Dário Saadi admite desistir do PIDS em Barão Geraldo

O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), admitiu publicamente, pela primeira vez, a possibilidade de desistir da criação do Polo de Inovação para o Desenvolvimento Sustentável (PIDS) no distrito de Barão Geraldo. Ao participar de uma reunião com empresários e executivos do setor imobiliário, ele disse que pode abrir mão desse projeto para garantir a aprovação do HUB Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que era a proposta inicial.

A implantação do PIDS depende de aprovação, na Câmara de Campinas, da alteração do zoneamento urbano da área para permitir a ocupação mista residencial, comercial e industrial no segmento de alta tecnologia. A mudança gera polêmica entre moradores de Barão Geraldo, que temem fortes impactos na região, como especulação imobiliária e falta de infraestrutura para atender o adensamento populacional gerado, com reflexos no sistema viário, saúde, educação e meio ambiente.

Saadi considera o megaprojeto de implantação de um polo de tecnologia baseado no desenvolvimento sustentável como um dos principais de seu primeiro mandato por reforçar a vocação de Campinas nas áreas de pesquisa, tecnologia e educação. Porém, considera que a proposta tem que ser construída com apoio da sociedade para evitar embates legais, técnicos e políticos que possam paralisar ou adiar por um longo tempo a implantação.

A apresentação de propostas populares para o PIDS deveria ter sido encerrada em janeiro, mas a prefeitura reiniciou as discussões com os moradores de Barão Geraldo após um grupo questionar os reflexos que provocaria. Isso levou a administração a retomar as reuniões com a comunidade. Sem definir uma data, o prefeito deixa claro que quer encaminhar para a Câmara a proposta de mudanças no zoneamento no segundo semestre deste ano.

“Eles temem os impactos que o PIDS geraria, mas a proposta da prefeitura é mais restritiva do que o atual (zoneamento de Barão Geraldo)”, disse ele aos empresários. “Não temos problemas em discutir, receber sugestões. Mas se não houver um consenso, vamos ficar com o HIDS, que já está consolidado. Pode mudar uma ou outra coisa, mas o cerne está definido”, completou Saadi.

OS PROJETOS

Ele reforçou que o futuro do PIDS dependerá do resultado das discussões com os moradores de Barão Geraldo. O projeto prevê um polo tecnológico em uma área de cerca de 17,8 milhões de metros quadrados e abrange o Ciatec II, um projeto concebido na década de 1970 por Rogério Cezar de Cerqueira Leite, professor emérito do Instituto de Física da Unicamp. Sem qualquer incentivo ou diretriz pública para aquela área, aproximadamente 30 empreendimentos — empresas, institutos de pesquisa e de ensino e incubadoras — se instalaram no local, número muito abaixo do que se considera como potencial da área.

Projeções feitas no início dos anos 2000, quando começaram as discussões sobre o desenvolvimento urbanístico da área, apontaram para se chegar a 300 empresas e gerar 30 mil empregos. No entanto, a proposta não avançou. Em 2014, a Unicamp adquiriu a Fazenda Argentina, anexa ao seu campus em Campinas, e passou a ser a proprietária de uma porção significativa do Ciatec 2.

As discussões sobre a criação de um hub nessa área trouxeram à tona retomada da proposta de efetivação desse polo, agora, envolvendo, além da Unicamp, outras 13 instituições, entre elas, a Prefeitura de Campinas e o Governo do Estado. A área do HIDS da universidade é 11,3 milhões de m² e está inserida dentro do PIDS, representando 63,48% do total. O masterplan (projeto urbano) do hub prevê a geração de 20 mil empregos e ter uma população de 40 mil habitantes.

PROPOSTA

A secretária de Planejamento e Urbanismo de Campinas, Carolina Baracat Lazinho, diz que o zoneamento proposto pela Prefeitura, o PIDS “é inovador” e com mais restrições do que o atual. O Ciatec II tem Zonas de Atividades Econômicas (ZAEs) e Zonas Mistas (ZMs) 1 e 2, o que permite construções verticalizadas de até 12 pavimentos (na ZM 2) e loteamentos fechados com até 650 mil m² entre muros. Além disso, autoriza a edificação em gleba, o que não garante a reserva de área para a instalação de equipamentos públicos.

A proposta da prefeitura é de prédios com no máximo sete pavimentos, evita loteamentos fechados e incentiva áreas de interação dos espaços públicos e privados para a convivência dos moradores, além da criação do Parque Ambiental Anhumas como eixo ambiental estruturador do PIDS, como base de conexão para áreas verdes existentes e corredores ecológicos. “O polo precisa ter um uso misto para permitir o networking de todo esse ecossistema, um ordenamento territorial com espaços para trabalhar, residir, serviços e áreas de lazer”, explica Carolina. Na semana passada, foram encerradas as oficinas de discussão do PIDS com a população de Barão Geraldo. Um dos membros da comissão de moradores do distrito, o cientista político e professor da Unicamp Wagner Romão, disse que, entre as propostas apresentadas à prefeitura, as cinco principais são para estabelecer uma zona de proteção ambiental mais rígida do que o parque, reduzir o adensamento populacional através de criação de áreas onde o limite para as construções seja de dois ou quatro andares, criação de uma área de transição urbano/rural, criação de uma área de habitação popular para famílias de baixa renda e garantia da preservação do patrimônio histórico-cultural existente na região.

O grupo está no momento fazendo a sistematização dos pleitos. “Esperamos que as nossas propostas sejam incorporadas pela prefeitura para aprimorar a minuta do projeto de zoneamento apresentado”, disse Romão. “Nós também não estamos satisfeitos com o zoneamento existente hoje”, acrescentou. A previsão é que a administração apresente um novo esboço da lei na reunião com todas as partes envolvidas marcada para o dia 1º de julho, na Unicamp.

O prefeito considera que a criação do polo tecnológico é essencial e estratégico para o desenvolvimento Campinas. Após visitar este mês o 22@Barcelona, na Espanha, que servirá de referência, Saadi disse que considera que a proposta local tem muitas vantagens. “O projeto deles nasceu do zero, em uma área degradada. O polo de Campinas fica onde estão duas universidades, a Unicamp e a PUC, centros de pesquisas e o Laboratório de Luz Síncrotron”, comparou.

O reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, que integrou a comitiva que visitou a cidade espanhola, também considera que a proposta local tem um ponto de partida melhor. “Primeiro, temos uma área muito maior. Contamos, também, com uma estrutura de inovação já instalada. Por fim, reunimos condições especiais no que se refere ao meio ambiente. Temos muito mais áreas verdes. Isso tudo nos leva a projetar um futuro altamente promissor para o nosso HIDS e para sua capacidade de alinhar inovação, sustentabilidade ambiental e inclusão”, explicou.

O projeto da universidade foi desenvolvido em torno do 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). Eles incluem ações que garantam uma cidade sustentável, proteção do meio ambiente e outras áreas, como saúde, educação, água e saneamento. “Dentro do nosso governo, o HIDS é prioritário. Não há um projeto na área de tecnologia como esse no Brasil. Além de termos a área física, também temos os atores. É uma proposta maravilhosa, fundamental para a cidade, e temos avançado bastante no que concerne à prefeitura”, afirmou Dário Saadi.