EPIDEMIA

Dengue dispara em Campinas e quantidade de casos cresce 800% em 18 dias

Até segunda-feira, 1.202 registros haviam sido confirmados; em 2023 foram necessárias nove semanas para romper a barreira dos mil casos

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
30/01/2024 às 09:09.
Atualizado em 30/01/2024 às 09:09
Além dos mutirões, que contam até com drones para identificar possíveis áreas com criadouros do mosquito Aedes aegypti, diariamente a Prefeitura realiza uma série de ações com o intuito de acabar com o vetor da doença e controlar os casos de dengue na cidade; ontem, a vistoria das equipes chegou até a Vila União (Alessandro Torres)

Além dos mutirões, que contam até com drones para identificar possíveis áreas com criadouros do mosquito Aedes aegypti, diariamente a Prefeitura realiza uma série de ações com o intuito de acabar com o vetor da doença e controlar os casos de dengue na cidade; ontem, a vistoria das equipes chegou até a Vila União (Alessandro Torres)

A dengue avança em Campinas e o número de casos confirmados aumentou nove vezes em apenas 18 dias, saltando de 134, no balanço divulgado no dia 11, para 1.202 na segunda-feira (29). O crescimento de 797% fez com que o município ultrapassasse a marca de mil registros positivos em menos da metade do tempo em relação a 2023, de acordo com o Painel Interativo de Arboviroses da Secretaria Municipal de Saúde. Em 2024, a marca foi ultrapassada na quarta semana, enquanto em 2023 ocorreu na nona, quando a cidade atingiu 1.052 confirmações da doença

Campinas vive uma epidemia de dengue desde abril do ano passado, mês em que a situação foi reconhecida pela Prefeitura. Somente os casos registrados em janeiro deste ano representam 10,67% do total acumulado de 11.268 notificações em 2023. Em 2023, o município registrou três mortes por dengue. O último óbito foi confirmado em dezembro, uma mulher de 37 anos, moradora da área de abrangência do Centro de Saúde (CS) do Jardim Eulina, região Norte. Os outros dois óbitos foram em março e junho.

Desde 2023, a cidade acumula 12.350 casos de dengue, o que levou a Prefeitura a desencadear no começo do mês o que chamou de operação de guerra contra o mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença e também da zika e chikungunya. Equipes de vários órgãos municipais participam de mutirões em bairros para eliminar criadouros do inseto. Durante as operações, drones são usados para sobrevoar imóveis fechados ou abandonados com o objetivo de identificar locais com acúmulo de água que facilitam a proliferação do mosquito, como lixo, garrafas, pneus e tambores.

INCIDÊNCIA

A atual combinação de onda de calor e dias chuvosos no verão é um fator de risco para o avanço da dengue. Para o coordenador do Programa de Arboviroses e Zoonoses de Campinas, Fausto de Almeida Marinho Neto, é essencial que a população colabore na eliminação de criadouros. “Basta reservar dez minutos por semana para percorrer o ambiente domiciliar e eliminar os focos de água parada. Esses preciosos minutos fazem toda a diferença no combate à dengue”, explicou.

A região atendida pelo Centro de Saúde do Jardim Eulina lidera a incidência da doença em 2024 e o número absoluto de casos confirmados. São 895,7 registros por 100 mil habitantes e 189 casos da doença em 2024, de acordo com o Painel Interativo de Arboviroses. Ou seja, um em cada seis casos confirmados ocorreu no Centro de Saúde que atende ao Jd. Eulina e outros bairros próximos. Como referência, a Vila 31 de Março aparece em segundo lugar no ranking, com a incidência de 632,6 casos por 100 mil moradores e 44 confirmações da doença.

“Eu estou com febre alta, dor no corpo e tenho mal-estar”, afirmou o aposentado José Messias Alves, que teve a dengue confirmada na semana passada e continua em tratamento e acompanhamento no CS Eulina. O motorista Nelson Horário Crispim está afastado há uma semana do emprego por causa da doença e ainda não tem previsão de retorno. “Tem dia que estou melhor, aí pioro no outro. Sinto muita moleza, dor no corpo e às vezes não tenho vontade nem de sair da cama”, afirmou após tomar soro e tirar nova amostra de sangue para verificar o andamento da doença.

“Eu peguei o resultado do exame que fiz na sexta-feira e o número de plaquetas no sangue estava ainda mais baixo. Eu somente vou poder voltar a trabalhar quando as plaquetas normalizarem”, explicou Nelson Crispim.

Para outro morador do Eulina, o aposentado Valter Pedrini, é essencial que a população colabore e permita que as equipes da Prefeitura entrem nas residências para eliminar os focos do Aedes aegypti.

“Nas últimas semanas eles já estiveram duas vezes em casa e no final da tarde fazem o fumacê. Estamos tendo apoio, mas é importante que as pessoas aceitem a vistoria”, completou ele, que mora na Rua Guido Segalho. Valter Pedrini disse que o filho de 41 anos, que também mora no bairro, pegou dengue há duas semanas e passou muito mal.

O comunicado Alerta Dengue emitido na segunda-feira pela Prefeitura apontou 12 bairros com alto potencial de transmissão da doença. São eles:

  • Parque São Quirino e Vila 31 de Março (Leste);
  • Jardim Campineiro, Jardim São Marcos e Vila Esperança (Norte);
  • Jardim Rossin (Noroeste);
  • Jardim Nova Europa e Vila Campos Salles (Sul);
  • Cohab, Imperial Parque e Jardim Conceição (Suleste);
  • Vila União (Sudoeste).

O boletim, que está em sua 50º edição, foi implementada como estratégia de enfrentamento às arboviroses e auxilia no direcionamento de ações para a prevenção e combate à dengue.

VACINA

Apesar da proliferação da dengue, Campinas ficou de fora da lista de 521 municípios brasileiros que receberão a vacina contra a doença para a campanha de imunização do Ministério da Saúde. A campanha é voltada prioritariamente para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, que é a faixa etária no país com maior número de internações. A imunização está prevista para começar em fevereiro com o uso da vacina Qdenga.

O motivo para a não inclusão de Campinas na lista de cidades que receberão o imunizante é que não há casos registrados do sorotipo 2 do vírus da dengue (DENV-2), um dos três critérios utilizados pelo Ministério da Saúde na definição da estratégia de vacinação. De acordo com a Prefeitura, o sorotipo DENV-2 não circula no município desde 2021.

“A ação do governo é fundamental para controlar a disseminação da doença, especialmente em regiões com alta transmissão. A imunização em larga escala contribui para a redução do número de casos e complicações relacionadas à dengue”, disse a médica infectologista Camila Ahrens.

Apesar de ser considerado um grupo de risco, a vacina contra a dengue não será disponibilizada para idosos. A imunização não é indicada para esse grupo devido a complicações relacionadas à idade. “O sistema imunológico dessas pessoas pode não responder tão eficientemente à vacina. Além disso, estudos mostram que a imunização em idosos pode aumentar o risco de manifestações graves da doença”, explicou a infectologista.

Em Campinas, o maior número de casos de dengue se concentra na faixa etária de 20 a 39 anos, com o acumulado em 2024 de 444 casos, o equivalente a 41,3% do total. Na faixa de 10 a 19 anos, são 140 registros (11,65%).

Apesar da exclusão de Campinas dos municípios que participarão da campanha, a Secretaria de Saúde entende que a cidade tem fatores de risco que facilitam a reintrodução dos tipos 3 e 4 do vírus Aedes aegypti. Entre eles, está o fato de ser cortada pelas principais rodovias paulistas, ter o Aeroporto Internacional de Viracopos, que é um dos principais de passageiros do país, e o fluxo de turistas durante o Carnaval.

O tipo 3 do vírus circulou pela última vez em Campinas em 2009. Já o tipo 4 foi registrado anteriormente em 2014. Crianças e adolescentes, além de adultos e idosos que não tiveram contato com a doença antes, são considerados os grupos mais vulneráveis no caso de uma reintrodução desses sorotipos na cidade. Há risco de dengue grave quando uma pessoa é infectada por um tipo diferente ao anterior.

Camila Ahrens recomendou a vacinação na rede particular para aqueles que podem arcar com o custo, uma vez que dose da vacina custa, em média, R$ 450. “A prevenção individual contribui não apenas para a saúde pessoal, mas também para a diminuição da transmissão da doença na comunidade. A escolha de buscar a vacinação particular deve ser baseada na avaliação do risco individual e na capacidade de investimento”, afirmou a infectologista.

VACINA NACIONAL

O Instituto Butantan está desenvolvendo uma vacina nacional contra a dengue. De acordo com o centro de pesquisa, ligado ao governo estadual, das mais de 10 mil pessoas que receberam o imunizante na fase 3 de testes apenas três (menos de 0,1%) apresentaram eventos adversos graves, e todos se recuperaram totalmente. A frequência de eventos adversos foi semelhante entre as três faixas etárias (2-6, 7-17 e 18-59 anos). Os primeiros resultados apontaram uma eficácia do imunizante de 79,6%. Segundo o instituto há “previsão para o término do estudo em 2024, quando o último participante completar 5 anos de acompanhamento”.

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