NA RMC

Desemprego cai, com vagas informais e salários menores na região de Campinas

Observatório PUC-Campinas analisa criação de 7.842 novos postos em agosto

Edimarcio A.s Monteiro/ [email protected]
04/10/2022 às 08:56.
Atualizado em 04/10/2022 às 08:56
A construção civil é o segmento que registrou maior saldo positivo de empregos na RMC, com 2.037 vagas (Rodrigo Zanotto)

A construção civil é o segmento que registrou maior saldo positivo de empregos na RMC, com 2.037 vagas (Rodrigo Zanotto)

A queda do desemprego na Região Metropolitana de Campinas (RMC) está associada à fragilização do mercado de trabalho. A avaliação foi feita na segunda-feira (3) pela economista Eliane Navarro Rosandiski, do Observatório Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC), ao analisar a criação de 7.842 novos postos de trabalho em agosto, o segundo melhor desempenho do ano, de acordo com o relatório do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), elaborado pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social.

O número é inferior somente às 8.618 vagas geradas em fevereiro. No acumulado dos oito primeiros meses deste ano, o saldo é de 47.652 empregos criados, crescimento de 19,7% em comparação às 39.810 vagas registradas até julho. Porém, o aumento é marcado pela expansão dos contratos temporários, intermitentes, vagas para aprendiz e terceirização, aponta Eliane. “Quando o acompanhamento começou a ser feito em 2018, esses contratos representavam 1% do total. Agora, são 8,8%”, afirma a economista do Observatório PUC-Campinas.

“A geração de empregos é algo positivo, mas mostra um mercado morno, não uma retomada da economia. A economia mostra dificuldade, um desempenho que não é duradouro”, acrescenta. Para a professora da Faculdade de Economia da universidade, a alta de empregos em agosto é reflexo das encomendas do comércio para as vendas de final de ano e um “aumento de demanda artificial”, puxado pelo aumento do Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família) de R$ 400 para R$ 600 e outros benefícios concedidos pelo governo federal que vão somente até dezembro.

Ela explica ainda que, apesar do crescimento da oferta de emprego, houve queda do salário médio. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o rendimento médio que era de R$ 3 mil no início de 2020, pouco antes do começo de pandemia de covid-19, é hoje de R$ 2.713, isso sem contar a perda do poder aquisitivo causada pelo aumento da inflação.

O bolso

“Agora, eu ganho o suficiente para as minhas necessidades”, afirma o motorista Cláudio de Almeida. “Antes, era bem melhor, sobrava para fazer outras coisas”, completa. Ele trocou o emprego em uma grande rede de loja de materiais de construção por uma empresa menor. Diante da situação econômica do País, Almeida se considera privilegiado por não ter sido atingido pelo desemprego.

“Antes, o salário era bem melhor. Em 2014, 2015, ganhava mais do que hoje uns 30% a 40%, afirma o encarregado de obras civil Manoel Medeiros. Ele atua no setor que liderou o aumento de empregos em agosto. A construção civil gerou 2.037 novos postos de trabalho, o equivalente a 26% do total no mês, ou seja, uma em cada quatro novas vagas geradas na RMC. Medeiros ressalta que o setor não parou durante a pandemia e está aquecido, o que resulta na criação de empregos, mas isso não reflete em salários melhores.

Situação melhor

Das 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas, apenas duas registraram a criação de postos na casa dos quatro dígitos. Campinas segue na liderança, com geração de 2.419 novas vagas, seguida por Paulínia (1.641). Indaiatuba, que aparece na terceira posição, registrou 764 novos postos, vindo Americana em seguida, com 543. O ranking dos cinco municípios com melhor desempenho é fechado por Hortolândia, com 460 empregos.

Apenas duas cidades tiveram resultado negativo em agosto. Santa Bárbara d´Oeste fechou o mês com a redução de 92 postos de trabalho e Artur Nogueira, 20. Eliane Rosandiski ressalta que, assim como ocorreu em julho, o saldo positivo do emprego na RMC representou 10,5% do fluxo dos contratos no Estado de São Paulo. No acumulado de janeiro a agosto, a Região Metropolitana responde por 9% dos empregos no Estado de São Paulo.

A taxa de crescimento nos primeiros sete meses do ano foi de 8,8%. Para a economista do Observatório PUC-Campinas, isso mostra que o desempenho econômico da Região Metropolitana é melhor do que o de outras do Estado.

Os dados do Caged mostram ainda que 69% do saldo das novas vagas na RMC foi preenchido por profissionais com ensino médio completo e 14% com superior completo. Por faixa etária, os jovens de 18 a 24 anos ocuparam 43% das vagas geradas em agosto. As faixas de 30 a 49 anos concentraram 30% dos novos postos de trabalho.

Segundo a professora Eliane Navarro, a análise por idade ajuda a entender a queda na média salarial, pois os jovens ocupam normalmente a base da pirâmide do emprego. “Ao contrário do mês de julho, em que as atividades industriais ensaiaram uma recuperação, os novos contratos foram gerados em setores historicamente com padrões de remuneração mais baixos e mais flexíveis, tais como intermitentes e por prazo determinado”, acrescenta.

Empregos de baixa qualificação 

O salário médio de admissão em agosto foi de R$ 1.949,84, expansão de 1,52% sobre o salário do mês anterior, aponta o economista Laerte Martins, diretor da Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic). “A qualificação do emprego continua abaixo das especificações e necessidades da mão de obra procurada e a perspectiva para os próximos meses é de indefinições quanto a uma maior expansão da mão de obra”, afirma.

Eliane Rosandiski aponta que a RMC segue a tendência nacional de recuperação do nível de ocupação e redução do desemprego. Porém, o processo de recuperação e de recomposição do mercado de trabalho vem ocorrendo em ocupações informais, com a informalidade se mantendo em torno de 37%.

“As incertezas provocadas pela instabilidade e possível contração das economias internacionais, bem como os efeitos das políticas monetárias e fiscais para controle inflacionário e estímulos de demanda, tornam prematuro afirmar que há uma trajetória de recuperação consistente na economia brasileira”, diz a economista.

Ela explica que a guerra entre Rússia e Ucrânia continua, o que mantém o risco de alta dos preços dos alimentos, da inflação e a política de alta das taxas de juro nas principais economias do mundo para manter o controle da economia e reduzir o consumo. Isso impacta a economia regional, que tem a característica de ser exportadora.

A professora da PUC-Campinas acrescenta que a realização do segundo turno na eleição para a Presidência da República dificulta para que haja uma perspectiva sobre o desempenho econômico nacional em 2023. Com isso, os empresários colocam eventuais novos investimentos em compasso de espera, o que prejudica a criação de novos empregos.

O Banco Central estima que o Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos, terá alta de 2,7% no País este ano. Porém, mantém a projeção de apenas 1% em 2023, abaixo dos 3,6% esperados para o mundo e dos 4,4% estimados para o conjunto dos países emergentes.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por