Maior parte das dinamites usadas em ataques a caixas eletrônicos é furtada pelas quadrilhas
Bananas de dinamites, notas de caixas manchadas com tinta rosa e celulares apreendidos após ataque a hipermercado em Campinas (Dominique Torquato/ AAN)
A maior parte da dinamite usada por bandidos para explodir caixas eletrônicos na região de Campinas é roubada ou furtada de depósitos de pedreiras, construtoras e empreiteiras espalhadas em diversos pontos do Estado. Nos últimos dez dias, o Exército — que é responsável pelo controle de armas e explosivos no País — registrou três ataques de criminosos em pedreiras no Interior do Estado: em Salto de Pirapora, Paraibuna e Ribeirão Preto. Desses locais foram levados 825 quilos do explosivos. A quantidade é suficiente para explodir 5 mil caixas (150 gramas de dinamite bastam para destruir um equipamento, segundo especialistas).
O uso do explosivo é restrito. Só pedreiras e construtoras têm acesso, mediante pedido feito ao Exército. Quem compra passa a ser responsável pela segurança dos explosivos e a corporação fiscaliza. O coronel do Exército e chefe do Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados (SFPC) em São Paulo, Edmir Rodrigues, afirmou que a quantidade levada pelos bandidos é fora do comum e preocupa. “Sabemos que essa é a principal fonte de bandidos que explodem caixas eletrônicos”, afirmou. Para ele, a maior parte deve seguir para o Interior. “Eles consideram o Interior com menos patrulhamento policial e com caixas menos seguros, por isso agem mais.”
Rodrigues informou que na semana passada esteve com o secretário de Estado da Segurança Pública, Fernando Grela Vieira, para tratar do assunto. “Além de criar uma integração das polícias com o Exército, para troca de informações, será criada uma forma de impedir o armazenamento de grande quantidade de explosivo em pedreiras e canteiros de obras.”
A região de Campinas é uma das que mais sofrem ataques de criminosos especializados nesse tipo de ação. Segundo levantamento feito pela reportagem, foram cerca de 60 casos em 2012. Este ano já são 17. No último final de semana, uma quadrilha foi presa e um bandido morto após explosão de caixa em um hipermercado na Vila Brandina.
A polícia trabalha para identificar as quadrilhas que fazem os roubos nas pedreiras. Uma das linhas de investigação pretende descobrir se elas roubam para vender o explosivo para outras quadrilhas, ou se são elas mesmas que fazem os ataques. De acordo com especialistas consultados pelo Correio, no mercado legal um quilo de dinamite custa R$ 300,00. Entre os criminosos, o preço é elevado. “Tem muitos casos em que os bandidos não sabem lidar com o explosivo e destroem tudo. Usar, por exemplo, um quilo para explodir um caixa é loucura”, explicou o jornalista Roberto Godoy, especialista em armamentos. Ele explicou que a dinamite é uma espécie de massa e que possui variações de volume e peso. Os bandidos costumam usar o explosivo dentro do compartimento que lembra uma gaveta no caixa, que fica abaixo do local onde saem as cédulas.
Perfil
Para a polícia, a explosão de caixas eletrônicos é a forma mais fácil que os assaltantes encontram hoje de roubar uma grande quantidade de dinheiro. É também a que oferece menor risco em relação a outros crimes, como sequestro, assaltos a agências e ataques a carros-fortes. “Eles migram de crime. Hoje, o mais viável é atacar caixas de bancos”, afirmou o porta-voz da Polícia Militar (PM) de Campinas, major Marci Elber Resende da Silva. O delegado titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Campinas, Carlos Henrique Fernandes, disse que várias quadrilhas agem na cidade e muitas são de fora. "Sabemos que as pedreiras abastecem esses criminosos. É difícil rastrear.”