EPIDEMIA

Dengue avança nas pequenas cidades da região de Campinas

Segundo biólogo, vírus demorou para chegar às pequenas localidades pelas características desses municípios, que têm pouca circulação de pessoas

Bruno Bacchetti
26/04/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 15:38
Cidades como Engenheiro Coelho, Holambra, Jaguariúna e Santo Antonio de Posse ? todas com menos de 50 mil habitantes ? registraram uma explosão de casos neste ano ( César Rodrigues/ AAN)

Cidades como Engenheiro Coelho, Holambra, Jaguariúna e Santo Antonio de Posse ? todas com menos de 50 mil habitantes ? registraram uma explosão de casos neste ano ( César Rodrigues/ AAN)

A epidemia de dengue não é um problema exclusivo das grandes cidades, e pequenos municípios da Região Metropolitana de Campinas (RMC) também estão sofrendo com o Aedes aegypti. Cidades como Engenheiro Coelho e as vizinhas Holambra, Jaguariúna e Santo Antonio de Posse — todas com população inferior a 50 mil habitantes — registram uma explosão de casos neste ano, segundo dados do Departamento de Zoonoses do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo atualizados até a última quinta-feira. De acordo com o Ministério da Saúde, é considerado epidemia quando atingir pelo menos 300 casos por 100 mil habitantes. Os quatro municípios possuem taxas que configuram epidemia, formando um ‘cinturão’ da dengue na região.Em Engenheiro Coelho, o número de infectados até abril passou de apenas cinco em 2014 para 126 neste ano, o que corresponde a um aumento de mais de 2.000%. Jaguariúna não fica atrás, e viu as ocorrências saltarem de 54 para 585, alta de 983%. Em Holambra e Santo Antonio de Posse, a dengue também avançou. Em abril do ano passado, a “Cidade das Flores” contabilizava somente 22 casos, e neste ano já são 135. Já em Santo Antonio de Posse os casos confirmados de dengue dobraram, passando de 208 para 418. A cidade é a segunda da região com a maior incidência na relação de casos por 100 mil habitantes, atrás somente de Sumaré. Para o biólogo Ovando Provatti, da Vigilância em Saúde Norte (Visa Norte) de Campinas, o vírus demorou para chegar às pequenas cidades pelas característica desses municípios, que têm pouca circulação de pessoas. Por isso a epidemia chegou somente este ano, e veio com força. “Não existe uma ilha, os municípios estão cada vez mais colados. Depende de vários fatores, como sorotipo e a imunidade. O homem é o principal vetor da dengue e municípios pequenos têm pouco trânsito de pessoas de fora e mercadorias, por isso a circulação do vírus é mais lento. Mas a partir que atinge cresce rápido”, analisa.Segundo Provatti, a tendência é que os casos de dengue comecem a baixar a partir de maio, mas a crise hídrica pode mudar esse cenário. “Se a condição do clima continuar seco e a temperatura caindo, esperamos ter menos mosquito e uma queda natural na epidemia a partir da 1ª quinzena de maio. Mas o problema é a crise hídrica, porque o pessoal costuma armazenar água e às vezes de forma inadequada”, lembra.Moradora do bairro Bela Vista, um dos mais afetados pela dengue em Santo Antonio de Posse, a dona de casa Pascoalina Cândido Gandolpho, de 45 anos, conta que pessoas da sua família já tiveram dengue e mostra preocupação com o avanço da doença na cidade. O temor é ainda maior por causa de um matagal que toma conta lado da casa de Pascoalina. Repleto de lixo e entulho, o local é propício para ser um criadouro do mosquito.“Meus parentes pegaram, não sei se foi aqui no bairro. A gente ouve falar bastante, no ano passado estava mais tranquilo. Estou muito preocupado com esse mato, mas ninguém toma nenhuma providência. Já vieram olhar mas não fizeram nada, o pessoal passa e joga lixo”, reclama. As prefeituras das quatro cidades alegam que estão colocando em prática diversas ações para combater a dengue. A Secretaria de Saúde de Santo Antonio de Posse diz ter intensificado o combate ao mosquito. Entre as medidas estão a contratação de mais um médico para reforçar o diagnóstico e tratamento; aquisição de seis cadeiras de hidratação para o início imediato do tratamento dos pacientes, arrastões de combate a criadouros e conscientização porta a porta pelos agentes de saúde.No entanto, a secretária de Saúde de Santo Antonio de Posse, Sônia Aparecida Alves, atribui a elevação no número de casos aos descuidos da população e pede a colaboração dos moradores da cidade para reduzir os focos e criadouros do Aedes aegypti. “A população precisa colaborar e limpar as casas e terrenos. Em um dia que fizemos arrastão foram recolhidos mais de três caminhões de lixo. A falta d'água também prejudicou, porque o pessoal armazena a água e deixa aberto. A tendência agora é diminuir, mas se a população não ajudar vai ficar difícil”, afirma. Segundo ela, a cidade já viveu epidemia semelhante há quatro anos. “Em 2011 tivemos uma epidemia dessa aqui. Se a população não tomar consciência, cada ano vai ficar pior”, completa. Em Jaguariúna, a administração diz que a prevenção está mobilizando grande parte das secretarias. Entre as ações estão os arrastões para combate aos criadouros do mosquito; visitas casa a casa; reuniões nos bairros das equipes de Saúde com moradores para esclarecimentos sobre prevenção da doença e nebulização nos locais que apresentam grande concentração do Aedes aegypti. A prefeitura de Holambra adotou desde o início do ano ações de conscientização e combate à proliferação do mosquito transmissor. Uma equipe especializada nesse tipo de ação percorre toda a cidade orientando moradores e eliminando possíveis criadouros. A Prefeitura de Engenheiro não retornou aos contatos.

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