CRISE

Desmatamento agrava situação da estiagem na região

Bióloga Dionete Santin aponta que nos últimos anos nada mudou para recuperação da mata ciliar. "Não houve reposição para ajudar a manter os lençóis freáticos e as nascentes", diz

Érica Araium
18/02/2015 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 00:03
Área do Rio Capivari com falhas na mata ciliar: preocupação para o futuro ( Leandro Ferreira/AAN)

Área do Rio Capivari com falhas na mata ciliar: preocupação para o futuro ( Leandro Ferreira/AAN)

Ao analisar os reflexos da estiagem sobre o microssistema do Rio Atibaia, a bióloga Dionete Santin, pesquisadora do Núcleo de Estudos em Pesquisas Ambientais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), lamenta a falta de ações mais efetivas, como a construção de reservatórios e a preservação e manutenção da mata ciliar. "Houve décadas de descaso, um desmatamento que sequer poupou o entorno de nascentes e as beiras dos córregos. Não houve reposição da mata ciliar que ajuda a manter os lençóis freáticos e as nascentes. Aumentou o uso de água e da área urbana impermeabilizada", ponderou.   Durante cinco anos, ela percorreu a cidade a fim de buscar subsídios para um inventário das formações vegetais remanescentes. A pesquisa serviu de base para sua defesa de tese de doutorado na Unicamp, título obtido em 1999. Em 2013, em entrevista ao Correio, ela apontou que apenas 7% da extensão em quilômetros da mata ciliar estava preservada, cerca de 31,4% dos 445,7 quilômetros medidos de cursos d'água ainda cobertos por mata ciliar nos rios e principais córregos e ribeirões do município.   Precariedade se mantém   "Pouca coisa mudou. As matas remanescentes da região são cobertas por floresta estacional semidecidual. As plantas se mantém verdes apesar de estiagens. Muitas espécies, porém, que dependem de sombra parcial, acabaram não se desenvolvendo. Houve tentativas de reflorestamento, mas boa parte das mudas plantadas se perdeu em função da estiagem. Deveriam ter sido tomadas medidas regionais e globais, pensando-se numa planejamento de longo prazo. Ao invés de fazer Copa, investir em reservatórios de água, conscientizar a população de forma educativa e permanente" , pondera.   Segundo o Atlas dos Remanescentes Florestais de 2014 da Fundação SOS Mata Atlântica, o desmatamento também foi intenso nas áreas do Sistema Cantareira, que tem apenas 21,5% da cobertura vegetal preservada - 78,5% da mata ciliar das encostas de represas e rios foram dizimados. O Governo de São Paulo prometeu reagir, com a aprovação, em dezembro, do Programa de Regularização Florestal 219. Conhecido como "código florestal paulista" , ele prevê medidas mais restritivas ao desmatamento do que a versão nacional. Na avaliação de especialistas e ambientalistas, o esforço foi tardio.

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