Autoridade sanitária apela à população para que elimine os focos de mosquitos
Agentes de saúde vistoriam residência em trabalho de prevenção à dengue: Secretaria de Saúde adverte que o poder público não tem condições de nebulizar todas as casas (Kamá Ribeiro)
Com 2.798 casos de dengue confirmados de janeiro até quarta-feira (12), as autoridades sanitárias de Campinas informaram que o município enfrenta uma plena epidemia da doença. Com isso, os profissionais que prestam serviços no atendimento médico público e privado foram orientados a observar qualquer sinal de sintomas característicos da moléstia para, imediatamente, iniciar os procedimentos terapêuticos recomendados ao tratamento, como a hidratação, essencial à proteção do paciente nesses casos. O atual estado epidêmico da dengue foi confirmado durante apresentação da situação epidemiológica das arboviroses (dengue, zika e chikungunya), realizada na quarta-feira à tarde no Paço Municipal.
A diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), Andrea von Zuben, fez a apresentação do cenário epidemiológico e depois participou de entrevista coletiva ao lado do secretário de Saúde, Lair Zambon. Ela explicou os parâmetros considerados para que a situação atual seja classificada como epidêmica. "A epidemia é um parâmetro de comparação de nós com nós mesmos. A gente considera 10 anos da nossa série histórica e retira os anos epidêmicos. Quando há no mês ou na semana epidemiológica um número de casos confirmados maior do que a média dos últimos dez anos, estamos em epidemia, e informamos o Estado, o Ministério (da Saúde), e (a informação) chega até a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e à Organização Mundial da Saúde, então, tecnicamente, estamos em epidemia."
Os dois gestores da Saúde reforçaram algo imprescindível para vencer as arboviroses: a ação da população para buscar e eliminar criadouros, uma vez que a Prefeitura estima que 80% deles estão dentro das residências. "A nossa preocupação é que não pode ter mosquito. A população de Campinas tem que retirar os criadouros. A Saúde não vai conseguir passar uma vez por semana na casa de 1,1 milhão de pessoas. Para não termos epidemia de dengue, chikungunya e zika, tem apenas um jeito: não ter água parada em criadouro disponível para o mosquito botar o ovo. Não tem outro jeito. Por mais inseticida que a gente mande, isso não é suficiente", frisou Andrea.
Mesmo com o alerta, a avaliação do secretário de Saúde e da diretora do Devisa é a de que o ano não deve ter recorde de casos, embora exista a possibilidade concreta de superar 2022 - quinto ano com mais casos desde 1998. Enquanto os primeiros meses de 2023 tiveram muito mais registros que 2022, Andrea von Zuben revelou que já há um arrefecimento na comparação entre o início deste abril com o do ano passado, o que o secretário Zambon atribui a um esforço do Poder Público e dos trabalhadores por meio das capacitações e ações realizadas diariamente.
"Nós visitamos (cerca de) 250 mil domicílios. Campinas comprou inseticida na frente, não ficou esperando vir do governo federal. Foram muitas medidas pró-ativas orientadas pelo Comitê (Municipal de Prevenção e Controle das Arboviroses), pela nossa Vigilância, e talvez esses números atuais sejam muito amenizados."
Zambon também frisou que a falta de controle da dengue tem potencial para desestruturar a saúde básica da cidade e que os Centros de Saúde - os tradicionais postinhos - são a porta de entrada para pacientes que têm suspeita de dengue. Caso sintomas como febre apareçam, a orientação é a de buscar atendimento em alguma Unidade Básica de Saúde (UBS) pela proximidade com a residência do paciente e a necessidade da pessoa voltar ao Centro de Saúde algumas vezes para o acompanhamento padrão que é realizado, além de poder ajudar a evitar mais casos nas redondezas.
Sobre o inseticida, há um problema de abastecimento desde o ano passado. Andrea von Zuben disse que não é possível realizar atualmente a nebulização veicular, importante em áreas de transmissão mais extensas, sendo possível apenas utilizar o inseticida para a nebulização costal, que acontece em áreas restritas. Prevendo a situação há alguns meses, a Prefeitura comprou com recursos próprios o inseticida para manter um estoque estratégico até a entrega do produto pelo Ministério da Saúde, o que deve acontecer entre o final de abril e início de maio.
A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, confirmou ao prefeito Dário Saadi (Republicanos) na terça-feira que um novo inseticida para combater as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti deve chegar aos municípios no mês que vem. De acordo com Ethel, o novo produto é menos agressivo ao meio ambiente e tem menos impacto em animais. O Fludora Co-Max, nome do inseticida, deve ajudar a regularizar a situação.
Região Noroeste
Em Campinas, o maior número de notificações está na região Noroeste, o que foi analisado pela diretora do Devisa como uma explosão de casos. A incidência por lá está em 426,8 casos a cada 100 mil habitantes. A região Sul tem a menor incidência, de 67,8 casos por 100 mil habitantes. A incidência em Campinas era de 228,9 casos a cada 100 mil habitantes na Semana Epidemiológica 14, finalizada em 8 de abril. Duas semanas antes, na 12, a incidência era de 184,6.
"A região Noroeste realmente tem duas características importantes. Alta densidade populacional - muita gente - então o mosquito pica com facilidade. E alta densidade vetorial, que é muito criadouro. Essas duas características juntas são bombásticas para a dengue."
O Brasil passa por uma epidemia de dengue e também de chikungunya. Na Semana Epidemiológica 14, de 2 a 8 de abril, foram 192 óbitos por dengue confirmados no país e mais 249 em investigação, com a letalidade em 3,1%. Há um aumento de 29% em relação ao mesmo período de 2022.
A chikungunya, menos letal (0,02%), vitimou 12 pessoas no período e mais 31 mortes estão sendo investigadas, crescimento ainda mais significante que o da dengue, de 52%, em relação ao ano passado. Andrea von Zuben explicou que embora a letalidade seja baixa, o problema do chikungunya não é a possibilidade de óbito apenas, mas o longo período, que pode durar meses, com algumas dores e dificuldades em retomar normalmente a vida. Ela também revelou que há um risco de termos uma epidemia da doença no ano que vem em Campinas. No ano passado, os casos importados estavam mais distantes, em estados da região Nordeste, porém em 2023 há uma presença importante de Minas Gerais, estado mais próximo.
Enquanto a curva de casos de dengue e chikungunya no Brasil não apresenta grandes oscilações, para o zika, outra arbovirose, são muito mais registros no começo de 2023 do que em 2022. Por mais que seja uma doença branda para a maioria das pessoas, a preocupação com o zika é mais direcionada às gestantes e seus bebês e o combate ao Aedes aegypti é essencial para evitar uma onda de casos.