PANDEMIA

De super-herói a vendedor ambulante

Sem trabalho, ator fantasiado do super-herói vende água nas ruas do Centro

Correio Popular
24/03/2021 às 14:23.
Atualizado em 21/03/2022 às 23:53
Como outros profissionais do setor de eventos, o ator José Willames Souza da Silva buscou uma alternativa para sobreviver na crise: foi vender água na rua fantasiado de Homem-Aranha (Ricardo Lima/ Correio Popular)

Como outros profissionais do setor de eventos, o ator José Willames Souza da Silva buscou uma alternativa para sobreviver na crise: foi vender água na rua fantasiado de Homem-Aranha (Ricardo Lima/ Correio Popular)

Definitivamente, a vida não está fácil para ninguém. Até mesmo o famoso Homem-Aranha, personagem conhecido das histórias em quadrinho e do cinema, foi obrigado a buscar um bico para poder sobreviver nesta pandemia. Vendendo água nos semáforos do Centro de Campinas, o herói é uma espécie de alter ego do ator José Willames Souza da Silva, que trabalha no Hopi Hari. Com o parque fechado por causa da fase emergencial que vigora em São Paulo, o artista não teve dúvida e foi defender um dinheiro usando se talento interpretativo.

A missão de Silva, porém, é quase tão difícil quanto ao do super-herói, que vive enfrentando bandidos de toda ordem. Todos os dias, ele leva vinte e quatro garrafas para vender durante aproximadamente oito horas de trabalho. "Eu decidi colocar a fantasia porque é uma forma a mais de chamar atenção dos clientes, além de ajudar também na divulgação do ma minha empresa. Mas não está fácil. Na maioria dos dias, volto com quase dez garrafinhas para casa, sem contar que muita gente tira sarro. Ainda assim, sigo firma: era a única opção que eu tinha para conseguir sobreviver neste momento", desabafa.

As restrições impostas pela pandemia da covid-19 têm afetado diversos profissionais ligados ao setor de eventos, como é o caso do Homem-Aranha campineiro. Músicos, fotógrafos e produtores de evento, entre outros, viram a renda despencar e até mesmo ser zerada por causa da suspensão de contratos. Para piorar, a expectativa de retorno das atividades não é das mais animadoras, frente ao agravamento da pandemia.

Segundo a Associação Brasileira de Eventos (Abrafesta), durante um ano de paralisação por conta da pandemia, a queda de faturamento no setor foi de 98%, gerando cerca de 50 mil demissões e prejuízo de R$ 250 bilhões. A associação informou que 60% das empresas do setor pararam completamente, 32% mudaram o modelo do negócio e apenas 8% continuam operando.

A Abrafesta reforçou a importância da população se conscientizar de que o crescimento dos casos da covid-19 é uma realidade e que todas as medidas de segurança pela preservação da saúde devem ser seguidas à risca. Entretanto, argumenta que as medidas adotadas pelos governos não estão surtindo o devido efeito, ocorrendo o descumprimento por parte da maioria da população brasileira.

Segundo o presidente da Abrafesta, Ricardo Ferreira de Carvalho Dias, os governos não promovem a fiscalização adequada, e isso privilegia a irregularidade. Dias alega que o setor não é culpado pelas aglomerações e pela falta de consciência da população. "A culpa não é nossa, mas sim da falta de consciência e das aglomerações. Não somente as festas clandestinas, mas também os encontros entre familiares. Nós sempre respeitamos todos os protocolos sanitários e os nossos eventos são muito mais organizados e seguros do que encontros dentro das casas", assegura.

Para ele, a categoria já foi muito prejudicada e as restrições da fase emergencial no Estado de São Paulo determinarão mais encerramentos de empresas e demissões.

Antes de deixar o cargo na última segunda-feira, a então secretária de Cultura de Campinas, Sandra Ciocci, disse que a área da cultura foi extremamente afetada pela pandemia. "A classe não é formada apenas pelos artistas, tem todo o pessoal de técnica também. Infelizmente, muitos que poderiam ter ficado em casa para evitar a transmissão da covid-19, não ficaram. Essas pessoas deveriam se colocar no lugar das outras, pois os profissionais de eventos foram muito prejudicados com essas ondas que vão e voltam".

Ciocci disse que a Prefeitura ajudou os profissionais da categoria no que foi possível. "A Secretária de Cultura fez um projeto e que atendeu 1.000 artistas da cidade. Foi um ponto positivo nessa pandemia. Mas uma única ajuda, ao longo de um ano sem trabalho é pouco, é muito pouco", reconheceu. 

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