito/bancos; segundo balanço da entidade, cerca de 85% das negativações registradas no Estado foram de consumidores que já haviam sido incluídos nos cadastros de inadimplentes nos últimos 12 meses (Alessandro Torres)
O número de inadimplentes na Região Metropolitana de Campinas (RMC) cresceu 1,72% em fevereiro, quando chegou a 1,18 milhão de pessoas, com o aumento superando a média nacional. Em janeiro, eram 1,16 milhão de inadimplentes. Os dados são da pesquisa mensal da Serasa, que também apontou que a elevação nacionalmente no mesmo período foi de 0,54%, com o total de 75 milhões de consumidores.
O levantamento mostrou ainda que a Grande Campinas ultrapassou pela primeira vez a marca dos R$ 8 bilhões de dívidas acumuladas. O valor no segundo mês do ano ficou em R$ 8,25 bilhões, elevação de 5,10% em comparação aos R$ 7,85 bilhões de janeiro, que era o recorde anterior. O crescimento do montante da dívida na RMC também superou a média brasileira de 4,48%, com o total nacional atingindo R$ 437 bilhões em fevereiro.
Para o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado de São Paulo (FCDL-SP), Maurício Stainoff, o aumento da quantidade de inadimplentes está relacionado ao aumento dos juros no país, resultando em reincidência dos negativados. “O crescimento da inadimplência reforça a pressão sobre o orçamento das famílias, especialmente diante da concentração de dívidas com bancos e da alta reincidência. A alta dos juros tem colocado em xeque o consumo e o acesso ao crédito nos próximos meses”, afirmou.
Segundo balanço da entidade, cerca de 85% das negativações registradas no Estado foram de consumidores que já haviam sido incluídos nos cadastros de inadimplentes nos últimos 12 meses. No mês passado, o Conselho de Política Monetária (Copom), do Banco Central, elevou a Selic, juros básicos da economia, em 1 ponto percentual, chegando a 14,25% ao ano. Essa foi a quinta alta seguida da taxa, que atingiu o maior nível desde outubro de 2016, quando também estava em 14,25%. Após chegar a 10,5% ao ano no período de junho a agosto do ano passado, a Selic começou a ser elevada em setembro, com o Copom mantendo a política de alta desde então. A próxima reunião está marcada para junho.
REFLEXO
“A queda na recuperação do crédito é preocupante. Quando menos pessoas conseguem limpar seus nomes, há um impacto direto no consumo e no desempenho do varejo, já que menos crédito será concedido no futuro”, destacou Maurício Stainoff. Isso porque os inadimplentes não conseguem comprar a prazo, limitando a capacidade de fazer novas aquisições.
O aposentado Antonio Vieira teve a água da casa cortada após atrasar o pagamento de duas contas. “Quem ganha salário mínimo não tem como não passar apertado”, comentou. Para conseguir voltar a ter o abastecimento, negociou com Sociedade de Abastecimento e Saneamento S.A. (Sanasa) a dívida e parcelou o pagamento. “Agora, estou pagando os atrasados e a conta do mês junto”, disse o aposentado.
Ele avaliou, porém, que o acúmulo dificulta o pagamento de outras despesas. Antonio Vieira admitiu ser reincidente e que rotineiramente é obrigado a atrasar alguma conta em função da aposentadoria não ser suficiente para cobrir os gastos. A atual dívida dele se encaixa na segunda principal causa de registros na Serasa. As dívidas das chamas utilities, contas básicas como água, luz e gás, representaram 20,37% dos cadastros negativados da empresa de análise de crédito.
Já Levi Bollies trocou de emprego para aumentar a renda e tentar conseguir equilibrar o orçamento doméstico. Ele deixou o emprego com carteira assinada para trabalhar como motociclista de um aplicativo de transporte. “Pagando aluguel e ganhando R$ 2 mil por mês não tem como pagar todas as contas e sustentar a família”, analisou. Em função disso, ele acumulou uma dívida com cartão de crédito, o segmento líder de inadimplência, com 28,08% de participação, taxa atingida com a soma dos débitos com bancos.
Levi Bollies disse ter renegociado e conseguiu parcelar o pagamento da dívida. A renda mensal, explicou, dobrou após começar a trabalhar com aplicativo, o que tem ajudado e evitar novos atrasos de contas. “É sofrido, difícil, mas não tinha como continuar atuando como CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e ganhando aquele salário”, explicou.
SITUAÇÃO NA RMC
De acordo com a pesquisa da Serasa, todas as 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas tiveram tanto aumento do número de devedores quanto do valor da dívida em fevereiro. Campinas ganhou 5.502 novos devedores, com total chegando a 466.709 consumidores, aumento de 1,19% em comparação aos 461.207 de janeiro. O valor da dívida acumulada na cidade foi de R$ 3,29 bilhões, crescimento de 4,44% em relação aos R$ 3,15 bilhões no primeiro mês do ano.
Valinhos é a cidade com o maior valor médio de dívidas entre os inadimplentes, R$ 8.042,02. O município tem 41.577 consumidores com contas atrasadas, com as dívidas somando R$ 334,36 milhões. O tíquete médio por débito na cidade é de R$ 1.896,45, segundo a pesquisa mensal.
Na RMC, o total de inadimplentes teve aumento de 6,31% em relação ao mês de fevereiro de 2024, quando era de 1,11 milhão. Já o acumulado dos débitos cresceu 17,68% no mesmo período. No segundo mês do ano passado, o valor era de R$ 7,01 bilhões. De acordo com a Serasa, em fevereiro, as mulheres representaram 50,3% dos nomes cadastrados na empresa, com os homens tendo uma participação de 49,7%.
FAIXA ETÁRIA
As pessoas com idade entre 41 e 60 anos lideram entre os inadimplentes, representando 35,1% do total. A segunda colocação é ocupada pelos devedores com 26 a 40 anos (34%), seguido por acima de 60 anos (19,1%) e até 25 anos (11,8%). No Brasil, 46,16% da população possui dívidas atrasadas. O Amapá tem a maior proporção entre os habitantes, com 62,02% dos moradores negativados.
Em seguida, aparecem o Distrito Federal (59,26%) e o Rio de Janeiro (55,47%). Em São Paulo, 49,30% dos moradores estão negativados. Já Santa Catarina é o Estado com a menor proporção, com 36,09% dos habitantes fazendo parte da lista de inadimplentes da empresa de análise de crédito. “A inadimplência no Brasil tem apresentado um crescimento constante, com poucas oscilações, enquanto a recuperação de crédito segue em declínio. A situação é preocupante e tende a se agravar, já que as taxas de juros, que já estão elevadas, têm previsão de alta”, avaliou o presidente Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), José César da Costa.
“Além disso, a inflação nos alimentos tem pressionado o orçamento das famílias, reduzindo sua capacidade de honrar compromissos financeiros. O cenário se torna ainda mais preocupante diante da falta de avanços significativos na educação financeira do brasileiro”, completou. Levantamento especial realizado pela Serasa descobriu que 57 milhões de brasileiros não sabem que estão endividados. Entre os consumidores que desconhecem a existência de dívidas em seu nome, pelo menos 19 milhões deles foram negativados pelos credores e, portanto, fazem parte do Cadastro de Inadimplentes: são pessoas físicas ou jurídicas que não sabem sobre a situação de inadimplência e nem sobre os benefícios especiais a que têm direito para negociar e limpar o nome.
Esses clientes nunca consultaram o CPF ou CNPJ no aplicativo ou site da Serasa e, portanto, desconhecem que há um total de 267 milhões de ofertas de dívidas para serem negociadas e pagas com vantagens e benefícios especiais, como descontos. Segundo a empresa, 4,2 milhões de acordos de renegociação de dívidas foram feitos em fevereiro. O valor médio dos acordo foi de R$ 698, com o valor dos descontos concedidos de R$ 12,17 bilhões.
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