CAMPINAS

Despejados do Mandela buscam outras ocupações

Até mesmo as estações abandonadas do extinto VLT (Veículo Leve sobre os Trilhos) estão servindo de abrigo para essas famílias

Gustavo Abdel
30/03/2017 às 06:58.
Atualizado em 22/04/2022 às 19:51
Com medo de perderem pertences que ficaram na área da ocupação, algumas famílias passaram a noite nas ruas do entorno e ontem voltaram para recolher os seus móveis (Patrícia Domingos/AAN)

Com medo de perderem pertences que ficaram na área da ocupação, algumas famílias passaram a noite nas ruas do entorno e ontem voltaram para recolher os seus móveis (Patrícia Domingos/AAN)

As mais de 440 famílias que viviam na ocupação Nelson Mandela, no Jardim Capivari, em Campinas, estão migrando para outros movimentos sociais, como a ocupação Joana D’Arc, no bairro Cidade Jardim, também em Campinas, e para a Vila Soma, e Sumaré. Até mesmo as estações abandonadas do extinto VLT (Veículo Leve sobre os Trilhos) estão servindo de abrigo para essas famílias. O clima de indefinição após a reintegração de posse cumprida pela Polícia Militar (PM) na terça-feira pela manhã, fez com que muita gente continuasse na área por falta de local para levar seus pertences. Muitos dormiram em ruas próximas ao Mandela na noite posterior à reintegração. Segundo o movimento, cerca de 100 pessoas da ocupação ainda não têm um local para ficar — 40 delas, principalmente crianças e mães, foram abrigadas provisoriamente na Paróquia Santa Luzia e na tarde desta quarta-feira ainda estava com os colchões espalhados pelo chão da igreja. Ítalo Reis, de 20 anos, morador do Mandela há alguns meses, estava com a filha Hilary, de 1 ano, aguardando a esposa recuperar algum pertence no local onde estava o barraco do casal. “Perdemos roupinha dela, e muitos outros pertences. Até meu celular perdi na correria, e sem avisar o patrão devo estar desempregado nesse momento. Não tenho como deixar minha esposa e minha filha aqui, sem nada”, lamentou. “Ainda não decidimos para onde vamos, mas talvez para a casa de algum conhecido no Campo Belo.” Muitas famílias improvisaram barracas com os próprios móveis que sobraram da retirada. É o caso da família de Valdir Castro da Silva, de 31 anos. “Devemos nos juntar ao pessoal do Joana D’Arc, mas ainda estamos definindo”, disse. “Disseram que o proprietário do terreno iria alugar contêineres, mas ao invés disso mandaram uma banana para os moradores, como a Prefeitura.” Samuel Amorim, de 34 anos, morava com a esposa e três filhos há aproximadamente dez meses no Mandela. Samuel carregava o pequeno Luis Miguel, de 5 meses, e olhava para ao longe, onde seu barraco ficava, debaixo de uma árvore. “Com a rescisão do último emprego, comprei o material e construí um barraco de três cômodos. Não sobrou nem as roupas das crianças com o fogo que se alastrou pelos barracos”, relatou. A Samuel e a esposa Luana já levaram os poucos pertences para a ocupação Joana D’Arc, e pretendem recomeçar a vida. “Foi a alternativa que nos restou. Não tivemos qualquer auxílio por parte dos governos”, disse. SAIBA MAIS A Ocupação Nelson Mandela teve início há oito meses e chegou a reunir 600 famílias em uma área pertencente à Cerâmica Argitel, no Jardim Capivari. A empresa obteve reintegração de posse na Justiça, que foi cumprida nesta terça-feira pela PM. Foram mobilizados 400 soldados para a retirada dos ocupantes e houve resistência de manifestantes munidos de paus e pedras. A polícia respondeu com bombas de efeito moral. Apesar do confronto, a PM fez a retirada. Prefeitura disponibilizou vagas em abrigos municipais A Prefeitura de Campinas informou que na manhã desta quarta-feira alguns funcionários estiveram na área desocupada pela Polícia Militar para finalizar a operação. Segundo o secretário de Relações Institucionais, Wanderley de Almeida, algumas famílias ficaram com medo de perder os pertences que ainda estavam no local, e acabaram passando a noite na área. “Algumas famílias permaneceram para pegar as próprias coisas e nesta quarta-feira estivemos lá para dar apoio às famílias, porque não conseguimos concluir a remoção das coisas (na terça)”, disse. Segundo o secretário, 11 pessoas que não tinham para onde ir foram encaminhadas para um abrigo municipal e dormiram no local. No final da operação, a PM teria solicitado mais 30 vagas nos abrigos e a Prefeitura informou que foram disponibilizadas, mas que as pessoas desistiram. O secretário não soube informar se as pessoas passaram o dia no abrigo, mas garantiu que o espaço está disponível. Assistentes sociais da Prefeitura e também da Cohab, estiveram no local para orientar as famílias. Questionado sobre a possibilidade de levar todas as famílias para um mesmo lugar, mais uma vez Almeida reforçou o que tinha dito no dia reintegração. Segundo a pasta, a Prefeitura não tem condições de retirar todas as famílias e colocar em um ginásio, como havia sido solicitado por uma comissão de parlamentares que presta apoio aos ocupantes. Ainda segundo o secretário, o próximo passo para resolver a situação é fazer um trabalho de triagem entre as famílias, para saber quais e quantas se enquadram nos projetos habitacionais. Ainda de acordo com Almeida, para as famílias conseguirem ingressar em algum dos programas é preciso que estejam dentro das normas de cada projeto.

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