Problema identificado nos três mortos indica reação a substância; contaminação é investigada
Coletiva sobre as mortes no Hospital Vera Cruz após exame de ressonância (Elcio Alves/AAN)
O resultado preliminar dos exames de sangue feitos nos três pacientes que morreram após exames de ressonância magnética feitos no Vera Cruz, na última segunda-feira (28), indicam disfunção hepática em todos os casos.
“As três pessoas tiveram um grande sofrimento hepático. Há indícios de necrose no fígado”, informou o secretário de Saúde de Campinas, Cármino de Souza.
Entretanto, o resultado não é conclusivo e nenhuma das hipóteses está descartada. Ainda há várias linhas de investigação e as autoridades que investigam o caso dizem que qualquer afirmação seria precoce e leviana.
De acordo com a gerente de Regulação e Controle Sanitário da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Maria Angela da Paz, os resultados dos exames das três vítimas indicaram uma quantidade incomum da enzima transaminase, o que teria provocado as lesões no fígado. Porém, o que ocasionou a elevação da quantidade da enzima ainda está em investigação. “Provavelmente tenha sido uma reação a uma substância.”
Os pacientes foram submetidos ao exame de sangue logo após a constatação do óbito. A assessoria de imprensa do Hospital Vera Cruz afirmou que quando ocorre um óbito na unidade, há uma série de procedimentos padrões a serem adotados. Um desses procedimentos é a coleta de sangue das vítimas para análise.
Os resultados dos testes foram encaminhados às autoridades envolvidas na investigação. Na manhã desta quarta-feira (30), antes dos resultados iniciais, o secretário de Saúde havia afirmado que as duas principais linhas de investigação sobre as mortes são de contaminação provocada por agentes microbiológicos ou uma intoxicação por agentes toxicológicos, como metais pesados. “Temos duas linhas principais de investigação, a microbiológica, que é contaminação por bactéria, fungo ou eventualmente outro micro-organismo, e a toxicológica”, disse.
Entre os agentes tóxicos podem estar, além de metais pesados, uma outra série de produtos químicos, que não foram elencados. “Os contrastes e os soros que foram infundidos nos pacientes são o alvo principal da investigação”, afirmou Souza.
Porém, após a divulgação desses resultados, a principal hipótese apontada pelas autoridades que participam das investigações passou a ser a de contaminação por agentes toxicológicos. “Pelo que os exames apontam, a possibilidade de contaminação microbiológica está quase descartada”, disse Brigina Kemp, diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa).
Desde terça-feira (29), o soro e o contraste são os principais alvos de investigação depois que uma vistoria realizada por físicos médicos nos equipamentos mostrou que as máquinas estavam operando em perfeitas condições. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, os equipamentos seguiam todas as normas técnicas e estavam calibrados da forma adequada para o funcionamento.
Ainda de acordo com o trabalho dos técnicos que investigam o caso, os procedimentos adotados durante os exames seguem os critérios de segurança definidos. Essa desconfiança gerou a interdição de lotes de quatro produtos na noite de anteontem pela Secretaria Estadual de Saúde.
“A conclusão sobre o que causou os óbitos só será possível após o resultado da perícia policial, laudos do Instituto Médico Legal, além dos testes, feitos pelo Instituto Adolfo Lutz, nos remédios”, ressaltou Maria Angela, da Anvisa.
O médico radiologista Conrado Cavalcanti, consultor técnico da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) explica que a hipótese mais plausível é de que o soro possa ter sido contaminado. “São contrastes diferentes, produzidos por empresas diferentes, em lotes diferentes. Esses produtos estão submetidos a regras muito rígidas, são utilizados há décadas, usados aos milhões e nunca houve registro, na literatura médica, de contaminação em contrastes”, afirmou.
Os três pacientes morreram por parada cardiorrespiratória. Eles apresentaram sintomas como mal-estar, convulsão, dores de cabeça, desmaio e formigamento no corpo. Segundo apurou a reportagem, os sintomas foram os mesmos nos três. Entre o início do procedimento e o óbito foram cerca de 90 minutos para cada paciente.
Outras 83 pessoas foram submetidas a exames de ressonância com contraste no hospital no mesmo dia e nenhuma delas apresentou problema, segundo o diretor do hospital Gustavo Sérgio Carvalho.