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Desconhecimento marca câncer de rim

O Instituto Nielsen apontou em pesquisa ? a nível internacional ? realizada no último ano, que menos de três a cada dez brasileiros têm informações sobre o diagnóstico, tratamento, causas e prevenção

Daniel de Camargo
21/04/2018 às 21:13.
Atualizado em 28/04/2022 às 06:27
Só no ano passado, 6.255 brasileiros foram diagnosticas com a doença, segundo o relatório Globocan (iStock/Banco de Imagens)

Só no ano passado, 6.255 brasileiros foram diagnosticas com a doença, segundo o relatório Globocan (iStock/Banco de Imagens)

Apesar de 6.255 pessoas terem sido diagnosticadas com câncer de rim no Brasil em 2017, segundo relatório Globocan, da Agência Internacional Para Pesquisa em Câncer, ligada à Organização Mundial de Saúde (OMS), o tema ainda é pouco conhecido no País, embora este seja um dos tumores com maior taxa de mortalidade em todo o mundo. O Instituto Nielsen apontou em pesquisa — a nível internacional — realizada no último ano, que menos de três a cada dez brasileiros têm informações sobre o diagnóstico, tratamento, causas e prevenção. Ao todo, participaram da análise 2.067 pessoas com mais de 18 anos, incluindo 414 brasileiros. Todavia, a porcentagem nacional de leigos sobre o conteúdo é superior às taxas dos outros países participantes. No caso, Argentina, Chile, Colômbia e México. O assunto, entretanto, está em alta, uma vez que vem sendo explorado pela novela O Outro Lado do Paraíso, da Globo. O levantamento indica ainda que 86% dos brasileiros entrevistados responderam que esperam encontrar essas informações na internet. Contudo, só 14% veem as entidades governamentais como fonte de informação, respaldando o julgamento popular de que a divulgação sobre essa patologia é insatisfatória no Brasil. Quase imperceptível Maria Gabriela Rosa, médica do Instituto Nefrológico de Campinas (INC Nefro), afirma que apenas 10% dos pacientes apresentam os sintomas clássicos da doença, como sangue na urina, massa palpável ou dor abdominal. “O câncer de rim pode se manter oculto durante um longo período”, explica. Devido à localização do órgão, a possibilidade de apalpação ocorre somente em estágios avançados, ou seja, quando já invadiu outras partes do corpo humano. Contudo, os cidadãos devem atentar a outros indicativos que podem remeter à patologia, como perda de peso, cansaço, suor excessivo à noite e pressão alta. Para ela, a melhor prevenção é adotar hábitos de vida saudáveis. “Os cuidados devem ser redobrados entre as pessoas com hipertensão arterial, obesas ou fumantes, que têm maiores chances de desenvolver o câncer de rim”, adverte. Maria Gabriela revela ainda que, a enfermidade pode ser originada a partir de algumas síndromes genéticas raras, ou, ainda, “acometer pacientes portadores de insuficiência renal em diálise (fenômeno de retenção de substâncias de peso maior por membranas semipermeáveis) e usuários crônicos de analgésicos e anti-inflamatórios não esteroides”. A nefrologista certifica que as pessoas que têm entre 60 e 80 anos são as mais atingidas, com idade média de diagnóstico próxima dos 64. A especialista esclarece também que há vários tipos da patologia, mas a mais comum é o carcinoma de células renais, que representa entre 80% e 85% dos casos. Nada mais é do que “uma consequência da transformação das células dos túbulos que formam os néfrons, que passam a proliferar de forma anormal”. Néfrons são estruturas que filtram e formam a urina, e os túbulos, são os locais por onde circulam os líquidos com substâncias que serão eliminadas ou reaproveitadas pelo organismo. Novela ajuda a dar visibilidade ao problema Na trama de Walcyr Carrasco, a atriz Julia Dalavia (foto) interpreta Adriana, diagnosticada com o tumor. Além da descoberta, o transplante renal e a hemodiálise vem sendo abordados, dando uma perspectiva completa de enfermos em condições similares. A nefrologista Maria Gabriela diz que a iniciativa é muito válida, devido a patologia ser detectada, na maior parte dos casos, em exames de rotina em pacientes assintomáticos, a exemplo da personagem. Ela ressalta que trazer o tópico para o horário nobre ajuda a alertar quanto “a importância da avaliação médica periódica”, pois, “quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maiores são as chances de cura”. Ela lembra, porém, que se trata de uma obra de ficção e, por isso, orienta as pessoas a buscarem um especialista para esclarecer suas dúvidas. No início do mês, a Sociedade Brasileira de Negrologia (SBN) enviou uma carta à Globo “esclarecendo alguns pontos sobre a doença renal crônica”. Um trecho do texto aconselha a trama a “informar e demonstrar que há vida normal após o diagnóstico e que tratamentos, como a hemodiálise — filtragem do sangue por uma máquina que faz o trabalho que o rim doente não pode fazer — e transplante geram qualidade de vida e permitem que o paciente continue levando sua vida, da melhor maneira possível”. A emissora carioca já abordou o tema transplante de órgão anteriormente. A novela Em Família, exibida em 2013, contava com um personagem — interpretado por Reynaldo Gianecchini — que precisou de um transplante de coração. Na época, o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, registrou um aumento de 19% no número de procedimentos. SAIBA MAIS 3.761 homens e 2.494 mulheres foram diagnosticados com a doença no Brasil em 2017. A tendência é de aumento de casos nos próximos anos, considerando o processo de envelhecimento da população brasileira, a consolidação do tabagismo entre as mulheres nas últimas décadas e a progressão da obesidade, aponta levantamento da Globocan.

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