A aposentada Neusa Buffo, moradora do bairro Jardim Nova Europa, se recupera da dengue, após permanecer oito dias acamada (Kamá Ribeiro)
Os casos de dengue continuam em ascensão na cidade de Campinas tanto na rede pública quanto nos laboratórios que realizam exames particulares. Em dois laboratórios da cidade, a procura por exames explodiu, com o índice de resultados positivos também em alta. No laboratório Ramos Medicina Diagnóstica, o aumento na demanda foi observado desde o mês de fevereiro, quando 253 exames foram realizados com 20% de positividade. Em 2021, durante o mesmo mês, foram 183 exames, mas com apenas 3% de resultados positivos. Agora, em abril, o laboratório observou o maior crescimento em relação ao ano anterior. Até o dia 24 foram realizados 1.511 exames, média diária 359% superior a abril de 2021, e em 40% deles houve a confirmação da dengue.
O índice de resultados positivos é o mesmo no Fleury Medicina e Saúde. Durante algumas semanas, o laboratório observou que a cada dez exames realizados, quatro traziam o diagnóstico da doença. O infectologista do laboratório, Celso Granato, explicou que o aumento era esperado, pois tradicionalmente há muitas contaminações em abril e maio, porém, a multiplicação de registros da doença está maior do que a expectativa inicial.
"A pessoa vem ao consultório com febre e dor de cabeça e o médico tem que pensar em uma série de possibilidades, entre elas a dengue. Acertar 40% dos casos é uma positividade bastante alta. Eu diria que o esperado seria 15%, no máximo 20%. Então se há o acerto do diagnóstico com uma frequência maior, isso significa que a doença está muito mais frequente". A média diária de positividade no laboratório até o dia 26 de abril está em 34,4%, superior aos meses de março (23,25%), fevereiro (9,09%) e janeiro (3,45%).
No Ramos Medicina Diagnóstica, o detalhamento dos números dá a dimensão de quanto os casos subiam mesmo antes de abril. Na comparação entre os meses de janeiro de 2021 e 2022, o crescimento foi de 50,2%. Em fevereiro, 49,7%. O aumento de um ano para outro no mês de março foi de 180,3%. Em janeiro a positividade estava em 3%, foi para 20% em fevereiro e 37% em março. A biomédica analista clínica do laboratório, Lira Elena Ramirez, explicou que a situação deve melhorar nos próximos meses com a diminuição do período de chuvas e enumerou alguns sintomas comuns a quem busca o diagnóstico.
"A dengue aumentou após o período de chuvas, sobretudo em abril, pelo crescimento dos criadouros do mosquito Aedes aegypti, que também transmite zika e chikungunya. Por isso, mais pessoas estão procurando laboratórios clínicos para confirmar o diagnóstico. Muitos reclamam de febre. A característica da dengue é dar uma febre maior que 38 graus, dor de cabeça, nos olhos, articulação, fraqueza, falta de apetite. No meu ponto de vista estamos em um momento de pico, as autoridades públicas estão trabalhando bastante para conseguir conter a dengue. Com as estações mudando, as chuvas diminuindo, o mosquito vai desaparecendo."
Combate à dengue
A aposentada Neusa Buffo, de 62 anos, moradora do bairro Jardim Nova Europa, sentiu muitos dos sintomas descritos pelos especialistas. Três semanas após sentir os primeiros sinais da dengue, ela ainda está se recuperando. Durante esse período, Neusa passou oito dias na cama. Ela nunca tinha se contaminado com a dengue e não sabia a gravidade dos sintomas.
"É um mal-estar muito grande, por isso estou assustada. Ainda não melhorei, ontem (terça-feira) tive que ir a um Pronto-Socorro porque um exame de sangue veio com alteração, com suspeita de trombose, mas ainda bem que foi descartado. Após me sentir mal no dia 7, tive a comprovação que era a dengue no dia 12. Fiquei de cama até o dia 20, eu não sabia que era tão grave. Não conseguia fazer nada, levantar, comer - e olha que eu não comer é algo grave, não costumo ter falta de apetite com nada. Era uma fadiga muito grande. Eu ouvia comentários de pessoas que já tinham tido dengue, mas você só sabe o que é quando passa. Você não tem energia, é um conjunto de sintomas ruins. Eu tive muito enjoo".
Com o susto que teve, Neusa pensou no próximo e tomou providências para tentar evitar que mais pessoas passem pelo o que ela passou. "Eu passei a usar repelente com mais frequência. Uso durante o dia, depois do banho, para dormir... Recomendei o mesmo a um grupo de amigas, também à minha mãe, que é idosa e tem uma pessoa que fica com ela, e pego no pé do meu marido."
De acordo com levantamento do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), 80% dos criadouros estão dentro das residências, portanto o poder público pode realizar ações, mas o combate ao Aedes aegypti precisa do apoio da população para ser bem sucedido, como analisou Neusa. "É uma doença que depende do nosso combate, de pensar no próximo. Um exemplo é não deixar água acumulada."
Em repouso por mais alguns dias, a aposentada não esperou estar totalmente recuperada para também conscientizar a vizinhança. "Estou pedindo a todos que usem muito o repelente. Eu não tenho planta, não deixo água parada, mas achei alguns mosquitos dentro de casa e acho que peguei aqui. Eu avisei todos os meus vizinhos para tomarem cuidado porque eu estava passando muito mal. A minha filha também comunicou à Vigilância Epidemiológica, que agradeceu e deve estar fazendo algum trabalho, porque a situação aqui está séria".