Prefeito pretende discutir propostas com os conselhos ainda este ano
O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Dominique Torquato)
A Prefeitura de Campinas trabalha em um plano de integração que pretende envolver diversos conselhos da cidade para colocar em prática a utilização dos prédios do Pátio Ferroviário. A confirmação da ação foi feita pelo prefeito Dário Saadi (Republicanos) durante visita ao presidente-executivo do Correio Popular, Ítalo Hamilton Barioni.
De acordo com Dário, a discussão vai envolver o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), o Conselho Municipal de Política Cultural de Campinas e o Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano (CMDU). A intenção é que a questão avance nas conversas e a proposta esteja pronta até o final deste ano.
O histórico Pátio Ferroviário de Campinas, que foi transferido para o município em julho deste ano, é uma área apontada para receber projetos de interesse público que possam ser implementados, de modo que os munícipes voltem a frequentá-la, promovendo a ocupação demográfica de uma área, que há décadas encontra-se abandonada e degradada. A requalificação do Pátio, associada à reforma da Avenida Campos Sales, será o ponto de partida para a revitalização de todo o Centro histórico da cidade, um ambicioso projeto há muito tempo reivindicado pela população campineira.
Dário também conversou sobre sua chegada em Campinas, seus primeiros anos na cidade e como o jornal Correio Popular, que completa 95 anos hoje, fez parte deste crescimento de militância política.
Como foi o primeiro contato do senhor com o Correio Popular?
Quando eu cheguei em Campinas, em 1982, para fazer a faculdade de medicina, eu já tive contato com o Correio Popular. Para mim, desta época até hoje, sempre foi o jornal de Campinas, o que melhor retrata Campinas. Naquela época, meu foco ainda era variedades, cultura, esportes, quando pude ter contato e conhecer melhor os times da cidade, o roteiro cultural da cidade. Esse foi meu primeiro contato, ainda no começo dos anos 80 como um recém-chegado para fazer a faculdade de medicina.
A gente comprava o jornal, porque na época eu não assinava. Estudante não tem condições de nada. Mas eu morava em prédios, onde tinham vários assinantes e sempre dava pra dar uma olhada. Já no final dos anos 80, junto com minha militância política, eu me interessei e acompanhei a parte política da cidade. Lembro da eleição de 88, se não me engano [VANDERLEI]Simionato e Jacó Bittar e a virada que o Bittar deu naquela eleição. Já na eleição de 92, eu fui candidato a vereador e desde então ele passou a ser o jornal no qual que a gente acompanhava a vida política de Campinas. Para a pessoa escolher o filme no cinema, ela esperava o jornal chegar. Eu sempre fui uma pessoa ansiosa, então assim que acordava, eu pegava o jornal para ver esse tipo de informação como roteiro cultural, atividades das cidades e outras coisas. Hoje é tudo mais rápido e fácil de conseguir. Claro que eu nunca deixei de ler sobre Brasil, cultura, esportes e variedades, mas meu foco passou a ser mais política e até hoje o Correio faz parte da minha trajetória política aqui em Campinas.
Como o jornal influenciou sua militância política?
Na verdade, quando sai da faculdade de medicina, fui fazer residência em urologia no Mário Gatti e na Casa de Saúde e também comecei a trabalhar no pronto-socorro do Mário Gatti. Nessa época, eu liderei alguns movimentos por melhorias da questão de condições de trabalho dos servidores da saúde e comecei a acompanhar política pelo jornal. O Correio também tinha uma cobertura firme nas questões de saúde e eu comecei a ter contato com jornalistas, conhecer mais as pessoas da imprensa. Isso ainda como médico, não como um protagonista político da cidade. Na época, os salários eram muito baixos. Claro que hoje reconhecemos que o salário ainda não é bom, mas na época precisava de muito debate, porque era uma época muito difícil, que passava por uma crise aguda. Era uma época de inflação diária e alta, então tudo isso fazia parte do contexto. A minha vida política começa com tudo isso acontecendo ao mesmo tempo e com a imprensa acompanhando. Depois fui candidato a vereador em 1992, fiquei como primeiro suplente e fui convidado para ser presidente do Mário Gatti e em 1995 assumi a cadeira na Câmara. Fui reeleito mais quatro vezes, presidente da Câmara e por fim fui eleito prefeito.
E como eram as reações dos vereadores na Câmara com as notícias que eram publicadas no Correio Popular?
Olha, o jornal era amado e odiado. E isso faz parte. O papel do jornalismo não é agradar quem é representante ou agradar político. O papel do jornalista é relatar os fatos e o Correio, como faz até hoje, sempre relatou o que está acontecendo. Então muitos vereadores questionavam, outros aplaudiam, e depois eles trocavam de posição. Mas isso faz parte da democracia. Eu mesmo nem sempre fico contente com o que sai, mas a imprensa cumpre seu papel. O que eu tenho que fazer? Tentar explicar, melhorar e corresponder ao que estiver sendo questionado. Hoje mesmo eu avalio que o Correio também tem melhorado nos últimos tempos, com relatos mais o dia a dia de Campinas e região. É uma área que gera notícias em abundância e essa mudança do jornal desde que a nova gestão assumiu em focar nessa lacuna, eu notei que vocês ocuparam e considero isso muito importante.
Como o senhor vê a imprensa junto à população?
O que eu vejo é que das instituições que existem, em época de polarização e de fortes críticas, a imprensa mantém sua credibilidade junto à população. Os leitores de um modo geral enxergam a imprensa como um canal que pode ser sua voz, atender suas reivindicações, suas criticas e etc. Acredito que todo esse mundo moderno de hoje, com rede social e tudo mais, o papel da imprensa que tem tradição e credibilidade se mantém como fundamental. Eu também acho importante que a imprensa de Campinas, com o Correio sendo um exemplo disso, sempre foi crítica. Se você anuncia algo que tem consistência, vai ter destaque. Muitas vezes eu vejo algum secretário anunciar alguma ação sem consistência e realmente não vai ter o destaque esperado. A gente sabe que a imprensa sabe fazer essa leitura com clareza. As críticas temos que entender e melhorar. Não preciso concordar com o teor das notícias, mas não enxergo como uma notícia inimiga. É um alerta para que a gente tenha que mudar a proposta ou melhorar a comunicação. Brigar com a imprensa é como um médico que briga com o termômetro ou com o exame. Se um exame não está bom, eu preciso melhorar o paciente e não ficar brigando com os resultados. Eu faço essa analogia na hora de fazer uma relação com a imprensa.
Como estão seus projetos em relação à revitalização do Centro de Campinas?
O último projeto tem uma faceta importante. Ele dá desconto no IPTU desde uma reforma de fachada até uma reforma completa e que pode chegar em 11 anos de benefício fiscal. É um incentivo para que os imóveis possam ser reformados. Mais do que isso, estamos estudando paralelamente a questão de imóveis novos. Foi colocado por alguns grupos que essa categoria poderia ter incentivos para que sejam feitas novas construções. A primeira discussão colocou essa ideia um pouco de lado e não houve consenso em fazer isso neste momento. O projeto foi colocado em consulta pública por um mês e se houver indicações ou necessidade, nós podemos mudá-lo. A proposta inicial é boa, mas ela pode ser melhorada. E realmente estamos recebendo indicações de uma mudança para dar incentivo para empreendimentos novos, mas neste caso, não tem como dar 11 anos de desconto de IPTU. Pode ser um incentivo mais ponderado. Mas essa ideia também é inicial e não dá para dizer que há um prazo para isso acontecer. O que eu avalio? É um projeto que pela primeira vez Campinas abre mão de IPTU para reformar o Centro. É um passo importante que até então nunca foi discutido. Conseguimos manter a lógica de todo mundo receber incentivos, seja uma loja nova e uma loja que está ali há anos. Seria muito injusto com quem está ali há tanto tempo não dar o mesmo benefício e não tornarmos a concorrência desleal. Eu considero que a lei está excelente do ponto de vista de trazer vida para o Centro. As grandes cidades estão fazendo isso e é pacificado em relação à Justiça. Não temos temor de pessoas de outras regiões da cidade judicializarem a questão para conseguir o mesmo desconto. Todo mundo ocupa o Centro, todo mundo vai para o Centro, não importa a camada social na qual esteja inserido e isso é muito importante também.
E como foi delimitada a área a ser recuperada?
A demarcação foi feira na área mais comprometida atualmente, a área que mais precisa de incentivo. Então foi feita naquele perímetro, mas que é possível a prefeitura suportar o impacto econômico. Se isso puder ser ampliado gradativamente, nós vamos ampliar. Claro que com estudos e com base. O que nos preocupa é o impacto da queda de arrecadação, mas como é um processo gradual, vai ser possível o município absorver. A questão de adesão nós ainda estamos estudando. Legalmente temos a capacidade de dizer que vamos ter queda de arrecadação e que será compensada com a chegada de pessoas, moradores e comércios.
Depois a Câmara vai fazer a discussão dela e o que estamos fazendo não invalida o que estamos fazendo. Até o final de setembro o projeto já vai estar com os vereadores e a expectativa é que vote esse ano. Mas é claro que é o tempo do legislativo e não quero fazer pressão sobre isso.
Quais as próximas novidades em relação ao Centro?
Eu gostaria de entrar o ano de 2023 aplicando a Lei de Incentivo. Eu também quero discutir com Condepacc, Conselho de Cultura e Conselho de Urbanismo um plano de integração do Pátio Ferroviário com a cidade. Ele vai definir as linhas e diretrizes macro internas do pátio e continuar a partir disso estudando o restante em seus detalhes. É definir onde vamos integrar o espaço, o que vai ser utilizado para o que e assim vai. Por exemplo, nós acreditamos que o Galpão do Relógio vai estar disponível para funcionamento a partir do ano que vem. Eu acredito que discutir com estes três conselhos essa integração e continuar a discussão específica de cada uso de toda área é extremamente necessário. Seja o uso de um prédio específico ou de forma geral. Tudo isso vai ser feito com os conselhos e é importante para não parecer que quero chegar com todas as decisões prontas. Podemos falar, por exemplo, quando abrir, como será a circulação, onde vão ter entradas, enfim, um debate nos seus detalhes.
Por que fazer esse plano para o Pátio Ferroviário?
É um espaço imenso que está há décadas abandonado. O meu sonho é que estivesse tudo funcionando de uma hora para outra, mas são prédios antigos, tombados, complexos, alguns degradados e precisam de restauração, mas você pode ter um plano geral e ir começando por etapas. Vamos iniciar a discussão com todos os conselhos e como estes espaços serão utilizados pela cidade. Quero ressaltar novamente que vamos fazer um plano geral e apresentar para os conselhos, mas sim um plano de integração daquele espaço junto com o Centro da cidade. Seria um plano inicial e continuadamente discutir todos os espaços. Também estamos fazendo um inventário fotográfico de todo o espaço, mas ele é muito grande e leva um tempo para finalizar. A ideia é ter o plano de integração que discuta coisas como onde vai ficar a entrada do Galpão do Relógio, onde pode ser um estacionamento, enfim, fazer a questão bem participativa. No início a gente criou alguns mal-entendidos, porque estávamos trabalhando tecnicamente e não explicamos direito a situação e alguns conselheiros achando que queríamos vender a Estação Cultura, que não é nem nunca foi o caso. Eu acredito que esta questão avance ainda até o final deste ano.
Ainda falando em Centro, o projeto da Avenida Campos Sales começa neste ano?
A intervenção da Campos Sales começa este ano, mas sem perfurações nas calçadas. Isso foi feito em entendimento com o comércio, porque fazer isso no final de ano vai atrapalhar as vendas. Por enquanto, vamos fazer adequações de cabeamentos, preparações e etc. A obra pesada fica para o próximo ano. Também gostaria de lembrar que a revitalização da Rua 13 de Maio também está encaminhando bem. Será colocada uma estrutura bonita para colocar os guarda-chuvas. Foi tudo pensando por arquitetos da empresa que ganhou o chamamento público, que aceitou o desafio. Vamos passar o Natal com uma nova cara no Centro da cidade
E sobre as outras regiões, o senhor tem quais projetos?
Nós lançamos entre a região do Aeroporto de Viracopos e Campo Grande um pacote ousado de pavimentação. São 13 bairros que estão contemplados nessa iniciativa. Além disso, há intervenções em outras regiões. Acabamos também de entregar um Ceprocamp enorme no Itajaí, lançamos obras para a mesma unidade no Campo Belo. Estamos cuidando da cidade toda e uns sete ou oito bairros já começaram a ser pavimentados. O BRT deu uma pequena dor de cabeça, porque o consórcio da região final do Ouro Verde e do Vida Nova abandonou as obras. Estamos finalizando um edital para fazer uma nova licitação e finalizar tudo. Na John Boyd já lançamos a ordem de serviço para os viadutos serem feitos e as obras devem começar nos próximos dias. Por fim, temos a licitação do transporte público, que vem sendo questionada desde 2016. Estamos agora em um período de 90 dias de consulta pública, mas o edital foi formatado tecnicamente pela Emdec e por profissionais de outros órgãos. Foi uma força-tarefa imensa e acreditamos que tudo está bem preparado tanto tecnicamente, quanto juridicamente. É uma licitação complexa e que se não houver nenhuma trava judicial, vamos finalizar todo o processo em cerca de quatro meses depois de lançar o edital.