Campinas e mais duas cidades da região entram na rota de grandes temporais
Alira Gomes Ramos, moradora do Jardim São Marcos, perdeu quase todos os seus móveis durante o temporal que inundou a sua casa (Rodrigo Zanotto)
A previsão de chuvas torrenciais para os próximos três dias colocou em "Estado de Atenção" o município de Campinas e mais duas cidades da região - Valinhos e Santa Bárbara d'Oeste. O alerta foi confirmado na terça-feira (6) pela Defesa Civil diante do elevado nível de precipitação pluviométrica medido pelo órgão nas últimas 72 horas. Os temporais previstos para a região devem superar os 80 milímetros, o que aumenta o risco de alagamentos e deslizamentos de terra em áreas de risco. Na última segunda-feira, por exemplo, dez casas foram inundadas no Jardim São Marcos, devido à tempestade que atingiu a cidade no meio da tarde.
De acordo com a Defesa Civil, a previsão é de que as chuvas sejam intensas em Campinas nas próximas 72 horas, com 109,4 milímetros. Em Valinhos, a precipitação deve atingir 80 milímetros e Santa Bárbara D´Oeste, 97 milímetros. A ocorrência de chuvas acima do limite de 80 milímetros a cada 72 horas é a barreira que determina a mudança do estado de "Observação" para o de "Atenção". "Diante deste cenário, recomenda-se atenção especial às áreas mais vulneráveis, pois há risco de deslizamentos, desabamentos, alagamentos, enchentes e ocorrências relacionadas a raios e ventos", diz a nota da Defesa Civil.
Algumas áreas da cidade foram duramente atingidas, como o bairro Parque das Bandeiras, que registrou o maior ponto de precipitação da cidade com 31 milímetros e o Jardim São Marcos, cujos moradores sofreram com alagamentos. Foram dez famílias que começaram a semana enfrentando uma enxurrada e as marcas que foram deixadas pela pancada d'água. A terça-feira começou com faxina e contabilização do prejuízo por conta do temporal que começou por volta das 16h da segunda-feira.
Moradores da Rua Roberto Bueno Teixeira, no Jardim São Marcos, acreditam que não foi somente a água da chuva a responsável pela inundação de suas casas. Para eles, a situação se agravou com o transbordamento ocorrido no ribeirão e numa boca de lobo construída pela Prefeitura. A dona de casa, Cleonice de Jesus Matos, é uma das moradoras que teve sua casa invadida pelo aguaceiro. De acordo com ela, a água começou a entrar com muita intensidade e rapidamente atingiu todos os cômodos. Ela, que mora próximo do ribeirão, mostrou as marcas da água nas paredes de sua residência que chegaram a 40 centímetros do solo.
A casa da funcionária pública Jennifer dos Santos foi uma das mais atingidas. De acordo com ela, mesmo com o imóvel localizado num lugar elevado, isso não impediu de atingir os seus pertences. Ela diz que perdeu cama, guarda-roupas, o berço de seu filho, além de mantimentos da família. "Eu tive que perder meu dia de serviço. Meus chefes não gostaram, mas preciso tentar organizar minha casa", diz a agente de organização escolar.
Assim Jennifer, a sua vizinha Alira Gomes Ramos teve que colocar muitos dos seus móveis em cima de cadeiras e mesas. Ela ainda não contabilizou os prejuízos. As barragens que ela montou em todas as entradas da casa não foram suficientes para conter a água. Em sua casa os mantimentos ficaram boiando na água, que, como ela diz, "estava suja e fedida". A dona de casa diz que perdeu tudo e que só aguarda o caminhão da Prefeitura para carregar aquilo que eram seus móveis. Ela relata que recebeu da Secretaria de Assistência Social três colchões, roupas e um cartão Nutrir de R$ 115 para comprar comida para as quatro pessoas que moram com ela em sua casa. "Todo ano entrava a água, mas entrava água da chuva. Não água do encanamento que eles fizeram agora. Eles (a Prefeitura) disseram que não ia entrar mais água... nós estávamos na expectativa. Mas a água que entrou agora não é da chuva, foi do esgoto deste encanamento que eles fizeram", desabafa a moradora.
A reclamação de Alira Ramos e de seus vizinhos relaciona-se a uma obra feita na rua para evitar alagamentos. De acordo com ela, durante a chuva, a água do ribeirão Quilombo subiu por uma boca de lobo e invadiu as casas. Os moradores disseram que há anos a água não invadia as suas residências e atribuem à obra a culpa pelo alagamento. "Veio água suja de tudo, de esgoto de encanamento", relata Alira.
De acordo com a Prefeitura, as obras realizadas no local são oriundas do PAC Quilombo - programa de investimentos em infraestrutura do governo federal. O objetivo das intervenções, concluídas há um mês, era o de facilitar o escoamento da água, além de pavimentar o solo com paralelepídedos. Questionada sobre as queixas dos moradores do São Marcos, a Prefeitura descartou a possibilidade da obra ter ocasionado o problema e atribuiu o alagamento ao volume de chuvas e ao lixo acumulado nestes locais. "O alagamento está relacionado ao alto índice de chuva em pouco tempo, dificultando o escoamento da água. Outros motivos para alagamentos são lixo e entulho descartados irregularmente, que entopem as bocas de lobo e os leitos de córregos. É importante ressaltar que a obra realizada no bairro foi feita justamente com o intuito de conter inundações", diz trecho da resposta da Prefeitura de Campinas.
A Prefeitura reforçou que equipes estão no local para trabalhar no desassoreamento do ribeirão, limpeza nas margens do córrego e retirada de descarte irregular, lixo e entulho jogados nas margens e no ribeirão. A Defesa Civil pede para que a população envie uma mensagem de texto de seu celular para o número 40199. Por este canal, o morador poderá receber alertas de chuva. A secretária de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, Vandecléya Moro, e funcionários da Cohab estiveram no local para atender as dez famílias atingidas, entregando colchões, roupas e vale alimentação.