Segundo biólogo, vírus demorou para chegar às pequenas localidades pelas características desses municípios, que têm pouca circulação de pessoas
Cidades como Engenheiro Coelho, Holambra, Jaguariúna e Santo Antonio de Posse ? todas com menos de 50 mil habitantes ? registraram uma explosão de casos neste ano ( César Rodrigues/ AAN)
A epidemia de dengue não é um problema exclusivo das grandes cidades, e pequenos municípios da Região Metropolitana de Campinas (RMC) também estão sofrendo com o Aedes aegypti. Cidades como Engenheiro Coelho e as vizinhas Holambra, Jaguariúna e Santo Antonio de Posse — todas com população inferior a 50 mil habitantes — registram uma explosão de casos neste ano, segundo dados do Departamento de Zoonoses do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo atualizados até a última quinta-feira. De acordo com o Ministério da Saúde, é considerado epidemia quando atingir pelo menos 300 casos por 100 mil habitantes. Os quatro municípios possuem taxas que configuram epidemia, formando um ‘cinturão’ da dengue na região.Em Engenheiro Coelho, o número de infectados até abril passou de apenas cinco em 2014 para 126 neste ano, o que corresponde a um aumento de mais de 2.000%. Jaguariúna não fica atrás, e viu as ocorrências saltarem de 54 para 585, alta de 983%. Em Holambra e Santo Antonio de Posse, a dengue também avançou. Em abril do ano passado, a “Cidade das Flores” contabilizava somente 22 casos, e neste ano já são 135. Já em Santo Antonio de Posse os casos confirmados de dengue dobraram, passando de 208 para 418. A cidade é a segunda da região com a maior incidência na relação de casos por 100 mil habitantes, atrás somente de Sumaré. Para o biólogo Ovando Provatti, da Vigilância em Saúde Norte (Visa Norte) de Campinas, o vírus demorou para chegar às pequenas cidades pelas característica desses municípios, que têm pouca circulação de pessoas. Por isso a epidemia chegou somente este ano, e veio com força. “Não existe uma ilha, os municípios estão cada vez mais colados. Depende de vários fatores, como sorotipo e a imunidade. O homem é o principal vetor da dengue e municípios pequenos têm pouco trânsito de pessoas de fora e mercadorias, por isso a circulação do vírus é mais lento. Mas a partir que atinge cresce rápido”, analisa.Segundo Provatti, a tendência é que os casos de dengue comecem a baixar a partir de maio, mas a crise hídrica pode mudar esse cenário. “Se a condição do clima continuar seco e a temperatura caindo, esperamos ter menos mosquito e uma queda natural na epidemia a partir da 1ª quinzena de maio. Mas o problema é a crise hídrica, porque o pessoal costuma armazenar água e às vezes de forma inadequada”, lembra.Moradora do bairro Bela Vista, um dos mais afetados pela dengue em Santo Antonio de Posse, a dona de casa Pascoalina Cândido Gandolpho, de 45 anos, conta que pessoas da sua família já tiveram dengue e mostra preocupação com o avanço da doença na cidade. O temor é ainda maior por causa de um matagal que toma conta lado da casa de Pascoalina. Repleto de lixo e entulho, o local é propício para ser um criadouro do mosquito.“Meus parentes pegaram, não sei se foi aqui no bairro. A gente ouve falar bastante, no ano passado estava mais tranquilo. Estou muito preocupado com esse mato, mas ninguém toma nenhuma providência. Já vieram olhar mas não fizeram nada, o pessoal passa e joga lixo”, reclama. As prefeituras das quatro cidades alegam que estão colocando em prática diversas ações para combater a dengue. A Secretaria de Saúde de Santo Antonio de Posse diz ter intensificado o combate ao mosquito. Entre as medidas estão a contratação de mais um médico para reforçar o diagnóstico e tratamento; aquisição de seis cadeiras de hidratação para o início imediato do tratamento dos pacientes, arrastões de combate a criadouros e conscientização porta a porta pelos agentes de saúde.No entanto, a secretária de Saúde de Santo Antonio de Posse, Sônia Aparecida Alves, atribui a elevação no número de casos aos descuidos da população e pede a colaboração dos moradores da cidade para reduzir os focos e criadouros do Aedes aegypti. “A população precisa colaborar e limpar as casas e terrenos. Em um dia que fizemos arrastão foram recolhidos mais de três caminhões de lixo. A falta d'água também prejudicou, porque o pessoal armazena a água e deixa aberto. A tendência agora é diminuir, mas se a população não ajudar vai ficar difícil”, afirma. Segundo ela, a cidade já viveu epidemia semelhante há quatro anos. “Em 2011 tivemos uma epidemia dessa aqui. Se a população não tomar consciência, cada ano vai ficar pior”, completa. Em Jaguariúna, a administração diz que a prevenção está mobilizando grande parte das secretarias. Entre as ações estão os arrastões para combate aos criadouros do mosquito; visitas casa a casa; reuniões nos bairros das equipes de Saúde com moradores para esclarecimentos sobre prevenção da doença e nebulização nos locais que apresentam grande concentração do Aedes aegypti. A prefeitura de Holambra adotou desde o início do ano ações de conscientização e combate à proliferação do mosquito transmissor. Uma equipe especializada nesse tipo de ação percorre toda a cidade orientando moradores e eliminando possíveis criadouros. A Prefeitura de Engenheiro não retornou aos contatos.