Quatro cidades próximas a Campinas - Itapira, Sorocaba, Sumaré e Limeira - registraram mortes pela doença; órgãos de saúde temem alastramento da epidemia
Hospitais de Campinas sofrem com a superlotação por causa da dengue ( Cedoc/RAC)
A dengue avança com força na região de Campinas. Com o resultado de novas análises, o número de casos e de mortes disparou no início de março. Itapira confirmou nesta terça-feira mais nove mortes, Sumaré apura mais dois óbitos e em Limeira já são seis vítimas da doença. Já em Sorocaba, a apenas 70 km de distância, oito pessoas já morreram e são quase 9 mil casos confirmados. Com quadros epidêmicos tão próximos de Campinas, se torna cada vez mais importante que as pessoas façam a sua parte em casa. Eliminar criadouros, usar repelentes, fechar janelas nos horários de maior incidência do mosquito, pulverizar a casa com veneno e outras técnicas — nem sempre certificadas — valem para tentar se proteger da doença. Sazonalidade Avaliações de especialistas apontam para um avanço da dengue em abril e maio — meses conhecidos como de pico da doença. A explicação para isso está no comportamento do clima e na sazonalidade do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. Ou seja, em janeiro as chuvas não foram tão intensas quanto em fevereiro e início de março, e com o calor as infestações mais expressivas podem ocorrer mais tarde. Entretanto, em Campinas, somente no primeiro mês do ano foram confirmados 614 casos, número 134% maior que janeiro de 2014 — ano em a cidade teve a maior epidemia da sua história com 41 mil casos. O secretário municipal de Saúde, Carmino de Souza, afirmou que ainda não há como fazer uma projeção de como a doença se comportará nos próximos meses. Risco “Tivemos a antecipação dos casos, mas somente o tempo vai dizer se a curva epidemiológica vai seguir o mesmo curso dos anos anteriores, com picos na segunda quinzena de abril. Se assim for, teremos uma epidemia grande, mas podemos ter mudanças ao longo do tempo. Não dá para prevermos”, disse. Segundo o último balanço divulgado pela Prefeitura, Campinas está com 888 casos de dengue confirmados, e tem em análise mais de 2,4 mil suspeitas. Dos confirmados, 35% se concentram na região Sul do município, em bairros como Campo Belo, Jardim Fernanda e São Domingos. “O que precisa ser feito é intensificar as ações de combate aos criadouros do mosquito e cuidar da assistência”, disse o secretário. O aumento de casos de dengue avança em todo Estado e tem deixado os moradores das cidades cada vez mais preocupados. São mais de 100 mil casos suspeitos da doença em grande parte dos municípios paulistas. A maior parte dos registros concentra-se nas regiões Norte e Noroeste. Em 13 cidades já foram confirmadas mortes ou suspeita de morte pela doença. Prevenção nas farmáciasCom o anúncio do número de casos e o avanço da doença em praticamente todas as regiões de Campinas, muita gente corre para adquirir produtos que se propõem, principalmente, em repelir o Aedes aegypti. Extrato de citronela e alecrim, cravos de molho no álcool ou espetados no limão, pedaço de casca de laranja ou limão em aparelhos elétricos no lugar dos tabletes de repelentes e misturas com óleos aromáticos são algumas das sugestões para repelir o mosquito. Mas para Michelle Polli, coordenadora do curso de Farmácia da Universidade São Francisco, nada é 100% eficaz. “A ação mais simples é evitar o nascimento do mosquito, eliminando os lugares que eles escolhem para a reprodução”, ressaltou. Muda de citronela A cabeleireira Irene de Almeida, de 53 anos, disse que tomou todas as medidas de eliminação de possíveis criadouros de dengue em sua casa, no bairro Chapadão, mas estava à procura de uma muda de citronela nas bancas do Mercado Municipal. “Eu já passo óleo de citronela no corpo, ajuda a espantar os insetos. Mas agora vou plantar na frente de casa para ajudar ainda mais”, contou. Michelle Polli adianta: “Os repelentes caseiros têm limitações com relação à eficácia. E com os industriais precisa tomar cuidado em relação à toxicidade de cada produto, ou seja, analisar com cuidado quantas vezes aplicar no corpo e outros elementos para não afetar a saúde do usuário”, explicou. O comerciante Cláudio Barreto, de 55 anos, não pode reclamar da venda de incensos, também à base de citronela. Há praticamente um mês vende por semana de 25 a 30 varetas perfumadas que, segundo os clientes, espantam pernilongos e outros insetos. Em duas lojas ao lado da sua, Ademir Rodrigues, de 58 anos, adquiriu há três semanas um estoque de raquetes elétricas. “Esperamos vender bastante, já que nessa época a procura no ano passado foi muito grande”, lembrou.Inseticida De acordo com o biólogo Ovando Provatti, da Vigilância em Saúde Norte de Campinas, qualquer inseticida mata o Aedes aegypiti, mas a fêmea, após se alimentar, diminui a atividade e acaba “se escondendo” atrás de cortinas e embaixo de móveis, o que dificulta o contato com o veneno. O inseticida deve ser aplicado debaixo das mesas, camas e atrás das geladeiras. “A melhor forma, como já foi dito, é eliminar criadouros. A tela na janela ajuda muito. O mosquito é intradomiciliar, ela vai estar dentro da sua casa para se alimentar. A trama da tela deve ser menor que 1 milímetro para que o mosquito não entre”, orientou. Vive 30 dias Segundo Provatti, a dengue pode se tornar uma epidemia porque a fêmea infectada vive por 30 dias e precisa de 3 a 3,5 miligramas de sangue para que seus ovos amadureçam. Enquanto ela não consegue essa quantidade, segue picando pessoas. Como ela tem hábitos diurnos, é normal que sejam afugentadas, antes de conseguirem a quantidade de sangue de uma mesma pessoa. “Portanto, uma fêmea pica várias pessoas. Se ela estiver infectada, vai espalhar o vírus.” Sintomas da dengue clássicaFebre alta (acima de 38ºC)Dores de cabeçaDores atrás dos olhosDores muscularesManchas e erupções na pele, principalmente no tórax e membros superioresNáuseas e vômitosCansaço extremo e indisposição Sintomas da dengue hemorrágicaDores abdominais fortesVômitos constantes, com ou sem sanguePele pálida, fria e úmidaSangramento pelo nariz, boa e gengivasManchas vermelhas na peleSonolência, agitação e confusão mentalSede excessiva e boca secaDificuldade respiratóriaPulso rápido e fracoPerda de consciência