CAMPINAS 248 ANOS

Dário diz que gostaria de presentear Campinas com o fim das desigualdades

Prefeito considera que a cidade tem indicadores econômicos “fantásticos”, mas que parte da população ainda vive em situação de vulnerabilidade social

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
14/07/2022 às 14:32.
Atualizado em 14/07/2022 às 14:32
Ao destacar os 248 anos de Campinas, prefeito Dário Saadi afirma estar plantando as bases para um novo ciclo de desenvolvimento da cidade (Gustavo Tilio)

Ao destacar os 248 anos de Campinas, prefeito Dário Saadi afirma estar plantando as bases para um novo ciclo de desenvolvimento da cidade (Gustavo Tilio)

O prefeito Dário Saadi (Republicanos) prepara para a segunda metade de seu mandato, que começa em 2023, a entrega de um pacote de obras de infraestrutura para a cidade, que inclui pavimentação de bairros e construção de novas creches. É o que ele revela nesta entrevista, na qual fala sobre o aniversário de 248 anos da cidade. Saadi assumiu em 2021, no meio da pandemia de covid-19, e considera que esse período foi de muitos desafios por causa dos problemas enfrentados na área de saúde e aumento da vulnerabilidade social. O prefeito considera, porém, que a cidade também soube se preparar para retomar o desenvolvimento no pós-pandemia. Para isso, aposta no incentivo para a instalação de novas empresas e ampliação das que já estão instaladas no município.

Dário aborda ainda a importância de indutores de crescimento, como a instalação do trem intercidades, a relicitação do Aeroporto Internacional de Viracopos e a ocupação da área do Pátio Ferroviário para promover a revitalização do Centro. Para o prefeito, os projetos para Campinas e a retomada do crescimento econômico do País precisam ser mantidos a despeito de quem vença as eleições de outubro.

O senhor tem uma história ligada a Campinas como vereador, secretário e agora como prefeito. Como vê a cidade, que hoje completa 248 anos?

Eu vejo uma cidade com muitos desafios, mas que se consolida a cada dia com uma das mais importantes do País, uma cidade que é referência na América Latina como ecossistema de inovação e tecnologia, uma cidade que é referência no ensino, na produção do conhecimento e também pelo seu setor de serviços e pelas indústrias.

Qual o principal desafio que Campinas tem que enfrentar?

Eu acho que o principal desafio da cidade é diminuir a sua desigualdade social. É uma cidade que tem indicadores econômicos que são fantásticos, excelentes, mas ainda convive com a desigualdade social e com pessoas em situação de vulnerabilidade. O desafio maior dessa metrópole é reduzir ao máximo a desigualdade social que existe.

Qual o caminho para enfrentar essa situação?

O caminho é o investimento na educação, e nós estamos fazendo isso. Lançamos o Programa Superação, que busca recuperar o tempo perdido na educação durante a pandemia. É aumentar, melhorar o ambiente de negócios para proporcionar a geração de emprego e renda na cidade, como nós já fizemos com o nosso PAES, o Plano de Ativação Econômica e Social. Dentre as suas 20 ações importantes, teve a lei de incentivos e a redução de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), que têm dado resultados. Mas eu acredito que, para que a gente possa atingir esse objetivo, é necessário que o ambiente macroeconômico do País também colabore, principalmente com o controle da inflação e o crescimento da atividade econômica.

O País caminha para uma eleição polarizada em outubro. Independente da reeleição do atual presidente ou da eleição de um novo, na opinião do senhor, como o eleito deve atacar essa questão da inflação e melhorar a macroeconomia?

Eu acredito que o novo presidente ou o atual, se for reeleito, deve dar uma atenção especial à economia do País, principalmente no controle e na redução da inflação e no estímulo ao crescimento do Brasil. A inflação é um fenômeno que tira renda, tira o alimento e tira a qualidade de vida da população mais carente, da população mais vulnerável.

Como a inflação, com essa situação macroeconômica de crise, afeta a Prefeitura? O que dificulta na gestão pública?

Por exemplo, há um aumento do custeio da Prefeitura. A Prefeitura é como uma família, que tem um gasto para a sua manutenção. O custeio das obras fica mais caro, os contratos ficam mais caros, o custo fica maior. A inflação e a situação econômica do País também diminuem o ritmo de criação de empregos. Nós temos criado empregos em Campinas, mas gostaríamos que fosse em um ritmo e em uma quantidade muito maiores.

O senhor elegeu o PAES como um dos principais programas de seu governo. Quais os resultados já colhidos?

Nós temos batido o recorde na liberação de empreendimentos imobiliários, recordes na abertura de empresas em Campinas. Apesar de toda situação macroeconômica do País, a gente tem gerado empregos. O PAES tem como finalidade fazer com que a economia da cidade cresça, com o objetivo final de geração de empregos e renda para a população de Campinas.

Além da geração de empregos e educação, que outros desafios que o senhor vê para Campinas?

Nós temos a saúde e a questão do transporte. Na área da saúde, estamos vivendo os reflexos da pandemia no que diz respeito ao represamento de procedimentos, cirurgias, consultas com especialistas e atendimentos programados. Durante dois anos, a pandemia atrapalhou esses atendimentos e é natural que agora, numa fase de controle da pandemia, ocorra uma sobrecarga do sistema, que já era sobrecarregado e ficou praticamente parado. Durante dois anos, os atendimentos foram quase que somente de covid-19. O desafio na saúde é também recuperar o tempo que foi destinado ao atendimento da pandemia.

E em relação ao transporte?

Em relação ao transporte, o nosso desafio é finalizar as obras que faltam do BRT, fazer a licitação do transporte e implantar um novo sistema nos corredores de ônibus. Isso dentro de uma situação complexa, pois temos uma crise no sistema de transporte público no País todo. Nós temos cidades como Salvador em que as empresas concessionárias de ônibus devolveram o serviço. O preço de óleo diesel bate recordes históricos no País, e fazer uma licitação do transporte em um ambiente desse não é fácil. Nós nunca vivemos, na história recente do País, a situação de ter o óleo diesel acima de R$ 7, mais caro do que a gasolina. Eu participo da Frente Nacional de Prefeitos, e a situação do transporte é dramática em muitas cidades. Eu falo isso porque, em Salvador, a Prefeitura assumiu a operação do sistema transporte porque as empresas simplesmente abandonaram o serviço. Além do óleo diesel altíssimo, nós vivemos ainda um momento de instabilidade na macroeconomia também por conta da eleição, com elevação dos índices inflacionários. É um desafio grande e nós estamos preparados para enfrentá-lo.

Há pressão para reajustar a tarifa de ônibus agora ou por causa da nova licitação?

Na verdade, fizemos o reajuste da tarifa abaixo da inflação (em janeiro passado) e nós não estamos prevendo, não está na programação um novo reajuste com a nova licitação.

Campinas tem um orçamento em torno de R$ 7 bilhões. O valor é alto, mas é suficiente para as necessidades da cidade?

São R$ 7,1 bilhões, a décima receita do País. Em minha opinião, é um orçamento robusto, mas os desafios também são grandes. Estamos falando de uma cidade de quase 1,3 milhão de habitantes, de uma cidade que tem desafios grandes. Comparado com outras cidades, é um orçamento muito robusto, mas comparado com os desafios, com o que a cidade precisa e merece, ainda é um orçamento menor do que o necessário.

O senhor prevê aumento da receita para o ano que vem?

Eu acredito que deve ocorrer um aumento de receita decorrente da inflação. Nós temos uma atualização dos valores de impostos de acordo com os índices inflacionários. Então, há uma previsão de receita por dois motivos: um pela atualização da inflação e o outro pelo crescimento, principalmente do setor imobiliário em Campinas.

De qualquer forma, todo o trabalhador brasileiro sente que a inflação que bate no bolso é diferente, maior do que a inflação oficial. Ele vai ao supermercado e os alimentos sobem muito mais do que o salário. Isso também acontece com a Prefeitura?

Isso também acontece. Por exemplo, nas obras, nós enfrentamos uma situação de inflação maior no reajuste do material de construção, que é maior do que a inflação oficial. Todo mundo que já fez uma reforma recente na sua casa enfrentou isso nos últimos anos. O município, a Prefeitura, como as famílias, também sente isso.

O senhor assumiu a Prefeitura com a pandemia em andamento. Quais as dificuldades que isso trouxe?

A pandemia provocou a sobrecarga no sistema de saúde e aumentou o número de pessoas em situação de vulnerabilidade, aumentou o número de pessoas que chegam a passar fome. Para enfrentar isso, nós fizemos programas de distribuição de alimentos, de transferência de renda, que foram fantásticos. A pandemia também provocou um atraso na educação, uma dificuldade no aprendizado das crianças. Por isso, nós lançamos o Plano Superação, investimos mais de R$ 150 milhões em equipamentos tecnológicos, estamos tentando compensar o tempo perdido no aprendizado durante a pandemia. Eu acho que a postura, a condução e a reação da cidade — quando eu falo a cidade, não falo exclusivamente da Prefeitura — frente à pandemia foram exemplares. Foi durante a pandemia que desenvolvemos o PAES, que preparou a cidade para o futuro, o pós-pandemia. Nós entendemos que a cidade combateu a pandemia, fez a lição de casa e se preparou o desenvolvimento no futuro. Eu falo que o maior patrimônio de Campinas é o seu povo. A sociedade civil soube enfrentar a pandemia e pensou em ações para a retomada da atividade econômica, e isso vem acontecendo. 

O aniversário de 248 anos Campinas ocorre quando o senhor está praticamente na metade de seu mandato. O que esperar nos próximos dois anos?

Os dois primeiros anos foram de preparação, montar projetos como o PAES, que é um conjunto de ações para o desenvolvimento, e fazer projetos na área de infraestrutura. Então, os dois próximos anos serão de entrega. Nós queremos entregar um pacote grande de pavimentação de bairros, que já está em andamento, e também uma programação importante de construção de creches, de escolas infantis.

Há algum outro projeto que está estudando?

Nós temos a consolidação do Pátio Ferroviário. Está muito próximo de Campinas ter a cessão dessa área para que o município possa começar a ocupar 90% desse pátio.

O Pátio Ferroviário é considerado um ponto-chave para a revitalização do Centro. Quando essa área deverá começar a mudar?

Nessa questão do Pátio Ferroviário, eu acredito que ela começe a destravar neste segundo semestre. É uma situação que há décadas não avançava, o único avanço que teve foi a cessão da Estação Cultura para o município de Campinas, o que foi feito na época do prefeito Antônio da Costa Santos. Essa foi a única ação do município naquela área. Se o município conseguir assumir a parte da Vila Industrial que a gente está pedindo, que fica depois da linha férrea, vamos fazer parcerias para que a área possa se desenvolver. São 141 mil metros quadrados que o município pretende assumir e, a partir daí, apresentar projetos de ocupação para os conselhos municipais, como o Condepacc (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas), CMDU (Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano), Conselho de Cultura, e discutir a ocupação dessa área. Tentar buscar parcerias para que aquela área tenha uma destinação diferente, que hoje está abandonada.

Dentro do projeto, como fica a questão do shopping popular, do shopping dos camelôs?

O shopping popular fica na parte de cá, que não foi o objeto dessa cessão. O shopping popular e a Estação Cultura não são objetos dessa cessão, ficam do lado de cá da ferrovia. O entendimento que fizemos com o governo federal foi a cessão da área de lá, do lado da Vila Industrial. A questão do shopping já tem uma cessão do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) que foi feita há quatro anos. O Sindicato da Economia Informal apresentou um projeto ao Condepacc, que sugeriu alterações. Eles estão alterando o projeto para ter aprovação do conselho.

Campinas, como sede da região metropolitana, atrai a demanda de serviços de cidades em volta, principalmente na área de saúde. Quais as dificuldades que isso traz para o município e como a construção do hospital metropolitano pode ajudar a resolver essa questão?

Historicamente, 20% a 25% do total do atendimento em Campinas é para pessoas da região. Isso é histórico, não é no meu governo. Há dois, três meses, na pediatria, esse percentual chegou a 35% do atendimento. É claro que a cidade atende todo mundo, o SUS (Sistema Único de Saúde) é universal. Mas, sem dúvida, sobrecarrega o nosso sistema. Nós entendemos que a construção do hospital metropolitano na Unicamp seria muito importante para ajudar no atendimento regional. Dentro da lógica do sistema, a Unicamp usaria o Hospital das Clínicas para procedimentos de maior complexidade, como transplantes e cirurgias complexas, e o hospital regional seria geral, de média complexidade. 

O senhor acredita na execução do projeto do Trem Intercidades, ligando São Paulo a Campinas e posteriormente a Americana? 

Eu considero um projeto muito importante para a região de Campinas. É um projeto que cria uma alternativa de transporte para a capital. Agora, é um projeto que tem enfrentado dificuldades na sua formatação econômico-financeira. O Trem Intercidades está vinculado ao lote da licitação da linha 7 do Metrô de São Paulo. Segundo os técnicos do Governo do Estado, ele foi adiado por conta de dificuldades de fechamento da equação econômico-financeira. Espero que o Governo do Estado continue trabalhando na viabilidade desse trem porque ele é de extrema importância para a cidade de Campinas, para toda região metropolitana.

Passado esse período de eleição, o próximo pleito é o municipal. O senhor é candidato à reeleição?

Ainda é muito cedo para discutir isso. Estou dedicando 100% do meu tempo, da minha energia à gestão da cidade. É muito cedo para discutir isso.

Além do PAES e da educação que o senhor já falou, há algum outro projeto que o senhor tem para lançar em curto prazo?

A gente deve entregar o Hospital Mário Gattinho, finalizar as adequações, até o final do ano, é um compromisso que eu tenho. Eu vou trabalhar muito na área da educação, para a geração de emprego e renda e na questão da saúde, que é um dos grandes desafios da nossa gestão.

O senhor está encaminhando o projeto do PIDs para a Câmara. Quais são as suas expectativas com ele?

Essa é uma área para a qual, há décadas, a Prefeitura precisava propor um novo zoneamento urbano, que era a chamada área do Ciatec 2. O que nós fizemos foi discutir com todas as universidades, entre elas Unicamp e PUC, com os institutos de pesquisas e com as grandes empresas de tecnologia e conseguimos formatar uma proposta para mudança de zoneamento, que é inovadora, para uma área de 17 milhões de metros quadrados. É o que a gente chama de PIDS, Plano de Inovação e Desenvolvimento Sustentável. Dentro desses 17 milhões, nós temos a proposta, que estamos caminhando junto com a Unicamp e a PUC, que é o HIDS, Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável, que é uma área de 11 milhões e pouco de metros quadrados. Esse é um projeto em que demos um passo muito importante, que foi propor o zoneamento urbano. Agora, junto com todos os integrantes do HIDS, nós vamos discutir as ações de fomento e de formatação de uma governança para essa área, de uma discussão mais detalhada da finalidade e como o poder público, as universidades e instituições de pesquisa podem fazer dessa área uma área de empresas focadas em desenvolvimento sustentável, tecnologia para ações sustentáveis e inovação. Esse é o nosso desafio. O segundo passo é discutir com todos os atores, todos os integrantes do HIDS, esse refinamento da proposta de governança dessa área.

Há poucos dias, o senhor esteve na inauguração do novo píer de Viracopos. Como vê o plano para relicitação do aeroporto?

Viracopos é fundamental para a região metropolitana, para o Estado de São Paulo e para o País. É o maior aeroporto de carga do Brasil. Eu entendo que o processo de relicitação é bem complexo porque envolve o acerto de contas entre a Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária), governo federal e a administração do aeroporto. A Infraero entende que a atual concessionária não cumpriu o cronograma de obras e também, em dado período, parou de pagar a outorga. Já o atual concessionário alega que não pagou a outorga e não entregou todas as obras porque não recebeu a totalidade da área que foi combinada na concessão. Isso está sendo arbitrado. Acho difícil ter um consenso em relação a isso. Mas é importante que, como aconteceu há alguns dias, que as obras continuem em Viracopos, independente se esse processo de relicitação vai acontecer. Viracopos é muito importante para o País e é fundamental como um vetor, um indutor do desenvolvimento de Campinas, do Estado e do Brasil. 

Qual o presente que o senhor gostaria de dar para Campinas?

Eu gostaria de dar para Campinas uma notícia: a desigualdade social acabou em nosso município. Não é um presente que dependa só do município, mas é um presente que eu gostaria de entregar.

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