Vigilância Sanitária de Alimentos de Campinas registrou 259 queixas no ano passado, mais de um terço contra supermercados
Neste mês, a Vigilância Sanitária de Alimentos autuou um supermercado atacadista, localizado no Jardim Santa Mônica, após serem identificados vestígios de ratos em prateleiras do estabelecimento (Alessandro Torres)
A Vigilância Sanitária de Alimentos de Campinas registrou 259 queixas relacionadas a pragas em 2024. O número representa um aumento de 43% em relação ao ano anterior, quando o órgão recebeu 181 denúncias. Mais de um terço das denúncias foram contra mercados, 35,7%. Na sequência, a maior parcela de reclamações foi contra restaurantes (29,8%), bares e lanchonetes (18,2%) e padarias (10,5%).
A coordenadora do Departamento de Fiscalização de Alimentos, Anne Duarte explicou que não existe uma razão específica para o crescimento das queixas. “O que há em comum é a ausência de boas práticas, armazenamento incorreto e não ter o controle de pragas”. O procedimento correto passa pela contratação de uma empresa especializada. “Tal empresa precisa também ser licenciada, pois ela sabe quais produtos podem ser utilizados nas áreas de manipulação dos alimentos e quais as melhores estratégias para o combate das pragas”, afirmou. Além disso, o controle passa pela instalação de barreiras físicas, como telas nas janelas, ralo escamoteável, grades em outros tipos de ralos e rodos para a vedação de portas.
Anne ressaltou que as pragas podem surgir por uma série de variáveis, como o armazenamento incorreto dos alimentos, excesso de caixas, que podem servir como esconderijo para ratos e baratas, o acúmulo de objetos inservíveis e até mesmo a falta de comunicação adequada por parte das pessoas responsáveis pela limpeza do local. “A gerência tem que estar atenta para garantir que os funcionários cumpram os procedimentos corretamente”, alertou. A desinsetização deve ocorrer mensalmente nos locais que trabalham com produtos alimentícios. A recomendação para outros tipos de comércio é que o controle químico ocorra a cada três meses.
Segundo o biólogo Vladson de Mello, as pragas mais comuns em ambientes comerciais são baratas, escorpiões, cupins, formigas e ratos. Ele afirmou que as principais condições para a proliferação delas são a oferta de alimento e de água, existência de ambientes que possam servir de abrigo e a falta de limpeza. “As temperaturas altas somadas às condições citadas fazem com que as pragas se reproduzam mais e mais filhotes cheguem na fase adulta”, esclareceu. Mello explicou que a principal estratégia para combater as pragas é manter a limpeza em dia, impedindo a oferta de alimento e abrigo para os bichos. Ele destacou que o ideal é realizar uma manutenção em frestas e buracos, a instalação de barreiras físicas, especialmente em locais com acesso à rede de esgoto, “deixando os ralos sempre bem vedados e fechados”.
Tálita Cristina Ferreira é proprietária há 35 anos de um restaurante localizado na Rua Ernesto Khulmann, próximo ao Mercadão. Ela contou que quando assumiu o local existia a forte presença de baratas e ratos. “Demoramos cerca de seis meses para normalizar a situação”, contou. Tálita comentou que no período da noite é comum ver esses bichos circulando pelas ruas. Para se precaver, ela realiza a desinsetização mensalmente. “Aqui não temos mais esse problemas, pois quando se trabalha com comida a atenção tem que ser máxima.”
No Mercado Municipal de Campinas, o Mercadão, dentro da tenda provisória que abriga os permissionários até o término da reforma, o comerciante José Antônio Peres disse que para evitar qualquer problema envolvendo pragas guarda os produtos em câmaras frias e refrigeradores ao término do expediente. “Não constatamos nenhum problema que possa interferir no comércio.”
Ele explicou que quando as obras de reforma do Mercadão foram iniciadas, em 2023, houve uma infestação de escorpiões. “Os agentes vieram e realizaram a desinsetização em todas as áreas, resolvendo o problema”, recordou. José Antônio Peres reforçou que os comerciantes se juntam periodicamente para o controle químico das pragas. “Trabalhamos seriamente para manter a higiene e garantir a qualidade dos produtos.”
A coordenadora analisou que as queixas registradas não significam que um estabelecimento comercial esteja de fato irregular, já que uma parcela das denúncias é orientada por questões pessoais, como uma pessoa não ter gostado da comida ou do atendimento. “Tais queixas são a minoria, mas acontecem”, confirmou. Por isso, Anne destacou que as reclamações apresentadas devem conter o máximo de detalhamento possível. “Mesmo sendo uma queixa anônima, os detalhes são muito importantes, até porque eles vão constar no histórico da empresa.”
OCORRÊNCIAS
Uma das queixas apresentadas resultou na interdição de um estabelecimento comercial na região central de Campinas, no dia 15 de janeiro, após fiscalização realizada pela Vigilância Sanitária de Alimentos. A penalidade foi aplicada em virtude da infestação de baratas na cozinha, presença de equipamentos desativados e materiais inservíveis. Foi constatada também a ausência de barreiras físicas necessárias, entre elas tampas de lixeiras e espelhos de tomadas. Um processo administrativo foi aberto e os responsáveis não apresentaram defesa.
O proprietário do estabelecimento, Angelo Zobra, argumentou que a empresa contratada para fazer a desinsetização utilizava um produto inadequado para o controle das baratas. Ele alegou que não houve uma “infestação descontrolada” e que, após a troca da empresa, a situação foi controlada. Agora ele aguarda um parecer técnico da empresa contratada. Após esse procedimento, uma nova fiscalização da vigilância pode ser requisitada. Angelo disse que em seis anos como proprietário do comércio é a primeira vez que tal situação ocorre e que está resolvendo o problema para reabrir o local.
A empresa Espaço Arcadas Campinas, responsável pela administração do centro empresarial localizado na Rua José Paulino, reforçou por meio de uma nota que o problema ocorreu pontualmente no estabelecimento alimentício, sendo que o prédio recebe desinsetização completa a cada três meses. A administração do local afirmou que presta total suporte para a resolução do problema desde a identificação dos fatos. A nova empresa especializada começou no dia 15 de janeiro um rigoroso processo de eliminação total das pragas, utilizando ciclos específicos de tratamento com produtos adequados.
Em visita ao local o diretor administrativo, José Antônio, explicou que está constantemente em contato com o proprietário do estabelecimento interditado e que as medidas de higiene foram reforçadas. “Temos toda a documentação em dia e não houve problemas nas demais dependências do prédio”, garantiu. Ele também explicou que pelo fato de o edifício ser próximo ao Mercadão, a preocupação com o controle químico de pragas é constante. “É um ponto sensível e por isso realizamos o controle a cada três meses.”
Outro caso recente ocorreu na última terça-feira dia 4 de fevereiro. A Vigilância Sanitária de Alimentos autuou um supermercado atacadista, localizado no Jardim Santa Mônica, em Campinas, após vestígios de ratos serem encontrados em prateleiras do estabelecimento. A fiscalização, de acordo com a Secretaria de Saúde, foi motivada por uma denúncia realizada pelo telefone 156.
Em nota, a empresa lamentou a ocorrência na loja e disse que o processo de controle sanitário se encontra regular, respaldado por documentação pertinente. A empresa ressaltou que esse foi um caso isolado, uma vez que realiza constantemente ações para evitar infestações. Além disso, informou que reforçou imediatamente a limpeza de todas as gôndolas e racks de armazenamento de produtos. “A rede preza pela saúde dos clientes e colaboradores e busca oferecer sempre a melhor experiência de compras”, destacou.
Ao receber denúncias, a Vigilância Sanitária de Alimentos avalia o conteúdo e determina a ação a ser realizada, que pode ser uma inspeção no local ou capacitação de boas práticas com os responsáveis pelo estabelecimento. As denúncias sobre estabelecimentos alimentícios podem ser feitas pelo telefone 156 ou via WhatsApp, através do número: 19-2116-0156.
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