MOVIMENTO

Dia de luta contra uma rotina de desigualdade

De cada 100 pessoas assassinadas no País, 71 são negras

Alenita Ramirez
19/11/2017 às 22:04.
Atualizado em 23/04/2022 às 04:21
Fuluke Gonçalves, rapper e membro do Festival Comunitário Negro Zumbi do Quilombo Urbano OMG (Patrícia Domingos/AAN)

Fuluke Gonçalves, rapper e membro do Festival Comunitário Negro Zumbi do Quilombo Urbano OMG (Patrícia Domingos/AAN)

A desigualdade racial no Brasil ainda é muito forte. Segundo militantes, simpatizantes e ativistas de movimentos negros, que neste domingo celebram o Dia da Consciência Negra, apesar de alguns avanços na luta pela igualdade, ainda há muito a ser feito. Entre as preocupações do movimento está o genocídio de jovens negros com idades entre 15 e 29 anos. Dados do Atlas da Violência de 2017, coletados entre 2005 e 2015, mostram que de cada 100 pessoas assassinadas no País, 71 são negras. Ainda segundo o estudo, neste período a taxa de homicídios contra jovens negros aumentou 37,7%, contra uma redução de 12,2% no número de não negros. Pelo levantamento, os negros possuem chance de 23,5% a mais de serem assassinados do que qualquer outra raça. Recentemente, Campinas foi palco de uma chacina que envolveu quatro jovens. Três deles eram negros. O crime foi no distrito do Campo Grande. Já as mulheres negras e da periferia, segundo os dados, têm 3,7 vezes mais chances de serem executadas e também de sofreram abortos em comparação com as brancas. Esses números, segundo os militantes, são alarmantes e assustadores. “A mulher negra tem dificuldade de acessar os serviços públicos e quando conseguem acessar, elas são atendidas em um tempo 50% menor do que as brancas. Enquanto uma branca fica 10 minutos no consultório, a negra fica 5 minutos”, disse o ativista de movimentos sociais, ex-conselheiro de Santa Bárbara d’Oeste e bacharel em direito Antônio Carlos Vianna de Barros, de 58 anos, que também atua na criação de uma cooperativa de coleta de reciclagem e na sede do movimento negro na cidade. Outro ponto que preocupa a comunidade é a intolerância religiosa. Neste ano, foram vários os casos de ataques a integrantes e templos das religiões de matrizes africanas. Um dos exemplos em Campinas aconteceu no mês passado, quando um terreiro de umbanda do Jardim Nova Europa foi destruído por um incêndio. A suspeita é que pessoas contrárias ao terreiro tenham arremessado um tijolo contra o telhado da Tenda de Umbanda Vovô Trindade de Aruanda e Cigano Ygor, derrubando uma vela sobre o altar de madeira. “O negro não veio ao Brasil como convidado. Ele veio escravizado. Foi sequestrado. Nossos ancestrais estavam em África e tinham várias culturas e nações, e foram trazidos à força para o Brasil. Foram trazidos especialistas em determinadas funções. Por exemplo, quem tinha conhecimento em mineração, agricultura. Trouxeram negros especialistas naquela área que era importante de enriquecimento dos brancos”, disse o conselheiro tutelar da região noroeste de Campinas, Airton Pereira Júnior, de 45 anos. “O avanço no combate à desigualdade racial foi muito pouco ao longo desses anos. O que eu gostaria muito é que as pessoas estudassem mais sobre as culturas africanas, entendessem e a respeitassem. Ainda é forte o racismo estrutural e institucional”, completou. Entre as conquistas, o movimento aponta a implementação da lei 10.639, sobre o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, e ressalta a importância da cultura negra na formação da sociedade brasileira nas salas de aula. Segundo os ativistas, o negro sempre foi lembrado nas aulas de história somente com o tema da escravidão negra africana e essa lei veio para tornar obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio. Entretanto, os ativistas defendem que mesmo com a implantação desta lei, o racismo ainda segue latente dentro da sociedade. “Não dá para entender como tantas e tantas pessoas ainda comentem racismo nas redes sociais, por exemplo”, disse Pereira Júnior. Outro avanço considerado, mas ainda tímido, é a implementação das cotas em algumas universidades, como USP e Unicamp. Para os ativistas, essa conquista foi a “duras penas”.

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