O depoimento foi feito sob sigilo, mas o áudio acabou vazando no final de semana. Nele, Câmara explica o que era o Plano B da Vitale no esquema
O delator do Caso Ouro Verde, Daniel Câmara, ex-diretor da Vitale, disse em depoimento na Comissão Processante, na quinta-feira, que o esquema de corrupção no Hospital Ouro Verde visava garantir recursos para pagamento de dívidas de campanha da reeleição do prefeito Jonas Donizette (PSB) em 2016. O plano era fazer um aditamento ao contrato — a Vitale esperava conseguir R$ 40 milhões com a sub-rogação para garantir o equilíbrio financeiro — e uma parte dos recursos, de cerca de R$ 400 mil mensais, seria devolvida à Prefeitura em forma de propina. O plano, segundo ele, não foi executado. O depoimento foi feito sob sigilo, mas o áudio acabou vazando no final de semana. Nele, Câmara explica o que era o Plano B da Vitale no esquema de desvios de recursos públicos do hospital. O ex-servidor municipal Maurício Rosa, um dos investigados pelo Ministério Público, seria encarregado de montar esse Plano B de desvios de recursos: ele trataria de trabalhar a proposta de reequilíbrio financeiro do contrato, e uma parte do dinheiro seria devolvida para cobrir gastos de campanha. Segundo Câmara, Maurício Rosa e o advogado Marcelo Scalão afirmavam que agiam em nome do alto escalão do governo. O vereador Marcelo Silva (PSD), que denunciou Jonas à Câmara e pediu sua cassação, perguntou, nesse momento, quem era o alto escalão e, logo em seguida, se era o prefeito. Daniel Câmara responde então que sim, que era Jonas. Nas mais de duas horas de depoimento na Comissão Processante, o delator repetiu informações que já havia dado ao Ministério Público. Falou da exigência feita pelo ex-secretário de Assuntos Jurídicos Sílvio Bernardin (que está preso em São Paulo), após a Vitale ter sido homologada na licitação, para a contratação de Gustavo Godoy para coordenar o serviço de imagem do hospital, além da contratação do Laboratório Silveira & Stacheti Análises Clínicas Ltda, de Danilo Silveira, presos na terceira fase da Operação Ouro Verde e de uma lavanderia. O contrato da lavanderia não sai, segundo Câmara, porque os preços estavam acima do mercado. A defesa de Gustavo Godoy disse que supreendeu o vazamento de um depoimento que estava sob sigilo, mas que mostrou que a Vitale tinha liberdade de contratação e que Gustavo negociou valores com ele e o preço foi o da conveniência da OS. “Os serviços foram prestados, os valores foram de mercado e que não há que se falar em superfaturamento”, disse Ralf Tórtima. O Correio não conseguiu contato com a defesa dos demais citados. Daniel Câmara contou como foi seu contato com o lobista Fernando Vitor, falou do encontro com Anésio Corat Jr. em que cobrou propina. Ele teria afirmado que havia gostado da demonstração da competência técnica da Vitale, mas queria saber o que ganharia com isso. “O Fernando interrompeu e disse que depois cuidaria disso.” Câmara disse que depois ficou sabendo que Fernando Vitor pagava de R$ 20 mil a R$ 25 mil por mês pela ajuda. Idoneidade O prefeito Jonas Donizette disse ontem que um episódio como esse (depoimento do delator) lhe dá atestado de idoneidade. “Não é qualquer pessoa que em um ano de escuta telefônica não tenha nada que envolva meu nome. Sempre quando me citam falam que eu agi em defesa da população. Só estive com Daniel Câmara uma vez, na assinatura do contrato”, afirmou. Maurício Rosa será ouvido pelo Ministério Público O ex-servidor da Prefeitura Maurício Rosa, apontado como o Plano B da Vitale no esquema de desvio de recursos do Hospital Ouro Verde, será ouvido hoje pelo Ministério Público para informar se foi coagido a não comparecer à Comissão Processante da Câmara Municipal na última quinta-feira. Ele deveria depor como testemunha de acusação no processo que investiga se o prefeito Jonas Donizette (PSB) foi omisso e cometeu crime de responsabilidade no Caso Ouro Verde. Maurício foi convocado pelo MP após o promotor Daniel Zulian receber ofício do vereador Marcelo Silva (PSD), em que denuncia o prefeito e outros investigados por suposta obstrução de Justiça e coação. Maurício Rosa, segundo o delator Daniel Câmara, apontado como dono da Vitale, a ex-gestora do hospital, seria responsável por montar um esquema de desvio de verbas, caso a proposta de reequilíbrio financeiro da gestora, de cerca de R$ 40 milhões, não desse certo, para possível devolução do dinheiro em forma de propina. Testemunhas de defesa depõem nesta terça-feira A Comissão Processante indeferiu ontem o pedido do prefeito Jonas Donizette para depor hoje, após as oitivas das testemunhas de defesa. A data foi mantida para quinta-feira, mas antecipada para as 8h30, para que seja dado tempo para as partes envolvidas estudarem os depoimentos das testemunhas de defesa, que ocorrerão hoje, a partir das 14h. Jonas pediu adiamento porque na quinta-feira estará no Supremo Tribunal Federal (STF), representando a Frente Nacional de Prefeitos (FNP). A comissão vai ouvir hoje sete das 11 testemunhas arroladas pela defesa do prefeito, em audiência às 14h. O deputado federal Carlos Sampaio (PSDB) e o deputado estadual Barros Munhoz (PSB) não comparecerão, mas não explicaram os motivos. Também não irão Sílvia Helena Barthos e Reinaldo Oliveira, ambos servidores municipais, que foram dispensados. A defesa do prefeito não informou o motivo das dispensas. Serão ouvidos hoje Marcos Pimenta (presidente da Rede Mário Gatti), Carmino Souza (secretário de Saúde), Wanderley de Almeida (secretário de Relações Institucionais), Thiago Milani (secretário de Gestão e Controle), Ivanilde Ribeiro (servidora municipal), Messias de Oliveira (procurador municipal) e Daniela Caldo Nunes (procuradora municipal). Os depoimentos terão transmissão ao vivo pela TV Câmara e pelos canais da Câmara nas redes sociais.