CÂMARA DOS VEREADORES

Debate sobre internação compulsória de usuários de drogas fica para 2024

Pedido de vista impediu votação do Projeto de Lei Ordinária do vereador Nelson Hossri

Da Redação
13/12/2023 às 09:01.
Atualizado em 13/12/2023 às 09:01
Texto sugere que município deve atuar em áreas de ‘decadência urbana decorrentes da concentração de usuários de drogas’, removendo usuários e combatendo traficantes (Cedoc)

Texto sugere que município deve atuar em áreas de ‘decadência urbana decorrentes da concentração de usuários de drogas’, removendo usuários e combatendo traficantes (Cedoc)

Foi adiado pela quarta vez pela Câmara de Vereadores, o Projeto de Lei Ordinária (PLO) 115/19 do vereador Nelson Hossri (PSD) que, entre outras coisas, determina a internação compulsória de dependentes químicos. Em todas as sessões, a pauta foi acompanhada de protestos por integrantes da luta antimanicomial que se baseiam em orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) (que já emitiu parecer contrário a esse tipo de tratamento). Na última, de segunda-feira (12), base aliada se somou ao pedido de vista da oposição e o tema voltará à pauta somente no próximo ano.

Hossri justificou seu projeto com base na Lei Federal 11.343/2006, que instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas e prevê internação desses usuários, e na Lei 10.216/2001, que institui a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais. 

“O projeto autoriza convênios com clínicas particulares que tenham equipe multidisciplinar, retaguarda médica e todo tratamento adequado que um dependente químico e sua família, quando ainda existir vínculo, merecem. Isso por que o município não tem vagas suficientes, e a forma que a saúde mental tem sido trabalhada não tem demonstrado sucesso, prova disso é o aumento de moradores de rua dependentes químicos”, argumentou.

O texto, proposto ainda no ano de 2019, estabelece deveres ao município com relação à prevenção ao uso de drogas, internação compulsória de dependentes químicos e responsabilidade do Poder Público por áreas de “decadência urbana decorrentes da concentração de usuários de drogas”.

O PLO entende como concentração de usuários de drogas locais que reúnam pelo menos dois dependentes químicos, de forma sistêmica. O PLO sugere que o município atue na recuperação desses espaços, removendo os usuários, combatendo narcotraficantes e priorizando investimentos na área.

A medida ainda aponta que devem ser dadas alternativas de tratamento para os usuários de drogas, bem como apoio aos familiares. O município também poderá contratar entidades privadas para atuação no processo de recuperação. Caberá ao município fazer a fiscalização.

O texto segue dizendo que se esses locais forem ligados a alguma religião, o direito de crença deve ser respeitado.

Segundo o documento Contagem da População de Rua, elaborado pela Prefeitura Municipal de Campinas no ano de 2021, o município possuía, na época, 932 pessoas em situação de rua. A pesquisa perguntou a eles se faziam uso de alguma substância. Dos 932, 181 não responderam. Dos 751 que responderam, 15% disseram que não usam e 85%, índice que corresponde a 638 entrevistados, disseram que usam. A maioria afirmou consumir álcool (64,4%), seguido de tabaco (32,2%). Um número expressivo disse usar mais de uma substância.

A mesma pesquisa também mostrou a distribuição geográfica dessa população. A maioria, 50,7%, estava na região Leste, 23% na Sul, 18,8% na Norte, 4,1% Sudoeste e 3,3% na Noroeste. Também chama a atenção no levantamento que 15,8% dos entrevistados disseram possuir algum transtorno psíquico.

Questionado se esse projeto não daria margem para um higienismo social, Hossri negou. “O que desejo é tratamento adequado para quem precisa ser tratado. Se eles não possuem mais discernimento, o município precisa intervir tanto na recuperação do indivíduo como na revitalização dos espaços públicos que foram criados para convivência, lazer e qualidade de vida. Ou vamos deixar nosso Centro se tornar a maior cracolândia do Brasil?”, questionou.

Na segunda-feira (10), o Governo Federal lançou o Plano Ruas Visíveis - Pelo Direito ao Futuro da População em Situação de Rua. A medida promove a efetivação da Política Nacional para a População em Situação de Rua e tem investimento inicial de R$ 982 milhões. Para Hossri, no entanto, a medida é paliativa. “Não adianta investir em moradia e trabalho sem antes tratar um dependente das drogas. Primeiro trata e depois oferece trabalho e moradia”, defendeu.

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