ESCOLAS

Desinformação deixa escolas e alunos confusos na volta às aulas

Estudantes da rede estadual foram obrigados a voltar para casa por desencontro na agenda de atividades presenciais em sala de aula

Erick Julio
09/02/2021 às 15:36.
Atualizado em 22/03/2022 às 04:50
Funcion?rios medem temperatura de alunos na entrada da Escola Estadual Carlos Gomes: controle sanit?rio (Kam? Ribeiro/ Correio Popular )

Funcion?rios medem temperatura de alunos na entrada da Escola Estadual Carlos Gomes: controle sanit?rio (Kam? Ribeiro/ Correio Popular )

O primeiro dia de aula presencial nas escolas da Rede Estadual de Ensino, ontem, em Campinas, foi marcado por desinformação entre pais, alunos e escolas e o descontentamento de professores que temem o contágio pela covid-19. Apesar da greve contra as aulas presenciais, decretada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) na sexta-feira, algumas escolas reabriram normalmente nesta segunda-feira.

A Apeoesp realizou uma assembleia virtual com 91,7% da categoria e votou contra a volta das aulas presenciais. Ainda segundo o sindicato, que informou que os professores vão permanecer com o trabalho remoto, a greve teve apoio de 81,8% da categoria.

Mesmo diante da extensa adesão, escolas estaduais de Campinas mantiveram a programação e abriram os portões às 8h. O horário de abertura, por sua vez, deixou alguns estudantes e pais perdidos, conforme relata o funcionário público Joel Bueno, 60 anos, que foi até a Escola Estadual Carlos Gomes com a filha Isabele de Souza Bueno, de 15 anos.

"Estamos completamente perdidos. Falaram que as aulas iam voltar hoje, mas nem eu e nem minha filha fomos informados se esta segunda era o dia certo dela vir. Chegamos às 7h, que é o horário de início. Estamos aqui para tentar descobrir", diz Joel que saiu da Vila Costa e Silva às 6h.

A estudante Beatriz Siolin, de 17 anos, também foi surpreendida com a alteração do horário. A jovem que está no 3° ano do ensino médio, disse que se organizou para não atrasar e chegar antes do horário habitual de entrada. "Eu cheguei aqui antes das 7h porque pensei que fosse ser o horário das aulas. Não fui informada nada sobre a mudança. Por WhatsApp, nos informaram apenas os protocolos de segurança", conta Beatriz enquanto mostra a mensagem que recebeu pelo celular.

A indefinição sobre a volta das aulas presenciais não deixou apenas pais e alunos confusos. O professor de filosofia Leonardo Moura, de 32 anos, foi até a Escola Carlos Gomes, na manhã de ontem. Para o docente, a categoria dos professores também deveria fazer parte do grupo prioritário da vacinação.

"Para ser sincero, tudo está um mistério. Ninguém sabe se vai voltar mesmo ou não. O que eu sei é que ninguém está feliz em voltar nessa situação da covid. Nós professores deveríamos fazer parte do grupo prioritário. Se for para voltar as aulas, então que seja com professores vacinados", defende Leonardo.

O cenário de desinformação também ocorreu na Escola Estadual Francisco Glicério.

Às 7h, os portões estavam fechados e não havia nenhum informe disponível para os alunos que foram chegando. Na Escola Carlos Gomes, funcionários foram até o portão conversar com o Joel. O pai da estudante Isabele só descobriu, por volta das 8h, que ontem não era o dia da filha frequentar a aula presencial.

Apesar da viagem perdida, Joel acompanhou até o final a entrada dos alunos na escola e diz não ter gostado do que viu em relação aos procedimentos. Durante a abertura dos portões, uma funcionária media a temperatura dos estudantes, que formaram uma fila do lado de fora sem manter 1,5 metro de distanciamento.

"De que adianta ter os protocolos para observar os alunos na escola, se do lado de fora eles ficam aglomerados? Até onde sei, as aulas começam às 7h. Se eles abrem os portões só às 8h, os alunos acabam aglomerando na frente. Já começou tudo errado com a fila para medir a temperatura. Deveria ser melhor organizada pois estão todos próximos", critica Joel.

Pais dão apoio a professores contra retorno imediato

No primeiro dia das aulas presenciais nas escolas estaduais, ontem, em Campinas, os pais dos alunos manifestaram apoio e solidariedade à greve dos professores, decidida na sexta-feira pela categoria, contra o retorno das aulas com a presença dos alunos nas escolas. Para os pais, os professores deveriam ter sido vacinados contra a covid-19 logo na primeira etapa, junto com os profissionais da Saúde.

Para o autônomo Sidnei de Andrade, 52 anos, que é pai dos gêmeos Denise Cristina de Andrade e Guilherme de Andrade, de 15 anos, o governo quer "se isentar" de qualquer responsabilidade. "Eles deveriam ter vergonha na cara ao pedirem para que os alunos voltem as aulas diante dos casos de covid nas escolas.

O governo quer jogar a responsabilidade para os pais e para os professores", critica Sidnei que disse apoiar a greve dos professores.

"Eu sou solidário com os professores porque da mesma forma que não quero que meus filhos peguem covid, não quero que ninguém pegue, muito menos os professores que são trabalhadores que estão se expondo ao risco. Assim como é importante vacinar os trabalhadores da Saúde, também deveria ser importante vacinar professores", defende Sidnei que compareceu na Escola Estadual Carlos Gomes na manhã de ontem.

O funcionário público Joel Bueno compartilha da opinião de Sidnei. Segundo ele, que também é pai de uma aluna da Escola Carlos Gomes, os docentes deveriam ser vacinados nessa primeira etapa. Para Joel, com a vacinação dos professores, os pais se sentiriam ainda mais seguros.

"Eu acho que os professores tem toda razão de fazer greve por conta da covid-19. A gente viu o surto da doença nas outras escolas. Da mesma forma que me preocupo com minha filha, me preocupo com os professores também", esclarece o funcionário público.

As manifestações de apoio aos professores e funcionários também ocorreu na Escola Estadual Adalberto Nascimento, onde segundo Nivaldo Vicente, dirigente Regional de Ensino, "nenhum professor deixou de comparecer à escola". A manicure Vânia Martins, 46 anos, fez questão de acompanhar o filho Otávio Martins, de 12 anos, no primeiro dia.

Ela acompanhou os protocolos da escola e elogiou a organização. "A gente fica com o receio dos casos (de covid-19) nas escolas. Mas essa escola é muito boa. Os professores merecem atenção também. Para nós, pais que precisam trabalhar, é muito bom poder contar com uma escola organizada assim", aponta Vânia.

A Escola Adalberto Nascimento realizou atividades de acolhimento, na manhã de ontem. As salas de aulas, organizadas para receber entre 8 a 12 alunos, contava com no máximo quatro estudantes, que participaram da atividade presencial por cerca de três horas.

Antes de retornarem as suas casas, os alunos tiveram o horário de almoço, às 11h30. Os estudantes foram orientados por professores e funcionários durante toda a atividade, desde a lavagem das mãos até o local para se sentar para a refeição. Cada aluno recebeu um saco plástico para guardar a máscara, que faz parte do kit distribuído pelo governo do Estado.

Se o clima é de apreensão entre os pais, o mesmo não pode se dizer entre os estudantes. Enquanto a empregada doméstica Ana Célia Borges Silva, de 37 anos, revela ter "medo de pegar covid-19 no retorno das aulas presenciais", o filho Vinícius Silva Araújo comemorou: "eu quero voltar".

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