Estado liberou R$ 80 milhões para recapeamento em 70 quilômetros de vias da cidade
Ruas do bairro Jardim Santa Genebra remetem a um verdadeiro queijo suíço devido à grande quantidade de buracos; na via Marquês de Abrantes, as fissuras no asfalto se concentram a poucos metros de distância entre elas (Alessandro Torres)
O desgaste asfáltico de alguns bairros de Campinas tem gerado transtorno a motoristas e moradores, que sofrem com o aparecimento constante de buracos de grande proporção. São bairros antigos da cidade, cuja pavimentação foi feita há mais de 50 anos e que, atualmente, são terreno fértil para a buraqueira.
Entre eles estão o Jardim Eulina, Jardim Santa Genebra e Cidade Universitária, por exemplo. A reportagem percorreu diversas vias nessas regiões e registrou irregularidades no asfalto que perturbam quem depende das ruas. De acordo com a Administração Municipal, o problema é conhecido, mas difícil de ser resolvido pela falta de verbas. Atualmente, o Estado liberou R$ 80 milhões para recapeamento em 70 quilômetros de vias da cidade. No entanto, as máquinas ainda estão longe de chegar nos bairros.
No Jardim Eulina, a situação é desafiadora. Por lá, buracos de longa espessura e profundidade se multiplicam pelas ruas. Na Rua Silvio Dimarzio, que dá acesso aos motoristas que saem da Rodovia Anhanguera (SP-330) em direção ao bairro, a situação é grave. De acordo com moradores, nos últimos meses o surgimento de novas irregularidades foi tão elevado que fica impossível desviar. “Para onde você desvia, cai no buraco” sustenta Rosymary da Silva, de 58 anos, que vive no local há 56 anos. “O negócio está feio, situação crítica. Já quebrei amortecedor, para você ter ideia, e o gasto para arrumar é alto. Se a Prefeitura pagasse o conserto do carro, pelo menos”, completa.
Em frente à casa de Rosymary há uma borracharia, em operação há mais de 30 anos. O dono, que não quis se identificar, ficou irritado com a presença da reportagem. Aos xingos, ele relatou que “lavou às mãos para a questão da buraqueira em frente a oficina”, mas que “não quer mais reclamar pois já está cansado”.
Outro bairro cujas ruas remetem a um queijo suíço é o Santa Genebra. Na Rua Marquês de Abrantes, as fissuras no asfalto se concentram a poucos metros de distância uma das outras, o que torna impossível desviar. Recentemente o bairro recebeu reparos do Programa Tapa-buracos, mesmo assim, a reportagem registrou algumas cavidades na via.
Borracheiro no bairro há 20 anos, Edson Benedito conta que o problema é antigo e insanável. Tão logo um buraco é tapado se abre outro, conta ele, que é morador do Santa Genebra há mais de 40 anos. “É só dar uma chuvinha que aumentam as ocorrências, aí eles tapam o buraco, vão embora e em poucos dias já surgem novos”, contou.
Enquanto conversava com a reportagem, o borracheiro mostrava pneus e rodas de veículos que sofreram danos por conta das cavidades. “Dá uma olhada”, disse apontando para um pneu, cortado pelo lado de dentro, “isso aqui é de passar em buraco com pneu murcho. Veja, é um pneu novo que já foi perdido, pois quando é assim não tem como arrumar”, mostrou.
A região da Cidade Universitária tem a pior situação entre os bairros visitados. Tanto que, de acordo com a Secretaria de Serviços Públicos, vai ser a única agraciada pelo recapeamento integral nos próximos meses. “Até junho vai começar o recapeamento de algumas vias da Cidade Universitária, pois ali a situação já é muito agravada” revelou o secretário titular da pasta, Ernesto Paulella.
As ruas próximas ao Restaurante Universitário são as mais prejudicadas. O secretário pontua, por exemplo, a Rua Dr. Shigeo Mori, a qual, disse, “estar muito prejudicada”. Alguns quilômetros acima, nas adjacências da PUC (Pontifícia Universidade Católica) Campinas, os buracos são menos frequentes. Na Rua Joséfina Goaria Fiorani, que dá acesso ao Hospital Madre Teodora, região da Fazenda Santa Cândida, há buracos com profundidade de 40 centímetros. Um deles já até cedeu espaço para o mato que cresceu. “Está aí desde novembro. Agora que colocaram esse cavalete aí os carros pararam de passar, mas está se alastrando”, declarou o porteiro Geraldo Ferreira, de 58 anos. “Sorte que os motoristas que passam aqui já sabem do buraco”, concluiu.
Paulella explica que o desgaste do asfalto nos bairros mais antigos é quase impossível de ser combatido. De acordo com ele, esses bairros perderam a proteção sobre a camada pavimentada, o que torna mais fácil o aparecimento de buracos com fenômenos naturais e fluxo de veículos. “Um asfalto tem três camadas: sub-base, brita e a massa asfáltica, geralmente com dez centímetros, e que proteje o restante. Passados dez anos, tempo de vida útil, essa base vai saindo e o asfalto fica sem proteção. Quando chove, a água se infiltra pelo meio do asfalto e vai dissolvendo o restante. Alia-se a isso o fluxo de veículos e os buracos vão surgindo”, explicou.
A impossibilidade de reaver a qualidade asfáltica se dá, de acordo com o secretário, pela falta de verbas. “Nós não temos condições de recapear a quantidade de vias que precisam de reparos na velocidade desta demanda. O orçamento é curto e temos que priorizar os recursos para as principais vias da cidade. O que sobra para fazer nos bairros é tapar os buracos que são abertos”, disse.
Fechar os buracos, no entanto, não sana a questão, já que a falta de proteção dá condições para uma deterioração acelerada, segundo explicou o titular de Serviços Públicos.
No dia 11 de abril, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) esteve em Campinas e ao lado do colega de partido e prefeito Dário Saadi, anunciou R$ 80 milhões em investimentos para recapeamento de 70 quilômetros de vias na cidade. A verba, contudo, será destinada apenas para vias de alta circulação de veículos e do transporte público. Paulella informou que no segundo semestre um novo investimento, dessa vez com verbas do próprio município, deve ser anunciado para reparar uma gama ainda maior de ruas. O montante deve ser da ordem de R$ 100 milhões. Ainda assim, o secretário vê com dificuldade alçar voos maiores a nível de bairro.
“Nós pedimos para a população que nos ajude a identificar onde estão esses buracos maiores, através do 156, através dos vereadores, para que possamos identificar e levar o Tapa-buracos", ressaltou o secretário.
Uma consulta pública realizada pela Prefeitura entre os meses de fevereiro e março, com objetivo de aumentar a participação popular na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) mostrou que a maior reclamação da população é em relação ao asfalto, seja por falta dele ou pelo seu desgaste. Citado na reportagem, o Santa Genebra foi um dos mais participativos, ocupando o segundo lugar, atrás apenas do Gargantilha.
De acordo com a Administração, o objetivo é continuar promovendo o recapeamento na medida do possível. Entre os anos de 2021 e 2022, foram investidos R$ 35,6 milhões em recapeamento, cobrindo uma área de cerca de 38 quilômetros. Custo médio de R$ 925,3 mil por quilômetro.
Já em Tapa-Buracos o investimento foi da ordem de R$ 39 milhões no primeiro ano e de R$ 62,2 milhões no segundo ano.