desabafo

Depoimento de médico viraliza nas redes sociais

'Estamos sem leitos SUS de UTI em Campinas! Nenhum! E os casos de Covid não param de chegar, cada dia pior! Por favor, fiquem em casa!'

Francisco Lima Neto
27/05/2020 às 11:21.
Atualizado em 29/03/2022 às 10:52

Um médico que atua no Hospital Ouro Verde, em Campinas, relata a falta de leitos de UTI na unidade e afirma que a sensação de quem trabalha na linha de frente de combate à Covid-19 é de "enxugar gelo". O desabafo foi feito em uma rede social. Em entrevista coletiva on-line, o secretário de Saúde de Campinas, Carmino de Souza, afirmou que a Saúde está pressionada, mas que está trabalhando para o aumento da oferta de leitos e que nenhum munícipe vai ficar sem receber o atendimento necessário. "Estamos sem leitos SUS de UTI em Campinas! Nenhum! E os casos de Covid não param de chegar, cada dia pior! Por favor, fiquem em casa! Estamos implorando! Nós da linha de frente estamos sem ter o que fazer e a sensação é de enxugar gelo!", trazia o início da publicação do médico Leonardo Fantini. De acordo com o profissional, no último plantão ele contabilizou a morte de cinco pessoas em 12 horas, entre elas, uma mulher de 33 anos, com síndrome gripal e sem doenças anteriores. Ainda segundo o relato, a mãe dessa paciente estava internada na UTI, entubada, e o irmão estava com sintomas leves. "A sensação de impotência tá sendo gigante e só nos tem deixado esgotados. Tá na hora de lockdown! À parte de questões políticas, não tem outra solução. Tem que fechar tudo agora!", trazia outro trecho do depoimento. Até a tarde de ontem, a publicação contava com 2,4 mil curtidas, 1,1 mil comentários e 2,3 mil compartilhamentos. Na manhã de ontem, o secretário de Saúde Carmino Souza minimizou as declarações do médico do Ouro Verde, durante entrevista coletiva virtual. "Teve, na rede social, uma manifestação de um médico do pronto-socorro do Hospital Ouro Verde. Eu quero dizer que eu entendo. As pessoas lidam com as dificuldades de maneiras diferentes. Tem pessoas que lidam com mais leveza, mais profissionalismo, outras com mais emoção. Esse médico era do pronto-socorro, nem era da UTI. Ele não tinha a visão geral", afirmou o secretário. O prefeito Jonas Donizette (PSB) disse que todas as informações são divulgadas pela Prefeitura com transparência. "Não deixe se levar por vídeos que são feitos na internet. Não quero nem levar em conta a intenção que a pessoa faz. Mas, às vezes, não tem o devido preparo para falar aquilo que tá falando e não ajuda em nada, só causa um temor, uma desestabilização desnecessária", disse. Contudo, o secretário admitiu que a Saúde está pressionada pela demanda de leitos de UTI para Covid. "Nós temos três segmentos aqui na cidade. Temos segmento municipal, segmento estadual e segmento privado. Os três segmentos estão pressionados por leitos de UTI Covid. Hoje (ontem) de manhã, o Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp tinha apenas um leito de UTI Covid livre. O Ambulatório Médico de Especialidade (AME) está com 86% de ocupação de leitos de UTI. Nós, no Município também estamos pressionados, também temos poucos leitos. Ontem (segunda), tínhamos dois leitos de UTI. Nós estamos administrando. Nós temos os leitos de retaguarda", declarou Carmino. Tanto o secretário quanto o prefeito garantiram que não vão faltar leitos na cidade. "É importante as pessoas saberem que vamos garantir acesso e qualidade de acesso. As pessoas serão atendidas e serão cuidadas da melhor maneira possível. Expandimos leitos semana passada e estamos expandindo 30 leitos de UTI no Hospital Mário Gatti", afirmou o secretário. Ainda de acordo com ele, mais seis leitos estão sendo contratados na Casa de Saúde. "Estamos ampliando os leitos com segurança, com estrutura, nós não temos o leito de UTI, a transformação física vai ser pra UTI. Mas aquilo que compõe um leito de UTI, que é respirador, monitor, bombas de infusão, enfermagem, pessoal, está tudo garantido nesses 30 leitos que vamos ampliar no Mário Gatti", garantiu. Lotação compromete atendimentos O Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp está com 95% de ocupação dos leitos de UTI para os pacientes da Covid-19, segundo a assessoria. A lotação já prejudica outros atendimentos. Em um grupo sobre o novo coronavírus, uma participante afirmou que a vizinha de sua mãe, já idosa e com tumor no ouvido, está com dificuldades para continuar o tratamento na Unicamp. Ela sempre é acompanhada pela irmã. "O HC marcava a cirurgia, elas iam de ônibus, chegavam lá e era desmarcado porque diziam que não tinha UTI. Isto ocorreu várias vezes e o tumor crescendo. Foi informado que no HC da Unicamp não tem UTI, pois está tudo ocupado com Covid-19", traz trecho do relato. A assessoria da Unicamp respondeu que esse caso já está sendo verificado e que nos próximos dias a Unicamp vai anunciar o aumento de mais 18 leitos de UTI de Covid.

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