LEGISLATIVO CAMPINEIRO

Desempenho da Câmara de Campinas precisa melhorar, diz nova presidente

Palermo está ‘incomodada’ com votações apenas de nomes de ruas e honrarias

Rodrigo Piomonte
30/09/2022 às 18:34.
Atualizado em 30/09/2022 às 18:34
Primeira mulher a assumir a presidência da Câmara de Campinas, Debora Palermo (PSC) substitui interinamente o presidente afastado, Zé Carlos (PSB), por 30 dias (Gustavo Tilio)

Primeira mulher a assumir a presidência da Câmara de Campinas, Debora Palermo (PSC) substitui interinamente o presidente afastado, Zé Carlos (PSB), por 30 dias (Gustavo Tilio)

A nova presidente interina do Legislativo campineiro, vereadora Debora Palermo (PSC), afirmou ontem que inicia seu mandato à frente da Câmara Municipal de Campinas com a promessa de resgatar a imagem da Casa de Leis, bastante desgastada perante a população. Palermo reconhece que o Legislativo precisa melhorar a qualidade das proposições, tornar-se mais produtivo, acabar com as situações de ataques pessoais entre parlamentares e dar exemplo de combate ao machismo estrutural e à corrupção. 

A vereadora disse que irá hoje ao Ministério Público conversar com os promotores sobre o caso das denúncias em contratos terceirizados da Câmara e que envolvem o nome do presidente afastado, o vereador Zé Carlos (PSB). Afirmou que deve instaurar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para início das investigações contra seu antecessor já na próxima semana. Ela afirmou que chegou a solicitar pessoalmente à presidência da Câmara uma revisão de todos os contratos terceirizados da Casa.

Professora da rede estadual, ex-conselheira tutelar por quatro mandatos e primeira mulher a assumir a presidência em 224 anos de história da Câmara, Palermo disse que vai conduzir com a maior transparência possível os trabalhos de investigação que o Legislativo realizará nos próximos meses. Conforme havia prometido em sessão, ela assinou ontem a CPI protocolada pelo vereador Paulo Gaspar (Novo) e que já alcançou o número de assinaturas para ser instaurada.

Diante da pressão da opinião pública e da denúncia de corrupção passiva contra o presidente afastado, Zé Carlos, outros dois procedimentos também ocorrerão na Câmara. Além da CPI, foi protocolada uma sindicância na Corregedoria da Câmara pelo vereador Cecílio Santos (PT) e a instauração de uma Comissão Especial de Estudos (CEE) de autoria do vereador Jorge Schneider (PL), que terá a incumbência de examinar os contratos firmados desde o primeiro dia de 2021 - início da nova legislatura -, além dos contratos vigentes assinados anteriormente. 

Além de Schneider, integram a CEE os vereadores Juscelino da Barbarense (PL), Paulo Haddad (CIDAD), Carlinhos Camelô (PSB) e Marron Cunha (SDD).

"Eu não assinei a comissão de estudos porque já estava nos meus planos verificar todos os contratos assim que eu assumisse. De forma alguma eu deixaria de fazer isso. Nós devemos isso à sociedade. Então, como presidente, eu já iria fazer isso. E vou fazer. Vai ter a CPI. Eles vão ter a comissão de estudos deles, mas a presidência também verificará todos os contratos", disse.

Sobre a CPI, a vereadora afirmou que facilitará todas as apurações e acesso do Ministério Público a documentos para que seja possível investigar tudo. "Como o próprio vereador Zé Carlos falou, que façam uma devassa em todos os documentos e em todos os que estão envolvidos. E no que depender de mim, vou conduzir com a maior transparência e tranquilidade, de forma que seja feito tudo o que for necessário para esclarecer essas denúncias, porque a sociedade nos cobra isso", disse.

Escândalos

A Câmara Municipal de Campinas está, há mais de um mês, imersa em escândalos envolvendo casos de corrupção em contratos terceirizados e que são investigados pelo Ministério Público há cerca de um ano. Desde o dia 22 de setembro, o clima esquentou ainda mais após a divulgação de áudios que mostram o vereador Zé Carlos e o advogado Rafael Creato, então subsecretário de Relações Institucionais da Câmara, em conversas com um empresário da cidade em supostas negociações visando a continuidade do contrato de prestação de serviços da TV Câmara.

De acordo com o teor das conversas gravadas, há indícios de que a renovação do contrato da emissora estaria condicionada ao pagamento de propina no valor de até R$ 1 milhão. 

Segundo a nova presidente da Câmara, com a instalação da CPI, serão definidos seis parlamentares que farão parte dos trabalhos, além do vereador Paulo Gaspar, autor do requerimento e que presidirá os trabalhos. "O que eu repudio na classe política são esses atos de corrupção que a gente vê. Então, o que eu puder fazer para resgatar a credibilidade do bom político, do político que vem trabalhar para fazer o que é correto, vocês podem contar comigo", disse.

Imagem da Câmara

Dentro da promessa de trabalhar para recuperar a imagem da Câmara junto à população, Palermo afirmou que atuará fortemente na melhoria da qualidade dos projetos e proposições da Câmara, bastante questionada pela população.

Além de estar manchado por escândalos, o Legislativo é tido como inoperante pela maioria dos campineiros. "Tenho ficado muito incomodada com as pautas que nós temos tido. Só nomes de ruas, honrarias. Em uma cidade onde se tem tanto para produzir, isso é muito pouco", destaca.

Segundo Palermo, uma das propostas que pretende implementar para elevar a qualidade da produtividade da Câmara será dar agilidade aos projetos parados nas diversas comissões legislativas existentes. Para isso, disse que se reunirá com as comissões e vereadores. "É uma das pautas que já fiz com o pessoal do gabinete. O problema da produtividade é que temos muitos projetos parados nas comissões. Então, vou conversar com as comissões e com os vereadores para que analisem esses projetos e os tragam para a pauta", disse.

Para a vereadora é uma honra ser a primeira mulher a ocupar o cargo de presidência da Câmara Municipal de Campinas. "Eu gostaria que tivesse sido de outra forma. Eu não fui eleita presidente. Fui eleita vice-presidente. Não deixa de ser uma conquista, mas acho que nós, mulheres, temos que conseguir chegar ao cargo no meio legítimo no voto direto. Isso seria bem mais bacana", disse.

Questionada sobre os casos de machismo que aconteceram na Câmara, Palermo afirmou reconhecer o machismo estrutural da Casa, mas não se sente intimidada. "Na última sessão, assim que eu disse que assinaria a CPI, eu era a única mulher rodeada de vários homens, mas isso não me intimida. Aqui, somos quatro vereadoras e temos demonstrado muita capacidade. Mas se nós, mulheres, bobearmos é como dizem os mais jovens, nós somos 'canceladas'", disse.

Para tentar garantir que o Parlamento campineiro seja palco de debates e menos de ataques pessoais, a vereadora disse também que vai conversar com a Corregedoria da Casa para discutir os ritos internos. 

Na atual legislatura, foram cinco os casos de representação de parlamentares na Corregedoria. "Vou conversar com o corregedor sobre o que a Corregedoria acha para uma adequação. Talvez tenhamos que rever algumas coisas diante desse fatos que vêm ocorrendo na Casa, vamos verificar se existe alguma dificuldade de atuação nos casos de quebra de decoro", disse.

Palermo fica no cargo pelos próximos 30 dias, período de afastamento do ex-presidente Zé Carlos. No final deste ano, em dezembro, a Câmara terá eleição para o próximo biênio da mesa diretora, mas o regimento interno da Casa impede que Palermo possa disputar o pleito.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por