Audiência desta segunda-feira (1º) teve "beijaço", empurra-empurra, "chuva de purpurina" e troca de ofensas: cerca de 250 pessoas lotaram o plenário e todos passaram por revista
Grupo se manifesta durante o debate: valores e gênero em questão (Camila Moreira/ AAN)
A Câmara de Vereadores de Campinas teve mais um dia marcado por tumulto envolvendo a proposta de emenda à Lei Orgânica que trava qualquer discussão sobre a Ideologia de Gênero dentro do Plano Municipal de Educação. Na audiência pública realizada nesta segunda-feira (1º) à tarde houve empurra-empurra e troca de ofensas entre manifestantes e parlamentares. O grupo contrário à proposta do vereador Campos Filho (DEM) também promoveu um “beijaço” no plenário e uma “chuva de purpurina”. Na próxima segunda-feira, a emenda deve ser votada em relação à legalidade e, na semana seguinte, quanto ao mérito. A audiência teve início às 15h. Antes disso, manifestantes favoráveis e contrários à proposta formaram fila do lado de fora da Câmara. Cerca de 250 pessoas lotaram o plenário e todos passaram por revista da Guarda Municipal (GM). Grupos de opiniões diferentes procuraram sentar em lados opostos, mas a todo o momento houve enfrentamento, empurrões e trocas de ofensas. Logo no início, um grupo de manifestantes realizou um beijaço, como forma de protesto à emenda. Ao longo da audiência, por diversas vezes, as falas dos convidados foram interrompidas e a GM precisou ser acionada para separar tumulto. Em um desses momentos, o grupo favorável à ideologia de gênero disse que sofreu discriminação racial de uma integrante do grupo contrário. Convidados Juízes, estudantes, professores e representantes de coletivos convidados para participar da audiência emitiram suas opiniões em cinco minutos cada um, mas a confusão não permitiu que a discussão avançasse. Os convidados favoráveis à emenda defendiam os valores da família, e disseram que que a ideologia de gênero poderia trazer como consequências a subtração da autoridade dos pais, acabar com o referencial da sexualidade e dizimar a humanidade. “As consequências da neutralização são a perda de identidade, não somente sexual. A pessoa começa a ficar confusa e não sabe mais quem ela é. A segunda consequência é a desconstrução da maternidade”, afirmou Adelice Godoy, do Observatório Interamericano de Biopolítica. Os participantes da audiência contrários à emenda defendiam que o debate nas escolas pode ajudar a reduzir o preconceito, a discriminação e a violência. “Não admito manifestação de machismo, racismo e homofobia na sala de aula. Na escola, dia a dia vemos violência. O professor tem direito de esclarecer tudo o que for dito na sala de aula para formar uma consciência que diga não à violência. Eu, como professor, sempre debati opressão e gênero e vou continuar debatendo. Aprovar uma emenda como essa é sujar as mãos de sangue”, afirmou o professor de escola pública Danilo Paris. Pilar Guimarães, do Coletivo das Vadias, disse que “é preciso promover esse debate nas escolas porque crianças e adolescentes precisam construir desde cedo noções de respeito”.Juiz Durante a audiência, um grupo de manifestantes jogou purpurina nas pessoas que estavam no plenário e nem o juiz Fábio Toledo, que se mostrou contrário à ideologia de gênero, escapou. “O que me trouxe aqui e a favor do debate não é jamais qualquer forma de discriminação com relação a homossexual, mas contra uma postura ideológica que a ideologia de gênero tem: que o ser humano é um simples livro aberto, não é nem homem, nem mulher, nem nada. É algo que vai ser determinado ao sabor das circunstâncias da sua vida e das suas escolhas. Nessa concepção de ser humano eu não acredito. Eu acredito que grande parte do ser homem e do ser mulher é dado pelo contexto social e cada homem e cada mulher tem uma natureza que já lhe é dada”, disse o juiz. Thiago Ferrari, que presidiu a audiência, disse que por se tratar de um tema polêmico, estuda realizar outra audiência. “Infelizmente o tempo foi pequeno. Pretendo conversar sobre a possibilidade da gente chamar outra audiência porque entendo que o tema é importante e que tem muitas pessoas que querem se manifestar acerca do assunto.” Segundo o autor da proposta de Emenda, o vereador Campos Filho, ela deve seguir para votação da legalidade na próxima segunda-feira. “Não queremos que crianças decidam na escola se vão ser meninas ou meninos.”