Jorginho Araújo, músico dos bons, com 40 anos de carreira, lutou muito para ganhar a vida. Se apresentou até em casas de tolerância para conseguir pagar as contas, mas também teve momentos de glória em espaços refinados como o campineiro Armorial e o Terraço Itália, na Capital. Hoje, aos 63 anos, ele se dedica a promover um festival de música para a conscientização ambiental. O cantor da noite virou militante da causa social. Jorginho Araújo, nome artístico do cantor Jorge Divino Carlos de Araújo, começou a carreira cantando em restaurantes. Daí até chegar às boates, dos mais diversos gêneros, não levou muito tempo. "Toquei em lugares... não bem prostíbulos, mas toquei tanto na Gallery, em São Paulo, quanto no Fazendinha", conta um pouco envergonhado. Ele diz que os convites para trabalhar nesses locais surgiram naturalmente. "Fui trabalhando com música, expandindo socialmente. Fui estudar em São Paulo, foi ampliando o setor, os convites vão chegando naturalmente", afirma. "Não tem diferença nenhuma do Gallery para o Fazendinha. Só mudam as pessoas, a música é a mesma", emenda. O artista, que nasceu em Monte Sião, mas se mudou com a família para Campinas aos 4 anos, revela que, ao longos dos 40 anos de carreira, cantou em lugares de todos os tipos, de A à Z. "Num lugar de menor acesso, para um tipo de público, tem muitas coisas que acontecem na noite", diz cheio de dedos. Em um dos muitos episódios da carreira, ele pensou que seria atingido por um tiro, na Boate Chalé, em Campinas. "Eu tava cantando no palco e alguém fez um ensaio, como se fosse uma comédia, mas nós no palco pensamos que era verdade. Um atirou e o outro caiu. Foi uma encenação teatral com espoleta seca. Foi uma loucura naquela noite. Eu não sabia para onde ir. Era o palco e a parede. Acabou a noite, não tinha mais clima para cantar", rememora, aos risos. A carreira de Jorginho, que cantou em quase todas as casas noturnas da cidade, começou nos anos 70. O primeiro contrato foi para cantar no Restaurante Armorial, famosíssimo à época. A veia artística aflorou desde pequeno, quando o pai recebia amigos em casa para cantar e tocar violão e, desde então, ele já sabia o que queria fazer da vida. "Nesses 40 anos, estive fora do País, fiz turnê na Argentina e no Chile. Me tornei compositor e tenho 10 CDs gravados. Fui assinado com a gravadora Camerati, do Belchior, por quatro anos", orgulha-se. O momento mais marcante na carreira desse cantor de lugares inusitados aconteceu enquanto ele tocava no restaurante Terraço Itália, em São Paulo. "Foi quando eu conheci o Tom Jobim. Eu tava tocando e cantando a música dele, 'Luiza', e não sabia que ele estava ali, jantando. Ele estava atrás de um biombo, um espaço reservado. Foi uma surpresa maravilhosa", revive. Jorginho só soube da presença do consagrado compositor ao ser alertado por um garçom. "Aí a perna bambeou. Fui conversar com ele e, meu Deus do céu, ele me deu um beijo na testa e disse: continue. É isso que você tem que fazer", se derrete, falando do episódio que ocorreu em 1989 e que ainda segue vivo nas recordações. Mas como a vida é especialista em roteiros alternativos, Jorginho foi pego de surpresa por uma doença. "Tive um problema de saúde seríssimo em 2011, que me acalmou. Tive um câncer, um linfoma não Hodgkin — que tem origem nas células do sistema linfático e se espalha de maneira não ordenada", conta. Jorginho se tratou no Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e se curou. "Acredito que foi o momento mais importante da minha vida. Porque você passa a entender que uma doença pode lhe trazer várias vidas. O amor e o carinho da família e a presença inquestionável do nosso maestro maior, foi um tratamento não só físico, mas espiritual", afirma apontando para cima. O período doente deu origem a um livro chamado Renovação, lançado em abril de 2012. Nele, o cantor conhecido dos bares e casas de show da noite de Campinas relata o enfrentamento da doença, o tratamento penoso e as reações psicológicas. Um próximo livro, intitulado Semente da Esperança, está em fase final de produção, mas ainda sem data de lançamento. Doença ajudou a enxergar a vida diferente Muita coisa mudou desde então na vida do boêmio, que agora se dedica a obras sociais, principalmente às voltadas para o meio ambiente. Jorginho busca parceiros para lançar o 1º Festival Ecológico de Campinas, que deve ocorrer entre 1º e 5 de junho, para marcar a semana do meio ambiente. "Tudo começou com uma canção que eu fiz chamada Terra, nossa Terra. Nela, eu trato o meio ambiente com otimismo. Através da música surgiu a ideia de fazer o festival", explica. O artista quer que o evento aconteça na Praça Arautos da Paz ou no Parque Ecológico. Ele planeja um dia com muita música, dos mais variados estilos, além de dança, teatro, comédia, e outras manifestações artísticas. "Também quero que tenha umas quatro mil mudas de plantas para dar às pessoas. O objetivo é plantio, cultivo. O projeto está pronto, mas preciso de patrocínio, parceiros, ajuda e apoio para tirar do papel", argumenta. "Tô muito voltado para as coisas da terra. Sistemas sustentáveis, ecologia. É um momento muito poderoso. Em Deuteronômio, um livro atribuído a Moisés, ele se preocupa com o meio ambiente. Em mil e quinhentos antes de Cristo, ta lá que o homem deve cuidar do meio ambiente", finaliza. (FLN/AAN) CONTATO Quem se interessar pode entrar em contato pelo e-mail: jorginhoaraujo.cantor@gmail.com ou pelos telefones (19) 3255-8356 e (19) 99593-6615.