Prefeito revela ao Correio Popular, no dia seguinte à vitória no primeiro turno, que dará prioridade à saúde e transporte no segundo mandato
Na noite de domingo, 6 de outubro, o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), concedeu sua primeira entrevista coletiva após a confirmação de sua reeleição no primeiro turno (Thomaz Marostegan)
A noite de domingo, 6 de outubro, foi de gratidão para o prefeito reeleito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos). O dia seguinte, embora cansativo, foi marcado pela alegria da vitória. Saadi foi reconduzido ao cargo em primeiro turno para um segundo mandato consecutivo de quatro anos, conquistando 355.800 votos, o que representa 66,77% dos votos válidos.
Menos de 24 horas após sua reeleição, o prefeito da maior cidade da Região Metropolitana de Campinas (RMC) cumpriu uma série de compromissos, incluindo diversas entrevistas para veículos de comunicação, entre eles o Correio Popular.
Em entrevista exclusiva, Dário Saadi expressou surpresa com o alto índice de votos válidos obtidos no primeiro turno. Ele também comentou sobre a redução do número de prefeitos eleitos pelo Partido dos Trabalhadores em território nacional. O prefeito reeleito delineou os focos imediatos para o segundo mandato, que incluem a nova licitação para aquisição de ônibus para o transporte público municipal e melhorias na rede de saúde. Saadi não descartou eventuais mudanças no secretariado municipal.
O prefeito abordou ainda a possibilidade de uma segunda fase do Plano de Ativação Econômica e Social da Prefeitura, criado durante a pandemia de covid-19, e a continuidade da requalificação do Centro de Campinas. Nesse contexto, mencionou o uso de prédios adquiridos pela Administração Municipal, como a antiga sede social do Clube Cultura Artística de Campinas e o antigo Opala Hotel.
Um dos temas mais polêmicos da campanha eleitoral foi a cassação da chapa com o candidato a vice, Wanderley de Almeida (PSB), ocorrida em primeira instância em 19 de setembro pela Justiça Eleitoral, por abuso de poder político. Sobre isso, o prefeito reeleito afirmou estar tranquilo:
"Realmente, quando você recebe a notícia da cassação, isso gera uma preocupação inicial. Entretanto, após uma análise jurídica, ficou claro que o próprio recurso suspende a sentença em primeira instância até o julgamento. Se não fosse assim, qualquer juiz de primeira instância poderia cassar uma candidatura sem possibilidade de defesa. Quanto ao julgamento do mérito em si, estou muito tranquilo", declarou Saadi.
Dário Jorge Giolo Saadi, 61 anos, é natural de Pedregulho-SP e médico de formação. Sua carreira política inclui passagens como vereador, presidente da Câmara de Campinas, secretário municipal e presidente do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti. Em 2020, foi eleito prefeito de Campinas no segundo turno, com 222.030 votos válidos. Na eleição de 2024, sua coligação "Campinas do Lado Certo" reuniu Republicanos, PSB, PL, PSD, Podemos, PP, MDB, Solidariedade, Avante, PRTB, DC e PRD.
A entrevista foi concedida a convite de Ítalo Hamilton Barioni, presidente-executivo do Correio Popular.
Prefeito, agradecemos por estar conosco logo após sua reeleição. Como foi a primeira noite após a divulgação dos resultados pela Justiça Eleitoral?
Foi uma noite que eu não conseguia dormir. Eu cheguei na minha casa por volta da meia-noite e só dormi após baixar a adrenalina. Foi uma noite de muita gratidão. Fiz muitas orações agradecendo a Deus pelo resultado da eleição e agradecendo a população de Campinas. E eu não esperava uma votação nesse nível, sendo muito sincero. A gente estimava algo na faixa de 55%, 58% dos votos válidos. E ainda brincamos, que se chegasse a 50,01% estava bom, mas a votação surpreendeu. Fazendo uma rápida análise, acredito que o episódio da apreensão de dinheiro em um veículo de um prestador de serviço para a campanha do Pedro Tourinho (PT), com pagamentos realizados, influenciou em prol da nossa campanha na reta final.
Agora, prefeito, em relação àquela questão da cassação do registro da candidatura. Obviamente que isso deve ter causado alguma preocupação em um primeiro momento. Mas a sua campanha adotou uma narrativa que funcionou bem. Como foi essa discussão e como essa estratégia foi definida?
Realmente quando você recebe a notícia da cassação, isso gera uma preocupação. Isso em um primeiro momento. No segundo momento, nós fizemos uma análise jurídica e ela foi muito clara. O próprio fato de você recorrer já suspende a sentença em primeira instância até o julgamento em instâncias superiores. O próprio recurso torna suspensa a determinação da cassação. E isso tudo vai ser analisado. Quanto ao julgamento do mérito em si, estou muito tranquilo. Sobre a narrativa para a população, primeiro buscamos explicar o que houve e os motivos para a decisão judicial em primeira instância. O motivo? Foram três vídeos postados nas minhas redes sociais. Não foi nem na propaganda obrigatória no rádio e na TV. E segundo, a gente fez uma pesquisa. Existem várias jurisprudências com casos parecidos, onde apenas multas foram aplicadas. Sem cassação de chapas. Então ficamos tranquilos juridicamente e buscamos passar isso para a população, de que a decisão em primeira instância não mudaria a campanha. E que estávamos tranquilos quanto ao resultado do julgamento nas instâncias superiores. Então, do ponto de vista do marketing, acredito que ganhamos a narrativa.
Independente das questões jurídicas, que envolveram a sua candidatura e a dos demais candidatos à Prefeitura, o senhor acha que houve uma campanha civilizada? De forma geral e considerando o que houve em outras cidades, como em São Paulo?
Eu acredito que, independente dessas questões que foram judicializadas, a eleição de Campinas teve um clima civilizado. Diferente de São Paulo, por exemplo, e outras cidades do Nordeste onde aconteceram agressões físicas. E isso é importante, pois a população de Campinas é muito crítica. Eu acho que um candidato que tivesse ações violentas ou agressivas poderia sofrer muito aqui em Campinas, do ponto de vista eleitoral. Eu vou dar um exemplo para vocês. A pesquisa de vocês sinalizou (do instituto Olhar Público Pesquisas e contratada pelo Correio Popular, que apontou a liderança de Dário Saadi em todos os cenários de intenção de votos para Prefeitura). Os dois candidatos que me agrediram, que foram mais agressivos nas redes sociais comigo, tiveram rejeições mais altas também. E isso não é o comum. Geralmente quem ocupa o cargo costuma ter uma rejeição maior do que quem pretende assumir o cargo via eleições. Acredito que o eleitor de Campinas não gosta muito de quem é agressivo na crítica e de quem só sabe criticar também.
Prefeito, o senhor comentou muito em campanha sobre várias ações adotadas no combate à pandemia de covid-19. Uma delas foi o Plano de Ativação e Econômica Social. Ele vai ser continuado de alguma forma em seu segundo mandato?
A pandemia parou a cidade. Naquele momento, nós tínhamos uma incerteza se ela ia ser capaz de atender todo mundo, se o sistema de saúde não ia colapsar. Na economia, quantos segmentos da economia parados, em hotelaria, bares, restaurantes, casas noturnas, etc. Então era um momento de muita incerteza e o que nós fizemos? A gente se dedicou a cuidar da pandemia e a única coisa que a gente fazia junto era pensar em ações para estimular a economia da cidade. E conseguimos. A gente fez o Plano de Ativação Econômica e Social, que foi muito importante. A gente conseguiu reduzir o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) para galpões, melhoramos a Lei de Incentivos, fizemos uma série de ações para a cidade poder retomar as suas atividades. E isso foi feito. Campinas ressurgiu. A cidade saiu da pandemia mais forte do que muitas outras cidades, batendo recordes de empregos, recordes de abertura de empresas. Sobre uma sequência, uma segunda fase, nós estamos estudando. Porque quando você lança uma lei de incentivo, você vê o que deu certo e vê também os entraves que existem, entendem? Então a gente quer analisar.
E quanto ao plano de requalificação do Centro? Foi um tema abordado não somente pelo senhor, mas também por outros candidatos durante a disputa eleitoral. O que podemos esperar para o futuro? E quais as expectativas para a cessão do Pátio Ferroviário pela União?
Essa transferência de cessão é importante. A gente já tem o prédio do relógio restaurado, então nós precisamos que a União destrave essa parte mais burocrática, para podermos avançar com mais ações de requalificação. Outro fator importante é a ocupação desses espaços do Centro. Uma delas é o que pensamos para o Palácio da Justiça. Com a saída do Poder Judiciário de lá, ele ficaria ocioso talvez um por um longo tempo. Em paralelo existe a demanda histórica da Câmara de ir para lá. E há o entendimento técnico de que os tombamentos dele pelos órgãos de patrimônio culturais impedem que seja usado para outras atividades além das administrativas. Usar aquela estrutura para fins de saúde, por exemplo, seria inviável. Muitas alterações estruturais teriam que ser feitas e isso descaracterizaria os aspectos que são protegidos pelo tombamento. Tentamos colocar uma unidade de saúde no Palácio da Mogiana, mas isso foi inviabilizado pelos mesmos motivos. Então nós optamos pela compra do antigo Opala Barão Hotel e pela sede social do Clube Cultura. No caso do Clube Cultura, os sócios aprovaram a proposta da Prefeitura em assembleia por unanimidade. Então a partir do ano que vem lá vai voltar a ser uma unidade de cultura, com algumas áreas esportivas, talvez ginástica artística, ginástica rítmica. Vai ser cultural e uma parte esportiva. Já no caso do Opala Barão Hotel, lá faremos um Centro de Especialidades Médicas. Como lá já possui uma certa estrutura, pois existia uma clínica médica nos andares superiores, entendo que não vá demorar muito para começar a funcionar para a população.
Outra ação recente no Centro, mas vinda da iniciativa privada, foi o avanço do restauro do Pátio dos Leões pela PUC-Campinas. De qual forma vai colaborar com o plano de requalificação da região central?
É uma medida fantástica, preservando um patrimônio histórico da cidade e destinando ele para atividades que vão ajudar a movimentar novamente aquela região. E posso dizer que sempre tivemos um bom relacionamento com a PUC-Campinas nesse mandato, assim como com a Unicamp também. No caso da PUC, por exemplo, tivemos uma colaboração muito grande com a mantenedora deles (Sociedade Campineira de Educação e Instrução) quando adquiriram a Maternidade de Campinas. Essa incorporação foi uma ação importantíssima. A Maternidade estava com problemas, todos divulgados de forma frequente pela imprensa. Depois que a PUC assumiu, começou a normalizar e isso ajudou a decidirmos por focar a verba do Governo Federal, que seria usada para construir uma maternidade pública na cidade, para que ela seja direcionada para obras de novos Centros de Saúde e uma outra Central de Atenção Psicossocial.
E quanto às ações em regiões mais distantes do Centro, como os distritos do Campo Grande e do Ouro Verde. Quais serão os focos no próximo mandato?
Primeiro, a infraestrutura pública. Com algumas das 16 creches do Espaço do Amanhã que iremos levar para essas regiões, a ideia é praticamente zerar a fila de creches em Campinas. E nós vamos discutir agora uma nova centralidade no entorno do Aeroporto de Viracopos. Vamos discutir se é possível a gente mudar um pouco o zoneamento urbano por lá, independente de quem estiver à frente da concessão do aeroporto. Mas independente de relicitar ou de prorrogar esse contrato, a cidade tem de estar com o entorno de Viracopos com o uso e ocupação de solo atualizados, para essa região poder ser mais desenvolvida.
‘Outro tema que pode voltar a ser debatido é o Polo de Inovação e Desenvolvimento Sustentável? O PIDS?
Ele está na Câmara agora. Por mim, ele iria para votação agora mesmo (risos). Mas o Legislativo tem a sua autonomia. O que posso dizer é que é um projeto importante para cidade. Lembrando que é uma proposta de mudança do zoneamento na área do PIDS, na região de Barão Geraldo. A nossa proposta é permitir que mais empresas da área da tecnologia, do ramo de energia verde, se instalem por lá. E por isso é importante que a Câmara analise esse projeto. Não se trata de algo exclusivo da Prefeitura, não é um projeto individual nosso. É um projeto da Prefeitura, da Unicamp, da PUC-Campinas, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), etc.
Do ponto de vista político, como avaliar a nova composição da Câmara de Campinas? A coligação que apoiou o senhor elegeu 24 dos 33 vereadores, número que pode chegar a 26 se os parlamentares dos partidos que apoiaram o Rafa Zimbaldi (Cidadania) na disputa pela Prefeitura integrarem a base. Isso facilita e lhe dá mais tranquilidade?
O fato dos partidos da coligação ter feito 24 vereadores realmente facilita a interlocução e o diálogo. Mas temos de ter sempre um relacionamento de diálogo e de respeito com o poder legislativo. Então facilita a interlocução com a Câmara, sim.
E em nível regional e nacional. Qual sua análise política? Como enxerga o resultado das eleições municipais deste ano? O fato de não termos nenhuma prefeita mulher eleita na Região Metropolitana de Campinas, por exemplo.
A prefeita de Valinhos estava no cargo, por exemplo. A Capitã Lucimara. E muita gente me fala assim, mas Dário, é fácil ser reeleito estando no cargo. E temos exemplos além do que houve com ela, que perdeu a reeleição. Em Monte Mor, em Piracicaba, que não é da RMC, mas é uma cidade grande e de destaque no interior. O que eu digo é que a máquina pública é um fator, em minha opinião, que ajuda muito. Mas não é o que decide. Se a administração for boa, a máquina ajuda. Se não for, nem com a máquina é possível garantir uma eleição.
O fato da sua eleição e de tantas outras terem sido apoiadas pelo governador. É possível classificar esses resultados como uma vitória do Tarcísio de Freitas?
Posso falar para vocês. Ele se mostrou extremamente habilidoso, paciente. E tem uma inteligência rara. Entende os assuntos com muita facilidade e é um político ponderado. Não age com atropelos. Seguiremos trabalhando junto com ele no segundo mandato. E prevejo coisas boas para Campinas com o apoio do governador.
Quanto ao atual secretariado. Alguma mudança em vista para o segundo mandato?
Nós vamos conversar, discutir isso nas próximas semanas. Preciso me oxigenar um pouco, antes. E preciso descansar um pouco, se não minha cabeça não funciona (risos).
E quais vão ser os principais focos no começo do próximo mandato?
Sei que temos que melhorar. A saúde foi muito impactada na pandemia. Mas nós estamos avançando. Entregamos o Mário Gatinho e faremos o mesmo com o Hospital da Mulher nas próximas semanas. Teremos um centro especializado de exames lá onde era o Opala Hotel Barão. Mas temos de avançar mais. No transporte público, a gente colocou o BRT para rodar, que estava totalmente parado. Terminamos 99% das obras. Falta trocar a frota. A gente sabe disso. Tentei fazer a licitação. Acho que nós exageramos no número de ônibus elétricos. Agora vai ser feita uma nova publicação de um novo edital com menos ônibus elétricos, mas com possibilidade da Prefeitura ceder veículos através de financiamento. Eu queria ter uma frota nova antes, claro que eu queria, mas do jeito que estava sendo formatado, foi inviável.