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Da quadra para a delegacia de polícia

O investigador Sérgio Pacheco acumula 29 anos de serviços prestados à Polícia Civil de Campinas. Passa boa parte dos dias no 10º Distrito Policial

Henrique Hein
17/03/2019 às 10:39.
Atualizado em 04/04/2022 às 22:33

O investigador Sérgio Pacheco acumula 29 anos de serviços prestados à Polícia Civil de Campinas. Passa boa parte dos dias no 10º Distrito Policial (DP), no bairro da Ponte Preta, elucidando casos e enquadrando suspeitos. Porém, o que pouca gente imagina é que ele se consagrou profissionalmente em outra carreira completamente diferente: a de árbitro de basquete, apitando jogos em grandes torneiros nacionais e internacionais, como Mundiais — seis ao todo, para ser mais preciso. Pacheco colecionou incontáveis histórias nas quadras, como quando "peitou" ninguém menos do que Magic Johnson, ex-astro da NBA, e na vida, quando precisou desistir do esporte para vencer um câncer. O ex-árbitro fala com orgulho das conquistas pessoais e da sua relação com o basquete. Ele conta, por exemplo, que começou a apitar ainda cedo, em 1988, em campeonatos de divisões inferiores do Estado de São Paulo, ao mesmo tempo em que cursava a faculdade de Direito. "Sempre gostei de praticar esportes e, quando tinha 20 anos, a Federação Paulista de Basquete abriu um curso de arbitragem em Campinas. Sem muita convicção decidi fazer para ver como era. Comecei como mesário e depois virei árbitro regional", comentou. A história de Pacheco começou a mudar quando a Federação Paulista escolheu Campinas como a cidade-sede dos Jogos Abertos de 1988. "Nesta edição os árbitros internacionais estavam contra a Federação e decidiram boicotar a participação deles na competição. Foi então que acabei entrando na escala de arbitragem", lembrou. Conforme os jogos foram acontecendo, Pacheco foi se destacando.  As boas e seguras atuações fizeram dele o árbitro escolhido para apitar a final do torneio. "Na época a final dos Jogos Abertos era transmitida em vários canais de televisão. O presidente da Federação gostou da minha arbitragem e me mandou apitar a reta final do Campeonato Paulista", relembrou. As boas atuações lhe renderam não só a confiança da Federação Paulista, como também da Confederação Brasileira de Basquete (CBB) e da Federação Internacional de Basquetebol (Fiba), em 1996. "Neste ano a minha carreira de árbitro explodiu, porque saí das divisões inferiores, onde fiquei por oito anos, para ser árbitro nacional e internacional", frisou. Ao longo de toda sua carreira Pacheco colecionou feitos, como apitar seis Copas do Mundo - em duas delas ele foi o arbitro que apitou grande final da competição.  Em 2006, recebeu um convite da NBA para ensinar as regras internacionais do esporte aos astros da liga norte-americana de basquete — a participação dos profissionais em Jogos Olímpicos e Mundiais foi liberada pela Fiba apenas em 1989. "Muitas regras da NBA são diferentes das que são praticadas no restante do mundo. Fui contratado para ficar 50 dias com a seleção deles para ensiná-los", afirmou. "Os Estados Unidos perderam o Mundial de 2004 para a Argentina de forma inesperada e me chamaram porque estavam dispostos a ganhar o próximo Mundial de qualquer jeito", explicou. Pacheco conta ainda que sempre gostou de impor o respeito para não perder o controle do jogo. O porte físico avantajado e os mais de 1,90m de altura o ajudaram neste objetivo. Uma das passagens mais emblemáticas de sua carreira envolveu uma das maiores lendas que o basquetebol mundial de todos os tempos: Magic Johnson, em um amistoso no Ginásio do Ibirapuera. A cena foi registrada por um fotógrafo brasileiro e até hoje é considerada por muitos como uma das imagens mais icônicas do basquete. "Eu me lembro até hoje. Ele havia cometido a terceira falta dele no jogo e reclamou de forma mais veemente contra a minha marcação. Não gostei e peitei ele no meio de todo mundo", contou. Foram mais de 25 anos no basquete Pacheco trabalhou como árbitro de basquete por mais de 25 anos, entre 1988 e 2014. Precisou interromper a carreira ainda em 2010, para fazer uma cirurgia no joelho. Quando estava perto de voltar às quadras, descobriu que tinha câncer. "Fiquei mais três anos afastado e em 2014 decidi me aposentar de vez", relatou. Pacheco entrou trocou de vez as quadras pelas delegacias. Questionado sobre qual teria sido o jogo mais importantes de sua carreira, Pacheco parou, pensou, e respondeu que tudo depende do ponto de vista. "Todos os jogos são importantes, depende muito da relação que você estabelece. Apitar duas finais mundiais foi muito especial, mas também fazer um Vasco e Flamengo, uma final de primeiro turno carioca, com 22 mil pessoas no antigo Maracanãzinho, foi tão importante quanto, uma vez que ambos eram os dois melhores times do Brasil na época e a atmosfera nas arquibancadas naquele jogo era algo surreal", finalizou.

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