Número, que se comparado ao total de ingressos no vestibular de 2017, corresponde a quase 70%
Estatísticas oficiais da instituição apontam que 1.387 alunos abandonaram seus cursos e outros 939 estudantes trancaram matrícula, sendo 473 no 1º semestre e outros 466 no 2º (Leandro Ferreira/AAN)
Passar no vestibular de uma faculdade pública que é referência no Exterior, ainda mais em sua cidade de nascimento, sempre foi um sonho para Renata Masini, de 20 anos. Quando entrou no curso de midialogia da Unicamp, a jovem fez valer tanto estudo que teve para a prova e comemorou com familiares e amigos próximos. Um ano e meio depois, no entanto, desistiu. “Não era o que eu queria”, lembra. “Sempre quis fazer faculdade de cinema, e quando passei na UFF (Universidade Federal Fluminense), acabei pensando bastante e decidi me mudar para o Rio”, conta a estudante. Renata é só um exemplo dentre os 2.326 estudantes da Unicamp que desistiram dos respectivos cursos em 2017. Só para se ter uma ideia, número corresponde a quase 70% (69,8%) do total de vagas oferecidas no vestibular daquele ano, 3.330. De acordo com as estatísticas divulgadas pela instituição, o total de desistência das faculdades inclui número de evasão e trancamento. No ano passado, 1.387 alunos simplesmente deixaram de frequentar as aulas e abandonaram seus cursos. Outros 939 estudantes trancaram matrícula na Unicamp, sendo 473 no primeiro semestre e mais 466 no segundo período do ano. O número de desistência corresponde a 11,37% do total de matrículas da universidade, entre ativas e não mais ativas. Em anos anteriores, essa porcentagem não apresentou grandes variações – 10,96% (2016), 10,42% (2015) e 10,87% (2014) – e até apresentou números bem parecidos, mas confirmam a tendência de que um a cada dez alunos matriculados da Unicamp deixam seus cursos a cada ano. Justificativas Os motivos são variados, sendo os principais, pela ordem, questões pessoais/trabalho, saúde, insatisfação com o curso, questões familiares e dificuldades financeiras, segundo a Diretoria Acadêmica (DAC) da instituição. O reitor da Unicamp, Marcelo Knobel interpreta as estatísticas com cautela. “O aumento de matrículas e conclusões, sem claro aumento de evasão e trancamentos, pode ser entendido em contraste com o aumento do tempo médio e tendências das taxas de conclusão no tempo mínimo e máximo pelo Regimento, que é de 150%. E evidencia a permanência dos estudantes na graduação por maiores períodos”, analisa. Para ele, faltam estudos para apontar com seguranças os motivos que levam ao abandona pelos alunos. “Não temos estudos para saber as causas, mas os relatos sugerem maior permanência para aproveitamento das oportunidades de formação e maior número de estágios possíveis antes da conclusão”, completa Knobel. Alarmante Um estudo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgado este ano traz outra ótica à questão das evasões. Os dados revelam que cerca de 56% dos 2,5 milhões de alunos que entraram na faculdade em 2010 em todo o Brasil não se formaram com os colegas do curso de graduação no qual se matricularam. Abandonos ou trocas de instituição de ensino justificam os percentuais apontados nos dados da pesquisa, que acompanhou a trajetória dos universitários entre 2010 e 2015 com base no Centro da Educação Superior. Em 2010, esses alunos ingressaram em 24.603 cursos de 2.209 instituições de ensino superior. Entre as desistências, 84% eram de alunos matriculados em instituições privadas (o equivalente a 1,1 milhão de pessoas) e 16,6% em públicas. A maior taxa de desistência (16,7%) ocorreu quando esses universitários estavam no segundo ano do curso. Em seis anos, o Inep ainda registrou 1.081 mortes de universitários que se matricularam em 2010.