ENTREVISTA

Debora Palermo condena o machismo na Câmara de Campinas

Vereadora revela como enfrenta o preconceito na presidência da Casa

Rodrigo Piomonte
18/12/2022 às 10:02.
Atualizado em 18/12/2022 às 10:02
A presidente da Câmara, Debora Palermo, visita a sede do Correio Popular (Rodrigo Zanotto)

A presidente da Câmara, Debora Palermo, visita a sede do Correio Popular (Rodrigo Zanotto)

Descendente de italianos que chegaram há mais de cinco gerações na região dos distritos de Joaquim Egídio e Sousas para trabalhar nas fazendas cafeeiras da época, a vereadora Debora Palermo (PSC) é a convidada do presidente-executivo do Correio Popular, Ítalo Hamilton Barioni, para essa entrevista especial de domingo. Primeira mulher da história do parlamento campineiro a ocupar a presidência da Câmara Municipal, Débora fala sobre o machismo que impera dentro da Casa de Leis e os boicotes que sofreu desde que assumiu a presidência da mesa diretora.

Com uma personalidade inquietante, a vereadora diz que a sua luta é por uma Câmara mais produtiva, plural e renovada. Segundo ela, Campinas merece ter uma política que mire menos os projetos pessoais e o poder e mais as necessidades da cidade. É com esse espírito crítico, ético e pulsante que a vereadora revela, com exclusividade, que atenderá a pedidos e colocará o seu nome na disputa para próxima eleição da mesa diretora da Câmara a ser realizada dia 20 ou 21 próximos, mesmo que as cartas da eleição no Legislativo já estejam distribuídas e marcadas.

A parlamentar discorreu sobre as suas origens, sua ligação com os distritos de Sousas e Joaquim Egídio, onde cresceu, trabalhou e onde mantém residência até hoje. Professora de educação física de formação, Debora fala da profissão, dos quatro mandatos como conselheira tutelar e dos caminhos que a levaram a ocupar o cargo político mais importante da cidade abaixo do prefeito e do vice-prefeito. Débora assumiu a presidência da Câmara em novembro deste ano em meio a uma crise por conta da renúncia de Zé Carlos (PSB), alvo de investigação por corrupção passiva. Casada, mãe e, aos 57 anos, a vereadora eleita com 1.937 votos para a legislatura 2021-2024, conta como tem sido legislar no parlamento campineiro.

A sra. é tipicamente campineira. Fale um pouco da sua ligação com Campinas?

Eu nasci na Usina Salto Grande, em Joaquim Egídio, que foi tombada como patrimônio cultural de Campinas pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Arquitetônico. Meus tataravós eram italianos e portugueses imigrantes que chegaram em Joaquim Egídio. Eram colonos de fazenda. Aquele muro da Fazenda Capoeira Grande em Joaquim Egídio foi o avô do meu avô quem fez. Meu avô contava sempre essa história. Falava que foi o avô dele que construiu aquela fazenda. Eles moravam também na Fazenda de Cabras. A família foi se estabelecendo ali na região. Com o tempo deixaram a fazenda e foram ficando ali, depois passaram a ter um comércio. Meu bisavô que fez o primeiro cinema de Sousas. Sousas naquela época era muito cheia, tinha muitos colonos. Quando acabou o ciclo do café as coisas foram mudando. Meu avô foi trabalhar na CPFL e foi morar na usina Salto Grande. Ele era chefe da usina. Então eu e minhas três irmãs nascemos lá. Meus dois irmãos já nasceram em Sousas. Eu fui para Sousas com 4 a 5 anos de idade.

Além de professora, a sra. tem outras especializações?

Sou professora de educação física formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Trabalhei na rede estadual de ensino e fui conselheira tutelar por quatro mandatos atuando na proteção dos direitos das crianças e adolescentes. Tenho especialização em violência doméstica contra crianças e adolescentes pelo Centro de Combate à Violência Infantil, e em proteção ao uso e abuso de substâncias psicoativas pela Universidade Federal de Santa Catarina.

A sra. é bem conhecida como moradora da região dos distritos de Sousas e Joaquim Egídio?

Sempre me mantive em Sousas e Joaquim Egídio. Desde criança, depois vieram os tempos de escola, depois de conselheira tutelar e agora de parlamentar. Dei aula em escolas de Sousas e Joaquim Egídio. Então o pessoal me conhece há muito tempo. Tive a cantina da escola também. Então, quem não foi meu aluno passou pela cantina da escola. Lecionei na Escola Estadual Thomas Alves Doutor, em Sousas, e na escola estadual Francisco Barreto Leme, em Joaquim, na Vila Santana. Cresci e trabalhei sempre ali.

Sua ligação com as crianças e adolescentes veio da atuação como professora. A sra. tem uma filha, correto?

Tenho uma filha advogada, a Carolina. Mas na minha vida como professora minha ligação com as crianças sempre foi intensa. Minha mãe morava na rua do Clube Regatas, em Sousas. Por conta do trabalho com as crianças nas escolas eu sempre era procurada em casa. Quando precisavam de qualquer coisa eles me procuravam lá. E eu vivia ajudando.

E a experiência com o Conselho Tutelar. Foram quatro mandatos?

Quando teve a primeira eleição do conselho tutelar, minha irmã sugeriu eu participar. Decidi e fiz minha inscrição no último dia. Me lembro até hoje da correria que foi juntar toda a documentação. É bem rigoroso. Fui eleita para o meu primeiro mandato em 2006. Fiquei 12 anos no conselho. Sempre trabalhando nessa questão da defesa da criança e do adolescente.

Seu trabalho tinha eco nos meios políticos. Ou seja, o CMDCA tem voz, as demandas são executadas?

Era um trabalho sem muito eco. Eu era coordenadora do conselho Leste. Eu sempre mandava as estatísticas apontando para as políticas públicas para as crianças para Câmara, Prefeitura e nunca um político ouvia. Nada, era sempre sem respostas. Até que teve aquela fase de 15 mil crianças fora da creche. Nós fizemos uma representação no Ministério Público e o prefeito da época, Dr. Hélio teve que construir as escolas Naves Mães. Não demos trégua na luta, porque criança fora da creche não é só um direito violado, é uma porta aberta para outros problemas e crimes, como abusos sexuais, por exemplo. Pois a criança fica na casa de um, de outro. Atendemos muitos casos desse tipo em Campinas. E a atividade é a de sempre estar "brigando", no bom sentido, com o poder público atrás de melhoria. E até dizia na época: "um dia eu vou ser vereadora e vocês vão ter que me engolir. As crianças vão ter voz lá dentro".

E quando foi que concorreu às eleições pela primeira vez?

Fiquei por dois mandatos no Conselho e em 2012 foi que concorri pela primeira vez às eleições para o cargo de vereadora. Logo que saí do conselho. Eu queria resolver o problema, nunca tinha pensado em política de fato. Eu era filiada ao MDB por conta do Dr. Nivaldo Dóro. Uma vez o dr. Nivaldo foi ao Conselho pedir apoio para uma convenção. Na ocasião ele pediu para o pessoal se filiar. Eu me lembro que disse a ele que eu me filiaria e depois me desfiliaria no dia seguinte. O dr. Nivaldo era muito atuante no CMDCA. E pra resumir: não teve convenção e ele não me desfiliou, e quando eu vi eu estava filiada em um partido político e assim foi possível eu disputar a minha primeira eleição.

E como foi a experiência?

Cheia de fatos inusitados. Na véspera da eleição, cassaram o Dário Saadi, que era candidato a vice do Pedro Serafim, que concorria a prefeito. Com a saída do Dário, o MDB me colocou como vice do Pedro. Me lembro bem. Eu estava na 13 de Maio, tinha feito campanha. Estava com uma campanha muito forte. E meu irmão me liga dando a notícia que ele já tinha escutado na rádio que eu era vice do Pedro com a saída do Dário.

A sra. fez campanha para vereadora e saiu como vice-prefeita?

O partido me indicou. Aí tocou o telefone o Dário. E o Dário me disse para eu ir para a Prefeitura. Fui até o quarto andar da Prefeitura e numa mesa estava o Baleia Rossi, o Dário e o Pedro que vira e diz que ficava ao meu critério aceitar ou não a indicação, mas que fazia muito gosto se eu fosse a vice dele. Ele falou que precisava de alguém e disse que queria que eu fosse. Então assinei e assim comecei minha carreira política.

Foi a eleição que o Pedro Serafim perdeu para o Jonas Donizette. É isso?

Sim. Fiz toda uma campanha para vereadora, mas nos 45 minutos do segundo tempo meu nome saiu como vice-prefeita. Eu tinha muita chance de ser eleita vereadora. Aí voltei para a escola. Fiquei como coordenadora na escola estadual Prof. Adalberto Nascimento por três anos. E voltei para o CMDCA. Prestei prova e depois fui eleita de novo. Fiquei mais um mandato. Me candidatei de novo em 2016. Tive 1.400 votos e não me elegi. Fiquei como suplente. E agora em 2020 me candidatei de novo e fui eleita com 1.930 votos, sem equipe, sem financiamento de ninguém. Praticamente sozinha. Eu e minha equipe, que era eu, minha filha e mais algumas pessoas.

A sra foi eleita pelo PSC, correto. E como foi chegar a vice-presidente da Câmara?

Eu estava no grupo de sete vereadores novatos, de primeiro mandato, e disse que o que eu queria era a presidência da comissão da criança e adolescente. E nosso grupo optou por apoiar o Rossini para o cargo de presidente da mesa diretora. Eu era a única mulher. E no final o Rossini desistiu, e resolveu apoiar o Zé Carlos e me perguntou se eu o apoiaria. Eu reiterei que gostaria da comissão da criança e adolescente, mas disse que seria importante uma mulher compondo a mesa, não precisava ser eu. E o Rossini disse que iria ser vice do Zé Carlos, mas depois abriu mão para eu ser a vice e consegui pegar a comissão da criança e do adolescente. Então o Rossini abriu mão e perguntou se eu viria com os sete do grupo de novatos. Eu disse que poderia conversar com eles. E nosso grupo fechou que o que um decidisse todos apoiariam, era a nossa força naquele momento. E eu acabei ficando como vice para pegar a comissão das crianças e adolescentes.

E acabou se tornando a base do governo e depois a primeira presidente mulher da Câmara, com a saída do Zé Carlos?

Sim, não foi nada planejado. E tem sido um desafio muito grande, principalmente, devido ao momento de crise que o Legislativo atravessa. Mas eu sou muito de trabalhar e muito de desafios. Já havia estudado o regimento interno, lido muitas vezes a Lei orgânica do município também. Então, pegar o jeito da Casa não foi tão difícil. Eu consegui pegar o caminhar da Casa. O que não tem sido fácil é a questão do machismo que existe ali dentro. Quando eu era vereadora eu já havia sentido, mas não tanto quanto agora que estou à frente da mesa diretora.

E como tem lidado com o machismo. Teve recentes episódios de tensão envolvendo um parlamentar durante uma sessão, né?

Como eu disse, não tem sido fácil. Tem tido situações que extrapolam os limites do respeito. Não é porque sou mulher. Não admito falta de respeito com ninguém, muito menos com as mulheres. E tiveram alguns episódios e, sim, este último envolvendo um parlamentar em que eu tive que agir no plenário. Eu já sabia do histórico agressivo desse vereador. Teve uma ocasião em que eu o representei na Justiça quando eu estava no Conselho porque ele agrediu um adolescente que estava no plenário, e que foi meu aluno. O pai do garoto foi ao Conselho e fez a denúncia, e nós o representamos no Ministério Público. Então, se houver desrespeito eu vou mandar retirar do plenário. Não dá para ficar gritando. O plenário é uma coisa séria. Chegou a tal ponto a situação que tive que ouvir desse parlamentar que o plenário era um circo. Aí fiz questão de deixar bem claro, que circo poderia ser para ele, porque para mim aqui não tem nada de brincadeira. Eu não vim para brincar exercer meu mandato. Então criou-se esse desgaste que foi bem chato, mas teve que ser necessário, pois os limites foram ultrapassados.

A vereadora Debora Palermo, primeira mulher a presidir a mesa diretora da Câmara Municipal de Campinas, comanda sessão ordinária do Legislativo (Kamá Ribeiro)

A vereadora Debora Palermo, primeira mulher a presidir a mesa diretora da Câmara Municipal de Campinas, comanda sessão ordinária do Legislativo (Kamá Ribeiro)

Na época da votação da CPI, a sra. lidou com muita pressão?

Quando faltava uma assinatura eu disse que iria assinar e foi aquele alvoroço. Eu assinei assim que o Zé Carlos se afastou. Por uma questão de ética. Podia parecer que eu queria o lugar dele e não foi isso. Longe disso. Assumir a Casa faltando três meses para acabar o mandato e em uma situação de crise, com o Ministério Público aqui dentro, não é fácil. Mas eu não me furtei. E como foi necessário assumir, mas nunca deixei de parecer algo oportunista. O Zé se afastou e eu falei na tribuna que assinaria a CPI. Foi eu levantar da mesa aquele dia que logo juntou um monte de homens me cercando. Uns mais agressivos, outros menos, mas todos tentando me acuar pensando que por eu ser mulher eu iria recuar. Eu mantive a postura dizendo que iria assinar e assinei. Eles justificavam o fato de estar às vésperas da eleição. Mas era assim, se eu não assinava ninguém assinava. E me questionavam sobre a assinatura por eu ser da base, e eu assinei. Ser da base não significa nada para mim. Não significa que eu tenha que falar amém para qualquer coisa que acontece aqui dentro. De forma alguma. E a CPI é uma oportunidade de os fatos serem apurados e o Zé Carlos se defender. Mas foi um episódio que assustou outras pessoas, porque eles fizeram uma roda de homens em volta de mim. E assim tem sido.

A sra sente essa pressão machista nesses três meses à frente da mesa diretora?

Infelizmente sim. É uma pressão que vem só subindo. Tentaram fechar uma sessão por falta de quorum. Tive que ouvir por meio de boatos da Câmara que a orientação era para sempre me boicotar. Fazer isso enquanto eu estiver na presidência. Tipo um boicote por eu ter assinado a CPI. Numa ocasião encerrei a sessão e não tive dúvida, li nome por nome de quem estava presente. Falei que é esse o compromisso dos vereadores. Teve também a questão do lanche que deixaram de fazer. Os dois vereadores que ocupam o cargo de primeiro e segundo secretários não ficam mais na mesa. Antes ficavam, você pode notar isso. Não é só a questão do machismo, existem grupos ali dentro que não querem gente nova, não querem mudar a cara da Casa. Porque vem vindo assim há muito tempo e eles querem manter o controle da Casa.

E em nome dessa mudança que a sra. decidiu colocar seu nome para a disputa da mesa diretora da Casa, daqui há alguns dias?

Isso mesmo. Cheguei a dizer que não participaria da eleição para o próximo biênio à frente da mesa diretora quando assumi o lugar do Zé Carlos após o seu afastamento. Assim que eu assumi todos eles foram enfáticos dizendo que eu não poderia ser presidente num próximo mandato por conta do regimento. Se a lei diz que não, é não. Então não posso. E está tudo certo. Mas daí em conversas com outras pessoas, e pessoas de peso que vieram até mim com a lei para me mostrar que se eu desejar colocar meu nome para concorrer eu poderia. E essas pessoas disseram: vereadora, por favor, se candidate! E eu fui analisar a lei com mais profundidade e por conta de episódios envolvendo o deputado Rodrigo Maia, o Geraldo Alckmin, políticos que também assumiram mandatos tampão em outras ocasiões, percebi que eu não estaria infringindo o regimento. O regimento diz que eu não posso ser eleita para o mesmo cargo, então eu não posso ser eleita para vice-presidente. Então para o cargo de presidente eu posso perfeitamente ser eleita. Então, por conta de várias pessoas que eu vejo que são sérias na política, na sociedade e na maioria dos funcionários concursados da Casa, por eles eu me sinto na obrigação de colocar meu nome. Nem que seja para ter apenas o meu voto, e dizer muito claramente um recado para a Câmara: eu não faço parte de certas coisas que acontecem lá dentro.

Como parlamentar a sra. se sente incomodada com esse 'jogo' que acontece lá dentro?

Eles falam que eu incomodo (risos). Mas a realidade é que eu não vim para a política para isso. Não tenho problema nenhum em dizer não. Se é para incomodar, então eu incomodo e vou incomodar bastante. Eu não faço questão de ocupar a presidência. Eu não ganho nada a mais por isso, muito embora porque eu não faço 'rachadinha' com ninguém. Para eu sair da base, e eu falo isso para o governo direto, não tem problema algum. Eu não vim para a política nem pelo poder e muito menos para enriquecer. Eu vim para a política para fazer política séria, principalmente, pensando nas crianças e nos adolescentes. Porque quando você atende ao direito de uma criança ou de um adolescente, você atende o pai, a mãe e a toda a cidade.

Para a sra. quem quer fazer uma política diferente tem espaço no atual Legislativo?

Olha, tem muita gente boa ali. Mas a renovação é fundamental. Tudo precisa ser oxigenado. É muito bom a renovação. Na Câmara tem muita gente que deseja fazer uma política diferente, mas a gente não tem espaço. Acho que como é minoria, a minoria é sempre deixada de lado. É importante oxigenar o modo de fazer política, de pensar a cidade.

A sra. conseguiu implantar essa mentalidade nesse tempo que está na presidência?

Claro que é muito pouco tempo, mas temos uma lista grande de realizações. Iniciamos olhando todos os contratos da Câmara. Fizemos uma revisão, mudamos fiscais, chefias de alguns setores para dar mais transparência e lisura nesse momento de crise. Colocamos a agenda da presidência no site. Agora fica aberta ao público para a população saber com quem o presidente está se reunindo, conversando. Adotamos o programa de combate a corrupção. Acho que o maior problema da Câmara é resgatar a credibilidade. Fortalecer o vereador. Ali todo mundo representa uma parcela da população. Então todos devem ter voz e ser respeitados como vereador, acho que é um resgate da autonomia e credibilidade da Casa. Outra medida que tomamos é que toda a reunião do presidente precisa estar acompanhada de um funcionário efetivo da Casa. Temos um quadro de pessoas altamente capacitadas na Casa. Colocamos em prática um projeto contra abusos. Tem a questão da comissão de ética que precisa ser aprofundada. A tribuna de uma Câmara como a de Campinas, quando for usada, a pessoa que estiver fazendo uso tem que respeitar a cidade e fazer uma fala coerente, no campo da ideologia o debate é maravilhoso, no campo das ideias também, agora o debate pessoal, ofensas, isso não pode permanecer e estamos trabalhando para que haja punições ao vereador antes da efetiva cassação.

E sobre a qualificação dos projetos. Muito se fala da produtividade da Câmara. O que a sra. pensa a respeito?

A Câmara tem um corpo técnico muito qualificado. Se o vereador quiser escrever um bom projeto para a cidade, ele nem precisa ter um corpo técnico dele. A Casa dispõe de pessoas altamente qualificadas. Os técnicos do Legislativo fazem os apontamentos sobre o que eventualmente precisa ser mudado. A Casa dá todo esse amparo ao vereador. Agora o vereador precisa ter projetos para a cidade. O que eu acho que precisa melhorar são as comissões avaliarem os projetos e levarem para a pauta. Tem projeto meu parado em comissão desde abril. Então eu acho que as comissões precisam ter mais celeridade, e isso depende dos vereadores. É o relator que precisa fazer a coisa andar. Quando eu faço a relatoria, eu leio o projeto e faço a relatoria e já encaminho. Eu acho que isso precisa ter celeridade. Porque quando eu cheguei lá eu não tinha quase nada para colocar na pauta. Tinham pouquíssimos projetos, muitas honrarias e outras coisas, mas projetos mesmo, muito pouco. Tudo parado nas comissões. Eu pedi para fazer um levantamento e constatei isso. Fizemos contato com os presidentes das comissões pedindo celeridade e não tivemos muito retorno. Mas na sessão eu li quantos projetos estavam parados, aí os vereadores ficaram bravos. Eu penso que a gente está ali para trabalhar para a população, o corporativismo tem limite. Não estou ali para desgastar nenhuma figura política, de forma alguma, mas acho que a Casa tem que produzir e trabalhar para a população. Se fizer uma pesquisa com a população o resultado será que a Casa é pouco produtiva. Essa é a visão da população. E eu quero mudar isso.

Então a sra. acha que a Câmara poderia produzir mais, falta vontade política?

Acho que poderíamos produzir mais. Falta puxar um pouco a pessoa para trabalhar mais. Afinal de contas tudo passa por nós. É isso que eu sempre falo. Tudo o que acontece nessa cidade passa por nós. Dá para fazer muito mais. Dá para produzir mais. E eu vou lutar por essa produtividade.

E sobre as emendas impositivas que a Câmara aprovou essa semana, qual a sua avaliação?

Acho importante. É claro que se trata de um instrumento que está sendo usado pela primeira vez e que precisa ser amadurecido e debatido. Mas é uma forma do vereador fiscalizar o direcionamento dos recursos que vão ser carimbados com o nome dele. Porque na questão do orçamento, quando a Câmara recebe são feitas emendas, mas nenhuma emenda passa. Chega lá no Executivo e é tudo barrado. Acho importante a questão da autonomia do vereador. Se nós somos os porta-vozes da população é importante isso.

E em relação ao orçamento da Câmara que todo ano parte é devolvido ao Executivo. O que a sra. pensa dessa "doação''?

O que eu penso é o seguinte. A gente (vereadores) precisa trabalhar esse dinheiro como a gente trabalha com o nosso dinheiro de casa. O nosso da nossa casa. Não deixe de fazer o que é necessário, mas também não precisa ser perdulário, ou seja, gastar excessivamente, inventando coisas para fazer, pois se trata de dinheiro público, e é o que nós estamos fazendo. Nós reavaliamos contratos, alguns nós deixamos para trás, não levamos em frente, pois eu vi que não tinha necessidade. Outros, por exemplo, que era a pintura de toda a Câmara, que há 16 anos que não é refeita, mantivemos. Então, isso eu acho um absurdo, devolver todo esse montante que vem sendo devolvido há anos e não cuidar da própria casa. Então, nós devolvemos uma parte e vamos devolver outra (devolvido na sexta-feira) e como o dinheiro volta ao Executivo como uma "doação", eu pedi para o prefeito Dário e para o secretário de Finanças, Aurílio Caiado, por favor, se puderem usar o valor para aplicação na Saúde seria muito importante para a cidade e para a Câmara. Mas infelizmente eu não sei, é um recurso que entra no Orçamento Municipal e a gente não sabe. Fica na mão do Executivo.

Aproveitando que é uma entrevista no penúltimo domingo do ano, o que a sra. deseja para a cidade em 2023?

Espero, o que eu sempre esperei. Que os políticos dessa cidade consigam colocar em prática uma política melhor para a população. Campinas é uma cidade que tem um orçamento grande, uma metrópole, uma cidade com universidades reconhecidas mundialmente. Então dá sempre para fazer mais. Sempre dá para melhorar. Então eu espero que a gente possa contribuir para fazer uma política que melhore a situação do cidadão em todas as áreas, principalmente na Saúde, mas em todas as outras também, como Educação, Habitação, Segurança Pública. Precisamos avançar muito e espero que a Câmara consiga se dedicar mais para isso. Se todo mundo se dedicasse um pouquinho mais não para olhar o seu projeto pessoal, mas para atender as necessidades da cidade, a coisa mudaria de figura. Eu gostaria que os 33 vereadores tivessem essa cabeça, e é isso que me frustra às vezes. A gente não vê isso. É muito projeto pessoal para se manter no poder e pouco para a cidade.

E com essa pilha toda, vereadora, como é a sua rotina e o que gosta de fazer para relaxar?

Tudo o que faço eu me dedico muito. Entro de cabeça. Saio de casa para trabalhar todos os dias às 7h e só volto às 22 horas. Parei de lecionar para me dedicar ao parlamento. Depois que entrei para a Câmara, sinto que estou precisando de uma rotina no psicólogo. Nem na época de conselho tutelar em que a gente ficava frente a frente com coisas muito pesadas, eu senti que precisava de um apoio de fora (risos). Mas quando não estou trabalhando eu sou uma pessoa que não nega as origens. Eu sou da roça. Gosto de ficar em casa. Eu moro numa chácara e gosto de cuidar dos meus bichos e das minhas plantas. É ali que eu gosto de ficar nas horas vagas recuperando as baterias.

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