Falta de estrutura obriga 9 cidades a pedir ajuda a municípios vizinhos; demora chega a 30 minutos
Caminhão-pipa usado para o primeiro atendimento de incêndios em Pedreira é abastecido com água: cidade não tem bombeiros (Élcio Alves/ AAN)
Nove das 19 cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC) não possuem bases ou unidades do Corpo de Bombeiros. Os municípios são forçados a compartilhar as forças de combate a incêndios e resgate.
Quando ocorre alguma emergência, principalmente em caso de fogo, a corporação de uma cidade vizinha é acionada e tem que se deslocar, em média, por 30 ou 40 quilômetros para controlar as chamas. Ou seja: na maioria das vezes, há uma demora de pelo menos 30 minutos para chegar ao local. Em muitos casos, esse tempo é fatal. O incêndio já se alastrou e não há muito a se fazer.
De acordo com a National Fire Protection Association (NFPA), associação nacional de proteção contra incêndios dos Estados Unidos que estabelece normas de segurança no combate a incêndio usadas como padrão na maior parte do mundo, o correto é uma cidade ter um bombeiro para cada mil habitantes. No Brasil, os únicos estados que seguem as normas de segurança internacional são o Amapá e o Rio de Janeiro, além do Distrito Federal.
Na região, as nove cidades que sofrem com a ausência do efetivo têm cerca de 485 mil habitantes e, se a norma fosse seguida, seria necessária a vinda de mais 485 profissionais para atender nesses municípios.
Em Campinas, que possui a maior estrutura de Corpo de Bombeiros entre as cidades da região, o déficit é de 900 bombeiros, segundo essa norma. Atualmente, a cidade tem 180 profissionais. A corporação da cidade ainda atende a ocorrências em cidades como Hortolândia, Monte Mor e até Pedreira.
A realidade da RMC segue a tendência de todo Brasil, onde, segundo estudo realizado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT), apenas 14% dos 5.570 municípios possuem bombeiros. Já as outras 4,8 mil cidades não têm unidades da corporação.
Ainda segundo o levantamento do governo federal, acontecem, em média, 200 mil incêndios por ano em todo o Brasil, ou seja, mais de 500 por dia.
Sete minutos
Segundo normas internacionais de segurança, o ideal é que os bombeiros cheguem até o local da ocorrência em, no máximo, sete minutos depois de acionados.
“A gente reza para não ter vítimas, porque saímos já sabendo que não vamos conseguir chegar a tempo. Infelizmente, em algumas cidades, temos que percorrer distâncias de até 50 quilômetros. Em caso de incêndio, o tempo acaba se tornando um grande inimigo”, disse um bombeiro da região que pediu para não ter o nome divulgado com medo de retaliações no trabalho.
Ele atua em um dos dez municípios da RMC que possui unidades da corporação e que faz, rotineiramente, atendimentos em cidades vizinhas.
A unidade dele costuma socorrer casos de emergência em Artur Nogueira, Cosmópolis, Engenheiro Coelho e até Holambra.
“Sabendo disso, só saímos em casos extremos, quando precisa mesmo. Ou então quando acontecem acidentes e pessoas ficam presas em ferragens. Daí, mais uma vez começamos a rezar para que a vítima resista. É uma verdadeira corrida contra o tempo”, afirmou outro bombeiro da mesma unidade que também não quis ter o nome revelado.