SEM SOLUÇÃO POR HORA

Desabastecimento de remédios afeta mais de 95% das farmácias em Campinas

Dado consta do levantamento realizado pelo Conselho Regional de Farmácia do Estado

Rodrigo Piomonte
16/08/2022 às 08:56.
Atualizado em 16/08/2022 às 08:56
Segundo o levantamento, faltam medicamentos básicos e de uso cotidiano, como antialérgicos, analgésicos e xaropes (Dado consta do levantamento realizado pelo Conselho Regional de Farmácia do Estado Kamá Ribeiro)

Segundo o levantamento, faltam medicamentos básicos e de uso cotidiano, como antialérgicos, analgésicos e xaropes (Dado consta do levantamento realizado pelo Conselho Regional de Farmácia do Estado Kamá Ribeiro)

O Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (CRF-SP) divulgou mais uma pesquisa enfatizando a preocupação com a falta de medicamentos nas farmácias. Em Campinas a entidade identificou que mais de 95% dos estabelecimentos informaram dificuldade em "driblar" o desabastecimento de medicamentos, situação que vem afligindo o país nos últimos meses. Diante desse cenário, a entidade já projeta dificuldades para solucionar o problema e aponta que a indústria já pressiona em relação aos custos dos remédios.

De acordo com o levantamento, faltam medicamentos básicos e de uso cotidiano, como antialérgicos, antimicrobianos, analgésicos e medicamentos para tosse, como xaropes e antitérmicos. 

Nessa segunda fase da pesquisa, realizada entre os dias 19 e 30 de julho, foram ouvidas mais de 2,3 mil farmácias no Estado. Em Campinas, envolveu 117 estabelecimentos farmacêuticos, 5,24% do total. A escassez de medicamentos ocorre em 112 locais pesquisados, ou seja, em 95,73% dos estabelecimentos. O estudo revelou ainda que o desabastecimento segue afligindo farmácias da rede privada e pública, tanto dentro como fora dos hospitais. Conforme os dados, 81,20 % dos estabelecimentos ouvidos são privados, 16% públicos e 3,56% outros.

A entidade reafirma a necessidade da categoria orientar os pacientes a pedirem aos médicos opções alternativas de medicamentos no momento da consulta. "Curiosamente, na comparação com o levantamento anterior, não vimos muita mudança, a não ser mais farmacêuticos informando que outros itens começaram a faltar nas prateleiras", disse Luciana Canetto, vice-presidente do CRF-SP.

O CRF tem um caráter fiscalizador, mas enfatiza o papel do farmacêutico como aliado e principal fonte de informação e orientação ao paciente. "Diante do problema de escassez e desabastecimento de medicamentos, estamos tentando ajudar na saúde da população e no combate à desinformação", completou.

Em Campinas, 75,21% dos estabelecimentos informaram sofrer com o desabastecimento de medicamentos anti-histamínicos, como a Loratadina, antialérgico usado no alívio dos sintomas de rinite.

A falta de antimicrobianos, que são drogas com capacidade de inibir o crescimento de microorganismos e indicadas para o tratamento de infecções microbianas sensíveis, atinge 94,02% estabelecimentos.

Outro medicamentos em falta em 84,5% das farmácias são os mucolíticos, xaropes para tosse com catarro. O desabastecimento de analgésicos comuns, como dipirona e paracetamol, os anti-inflamatórios - aspirina, ibuprofeno e diclofenaco - e os opióides (morfina, codeína e tramadol) atinge 64,10% das farmácias consultadas. Os medicamentos considerados de outras classes tiveram falta registrada por 52,14% dos estabelecimentos da cidade.

Demora

O atendente farmacêutico Jaime Bastilha Barbeiro, de 60 anos, confirmou a dificuldade. "A falta já vem há alguns meses. Recebemos poucos medicamentos e eles acabam rapidamente, porque são produtos que saem bastante. Hoje, curiosamente, estamos recebendo alguns genéricos, que também já estavam faltando, devido à substituição daqueles em falta. Mas estamos recebendo em baixo número e existe demora na reposição", contou.

Uma das principais causas do desabastecimento está relacionada à falta de matéria-prima, devido à guerra da Ucrânia e a crise entre EUA e China, conforme o CRF. Além da dificuldade de fabricação do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), chamado insumo fundamental, a entidade afirma que o problema agora afeta também os envases de medicamentos líquidos.

A demanda pediátrica tem sofrido com o desabastecimento. A falta de antibióticos durante o período de inverno e alta de casos doenças respiratórios, principalmente em crianças, preocupa a entidade. "As crianças consomem mais medicamentos líquidos e a situação se agrava agora com o problema do envase", comenta a vice-presidente do CRF.

A dona de casa Izabela Bortoleto Santos, de 34 anos, sentiu na pele o problema. Ao precisar buscar remédio para a filha de 4 anos, Izabela passou por três farmácias da região central e não encontrou sequer uma dipirona, medicamento antitérmico. "É muito difícil. As crianças sofrem nesse período. O jeito é continuar procurando", disse.

Segundo a vice-presidente do CRF-SP, a entidade já entrou em contato com os órgãos do governo federal, que reconheceram o problema, mas não deram retorno sobre uma solução. O Conselho informou que a médio prazo não enxerga saída para o contratempo e que a indústria começa a fazer pressão por conta do custo dos medicamentos.

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